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“The Virgin Suicides” compreende a complexa mente adolescente. Existem duas visões: a externa e a interna. De fora, os jovens observam aquelas irmãs como figuras inalcançáveis e angelicais. Em casa, percebemos que as coisas não são bem assim. As cinco garotas são, na verdade, comuns. Nas raras interações sociais que têm, elas ficam nervosas e inseguras. Quando entram na escola, “as virgens” do título são destacadas por Sofia Coppola. Na visão alheia, é uma forma de se distinguirem dos “normais”, para as elas, é apenas uma proteção, o medo de encarar a vastidão sozinhas.

A narração do vizinho as coloca num pedestal – um endeusamento inevitável e indesejado. As irmãs não querem chegar em um local e serem consideradas “mitos” e temem pelas rígidas regras impostas pelos pais, que freiam o desenvolvimento de suas habilidades sociais.

No baile, Mary diz ao seu par que o clima está ótimo, o que denota, simultaneamente, falta de vivência e ingenuidade. As irmãs não são mesquinhas ou fúteis, apreciam o mundano, situações casuais e a natureza. Doces e misteriosas, essas garotas querem amadurecer, mas se veem presas a uma imagem pré-concebida e a amarras fortes preparadas pelos pais.

Por que Cecilia, a caçula, se mata? Ela parece deprimida, se preocupa mais com animais extintos e com a árvore de seu jardim do que consigo. Seu rosto denunciava uma tristeza profunda e seu fim era, infelizmente, esperado.

As outras se mantêm no núcleo, juntas e abraçadas. A falta de socialização, principalmente nessa idade, é danosa. Adolescentes não devem se preocupar com coisas que não podem controlar, no entanto, quando nos fechamos a um mundo rodeado de paredes e um cotidiano repetitivo, no que vamos pensar? As cabeças das irmãs Lisbon não estão no lugar certo, presas a um universo sombrio e onírico – no pior sentido possível.

Os pais, então, decidem abrir a porta, deixar um pouco de ar entrar. Elas não se irritam pelo fato dos garotos as abordarem nos corredores do colégio, pelo contrário, é o receio de se aproximar que as deixam desconfortáveis. Coppola trabalha com olhares e camadas distintas, cria uma aura mágica com certos enquadramentos e o uso de câmera lenta, a presença da natureza e do sol, e a quebra, partindo para a perspectiva “real”, tomada por tons azulados que marcam a trajetória das protagonistas. Em determinado momento, a cineasta opta por freeze frames e cortes em sequência com o plano cada vez mais fechado. Os rostos das moças merecem uma observação especial. Há tristeza e um senso de desesperança ali, mas também uma felicidade inocente, comum à fase em que estão.

Trip é o sonho de consumo de todas as alunas – não faz esforço e sabe do efeito que tem. Isso muda quando, por acaso, ele conhece Lux, que o ignora e o obriga a correr atrás, a sair da zona de conforto. Mais uma vez, Coppola coloca o espectador na perspectiva do garoto, através de planos-detalhe da personagem, de seu nervosismo e de flashforwards do Trip do presente – uma abordagem documental. Ele finalmente a convence e vai a sua casa, que quebra qualquer expectativa de algo extraordinário. Por sinal, é um belo trabalho de direção de arte – arquitetura “reconhecível” e as paredes em tons pastéis caracterizam brilhantemente a família Lisbon.

No baile, as irmãs demonstram uma felicidade genuína, uma sensação libertadora e nova, emulada por Coppola a partir de cortes abruptos e movimentos rápidos de câmera. Lux, a mais ousada do grupo, acaba “passando” do ponto, jogando fora a liberdade conquistada por elas. Na cena em que ela beija Trip pela primeira vez, vemos o impulso feroz de uma jovem curiosa para testar.

A mãe é uma figura nervosa e controladora, cujo afeto é visível. O medo de perder outra filha e o amor materno se misturam com seu conservadorismo. Se a cineasta sempre traz à tona a natureza e o amor das garotas, em especial, pela já mencionada árvore, podemos concluir que elas são demasiadamente sensíveis para o enclausuramento – aos olhos de Coppola, as protagonistas são pássaros que ainda não aprenderam a voar.

O vislumbre do ápice da alegria juvenil é suficientemente poderoso para entendermos o tamanho da dor das irmãs, obrigadas a jogarem fora seus discos de Rock. Nessa cena, podemos ver a fumaça saindo da casa – o inferno que estava prestes a adentrar a vida dos responsáveis.

O pai é meio atabalhoado, não toma nenhuma atitude sem o aval da esposa, mas admite seus erros. Sua tentativa de ser mais liberal e simpático é perfeitamente trabalhada por James Woods, que oferece a melhor performance do filme. Ele é uma pessoa um tanto desinteressante, porém bondosa, que falha tentando acertar.

Não acredito que os pais sejam os culpados máximos pelo trágico desfecho, todavia, poderiam ter antecipado uma situação que estava diante de seus olhos. Como a mãe afirma, não faltava amor na casa, um amor tão forte quanto uma corda no pescoço…

Os dilemas, angústias e dores adolescentes são muito particulares. O suicídio é uma saída “romantizada” para existências consideradas insuportáveis. Será que se elas resistissem, considerariam aquilo tão horrível assim? A única certeza é que a falta de empatia e o esquecimento da esmagadora maioria é detestável, um sinal de descrença na humanidade. Se os suicídios não apresentam motivos óbvios, é porque os jovens não são levados a sério e porque suas mentes funcionam numa rotação que os adultos são incapazes de acompanhar. Tudo parecia normal, mas não estava…

A montagem explora o fascínio dos garotos pelas irmãs através de fusões e spilt screen. Eles aprendem algo sobre a beleza oculta, visível a olhos femininos atentos, em uma bela sequência.

A trilha sonora é suave, confere uma atmosfera repleta de melancolia e incertezas.

Alguns coadjuvantes não são tão bem construídos, somem e aparecem repentinamente, o que não afeta o resultado final. Não conhecemos as irmãs individualmente – apenas superficialmente. Coppola nos apresenta diferentes perspectivas e não se aprofunda nas personagens, pois ninguém as conhece tanto, nem elas mesmas. A imagem da árvore cortada, a casa abandonada e os tons frios sintetizam a obra.

Ficamos com o mistério da adolescência, com a dor do luto e com a imagem mitificada de garotas complexas e simples; inatingíveis e calorosas; tristes e felizes.

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