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Realizado em 1972, “The Last House On The Left” não é um filme de terror que nos deixa na ponta da cadeira temendo por algo sobrenatural. Não existe o prazer do susto aqui, o que vemos é um horror real, presente nas ruas e nos noticiários.

Duas amigas vão a um show. No caminho, perguntam a um sujeito se ele vende alguma droga. Na sequência, já em um quarto, onde fechariam o “negócio”, outras três pessoas se apresentam e destroem a vida das garotas, que são torturadas física e psicologicamente, estupradas e assassinadas. Craven sabe que a personificação do mau está por aí e não alivia para o espectador.

Se as jovens andam pela floresta ensolarada, se aproximam do rio – símbolo de pureza – e depois compram sorvete, os bandidos surgem de ruas escuras, com toques avermelhados. Mal conseguimos ver os rostos dos personagens e já os consideramos sinistros. O quarto da quadrilha é apertado, precário e sujo. Craven fecha o quadro, tornando o espaço ainda mais claustrofóbico e degenerado. O contraste não para por aí, a utilização de músicas pop ratifica a diferença entre os “núcleos”.

A matança ocorre justamente na floresta, salientando a pureza das jovens e a banalidade do ato. O diretor não nos mostra a ação em si, focando no resultado e no rosto de quem a assiste.

O baixo orçamento faz de “The Last House On The Left” um filme cru e real. O sadismo, os rostos satisfeitos e o sangue são mais insuportáveis que o “óbvio”. A violência é banal, as opções de Craven não. Sua abordagem é tão visceral, que entendemos perfeitamente como funciona a mente de assassinos. O mau está em tela e não é escapista ou paranormal.

A câmera na mão, os zooms, os planos-detalhe de mãos ensanguentadas e os planos fechados elevam a atmosfera idealizada pelo cineasta.

Enquanto o horror acontece, os pais de uma das vítimas preparam uma festa para ela e se divertem. Craven explora ao máximo o contraste entre facetas opostas dos seres humanos e se sai muito bem.

No último ato, o filme vira um misto de “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick, e “The Virgin Spring”, de Ingmar Bergman. A quadrilha vai atrás de um lugar para dormir e pede abrigo logo na casa dos pais da moça.

A hospitalidade se transforma em ódio quando a mãe descobre, graças a uma sutileza estabelecida por Craven, o que os “convidados” fizeram. Eles se vingam e o diretor, novamente, trata a brutalidade da forma mais crua e direta. A câmera trêmula e os cortes traduzem o sentimento dos personagens. Os tons azulados e acinzentados, somados ao sangue nas camisas ressaltam que, apesar da vingança ter sido concluída, ela não lhes dá nenhum tipo de satisfação. A dor segue intacta. Assim como fez em outros filmes, Craven prova que a maldade traz à tona o lado impiedoso inato a todos os seres humanos.

O desfecho abrupto é apropriado, conversa com o pessimismo da obra.

A inclusão de uma dupla de policiais atrapalhados até poderia servir de crítica ao sistema e a lei, que torna a vida dos criminosos demasiadamente fácil, no entanto, além de não convencerem no papel de autoridades, eles parecem comediantes.

A menção a frases da contracultura – “Love Generation”-, o fato das garotas serem hippies e as próprias músicas escolhidas possibilitam uma outra leitura, mais restritiva: o fim da geração “paz e amor” e o início do caos nos Estados Unidos.

Nenhum ator se destaca, o elenco é coeso e imprime um naturalismo elogiável.

“The Last House On The Left” não é um filme fácil, mas é necessário. Em sua estreia, Wes Craven se mostrou bastante corajoso.

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