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Lisa está prestes a voltar para casa. Seu voo noturno foi adiado devido às tempestades e ela acaba esbarrando em Jack, um sujeito gentil, charmoso e forte. Por acaso, os dois se sentam lado a lado no avião e dividem intimidades. A princípio, “Red Eye” parece uma comédia romântica óbvia e besta, no entanto, este é apenas um truque de Jack, que paga um drinque para a moça e a conforta no momento de turbulência. Tudo foi armado, desde a primeira interação até os lugares marcados. Ele é um terrorista e precisa garantir que Charles Keefe, atual vice-secretário de Segurança Interna dos Estados Unidos, esteja no quarto com a melhor vista para que seus colegas consigam executá-lo. Lisa é a única que pode fazer tamanha alteração sem que soe estranho, afinal, tem um cargo importante no hotel. Para piorar: o capanga de Jack está na porta da casa do pai da protagonista, esperando por um sinal.

Antes de decolarem e as máscaras caírem, Craven realiza um travelling que expõe a sandice que é um avião, deixando nítido que “terceiros” influenciarão na trama. O plano-detalhe do cinto é um aviso: não há para onde fugir. A escolha do local para desenvolver a história é perfeita. Craven fica limitado em relação a movimentos de câmera, mas trabalha muito bem o ritmo e a atmosfera da obra. Através de close ups, o cineasta explora a tensão crescente, que se deve muito à qualidade dos diálogos e das interpretações.

Cillian Murphy vai de um homem simpático e agradável para uma ameaça cuja retórica infalível e expressão facial sisuda são mais do que convincentes. O ator estabelece uma dinâmica impecável entre o sedutor e o psicopata, mudando de personalidade numa fração de segundos para que ninguém perceba o que está acontecendo. Sua resistência e imponência física também merecem elogios. Jack não é um antagonista fácil de se derrubar.

Rachel McAdams, em contrapartida, interpreta uma personagem sincera, que se interessa pelo terrorista e por qualquer um que lhe reserve um pouco de atenção. Competente e frenética em seu emprego, Lisa é uma mulher solitária e traumatizada, que precisa encontrar forças para escapar dessa armadilha. Gradativamente, a protagonista adquire controle e passa a raciocinar friamente, bagunçando o jogo de Jack.

A dinâmica entre os personagens confere uma intensidade enorme ao filme, que se passa, majoritariamente, em um ambiente pequeno. No auge do pânico, Lisa se tranca no banheiro e Craven usa um plongée para salientar a conotação carcerária dada ao avião. No fundo, fora de foco, está Jack, como um fantasma que não a abandonará até que a ligação seja feita. Contratempos elevam a atmosfera do filme e os nervos do espectador. São esses curtos períodos que dão à protagonista a oportunidade de reagir. Craven controla o tempo magistralmente, criando um certo respiro em meio a cenas íntimas e eletrizantes. A direção de arte escolhe determinados objetos para cumprirem papéis importantes na trama – uma caneta e um livro, por exemplo – e o cineasta os enfatiza variadas vezes, o que talvez irrite alguns espectadores. Por mais redundante que seja, destacando inclusive coadjuvantes que terão um momento de “brilho”, Craven nunca passa do ponto e mantém o suspense irretocável. A montagem e a trilha sonora cumprem suas funções, conversando com a proposta do diretor. Ações paralelas e planos-detalhe sofisticam a tensão, que não se baseia em truques repetidos.

Fora do avião, o filme se transforma em uma longa sequência de ação. Por mais distantes que estejam, Lisa e Jack ficarão frente a frente e o terreno é precisamente construído. Combinando panorâmicas, travelling e posicionando meticulosamente seus atores dentro do quadro, Craven termina o seu filme com uma excelente e violenta perseguição. Há algo além do suspense? A firmeza de Lisa em sua última frase prova que sim.

“Red Eye” é uma pequena e eficiente pérola de um grande cineasta.

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