Skip to main content

“A Hora Do Pesadelo” continua tendo uma das premissas mais originais e brilhantes da história do cinema. Enquanto seus “primos slashers” – “Halloween”, “O Massacre Da Serra Elétrica” e “Sexta-Feira 13” – tinham como monstros seres relativamente parecidos, que impressionam pelo tamanho e por não mostrarem seus rostos, Wes Craven foi na contramão, criando um vilão carismático e sádico, oriundo do inconsciente humano. Você pode sair de um pântano ou de uma cidade abandonada, parar de sonhar é impossível. Freddy Krueger não é fisicamente imponente, mas atua em um terreno imaginário, onde quem dita as regras é ele. Os jovens não têm escapatória, seus quartos representam a iminência da morte e a luta contra o sono é inútil.

A espetacular maquiagem é responsável por transformar Krueger na figura mais asquerosa e horripilante possível. As garras e o figurino, composto por um chapéu e pela camisa listrada, complementam seu design. Robert Englund foi o encarregado de dar vida ao “capeta” e sempre que surge, parece estar se divertindo imensamente. Seu carisma é inigualável, uma das principais marcas de Krueger, que tortura as vítimas com sua retórica meticulosamente pensada.

Craven sabe que a imagem do vilão é poderosa e não o mostra inteiramente logo de cara, investindo em planos-detalhe de seus olhos e garras, contando também com a competente fotografia, que utiliza a contraluz e as sombras para escondê-lo. A direção de arte trabalha com contrastes, compreende a lógica particular dos pesadelos, indo de um universo naturalista ao idealizado por Krueger, concebido como se fosse o inferno, tomado pelo fogo, pelo vermelho e pela escuridão. Os efeitos práticos envelheceram muitíssimo bem. Fred tentando atravessar a parede, a garota voando pelo quarto e o banho de sangue são exemplos do brilhantismo da equipe. A trilha sonora e o design de som, apesar de datados, são bastante eficientes, misturando tensão e estilo.

“A Hora Do Pesadelo” é um produto de seu tempo, o filme respira a década de oitenta.

O roteiro de Craven merece elogios por não se esquecer dos demais personagens. Caso fossem “descartáveis”, poderíamos inclusive torcer por Krueger. Se engana quem pensa que ele é o protagonista, esse papel é de Nancy, brilhantemente interpretada por Heather Langenkamp. A princípio, uma jovem pura e doce, ela, gradativamente, enlouquece e se fragiliza, sendo obrigada, no fim, a encontrar forças para derrotar o mau. Uma das heroínas mais celebradas da sétima arte, Nancy atravessa um arco extenso, repleto de perdas, descobertas, medo e coragem. A aparência deteriorada, pontuada pela presença de olheiras e fios grisalhos de cabelo e a fotografia, que abusa de tons azulados para tornar tudo, inclusive a residência da protagonista, apagado e desesperançoso, engrandecem sua trajetória.

Johnny Depp, ainda jovem, já demonstrava talento e carisma.

O ceticismo dos adultos cumpre a função de frear os jovens e de dar espaço para a sanguinolência de Krueger.

Craven utiliza travellings calmos para acompanhar os personagens em suas tortuosas caminhadas e muda a abordagem quando as coisas ficam estranhas, partindo para movimentos de câmera mais descontrolados. Juntamente com a montagem, o cineasta dilata o tempo, aumentando o suspense e na luta final usa um recurso chamado Rack Focus – muda abruptamente o que está em foco – para potencializar a atmosfera. As transições do mundo dos sonhos para o real não são nada suaves, um dos pontos altos do horror na trama. Craven não alivia, algumas imagens elaboradas são extremamente perturbadoras.

Não tenho dúvidas de que ele gostaria de terminar a obra sem os últimos cinco minutos. No entanto, os produtores, vislumbrando a possibilidade de sequências, provavelmente exigiram que Craven as tornassem possíveis. O filme não perde em nada, a última cena é a mais macabra e impactante. As garotinhas de branco pulando corda em câmera lenta e cantando a famosa “cantiga” de Krueger podem gerar uma certa insônia no espectador.

Na crítica de “O Exorcista”, afirmei que aquele era o melhor filme de terror da história do cinema. “A Hora Do Pesadelo” é, sem dúvida alguma, o mais divertido e prazeroso de se assistir.

O que você achou deste conteúdo?

Média da classificação / 5. Número de votos:

Nenhum voto até agora. Seja o primeiro a avaliar!