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Eu me lembro perfeitamente do dia em que assisti ao filme “Paris, Je T`Aime”, composto por dezoito histórias – dirigidas por diretores talentosíssimos – que se passam na capital francesa.

O conjunto em si, é um tanto cansativo, nem todos os fragmentos são marcantes. Próximo do fim, me deparei com uma “pequena maravilha”, a qual revejo sempre que posso.

“True” é o primeiro curta-metragem analisado no site e acredito que guardei essa “estreia” para o momento certo.

Thomas, um jovem cego, recebe uma ligação de Francine, sua namorada, que, logo de cara, diz que a vida pede mudanças, uma transição. “Nosso amor adormeceu”.

Surpreendido e impactado, ele desliga o telefone e relembra o seu relacionamento, do início ao fim.

Através de flashbacks, acompanhamos essa “jornada”, que, por mais curta que seja, não deixa de ser intensa e reflexiva. Após um encontro inusitado em um ensaio de Francine, o casal se muda para Paris, onde dividem intimidades, desejos, músicas, presentes e beijos. O abraço na estação de trem simboliza o afeto mútuo, o despertar de uma paixão. “Tudo parecia tão fácil. Tão livre, novo e único”.

Ciente de sua limitação de tempo, Tom Tykwer usa a repetição como um elemento narrativo primordial. Thomas narra as mesmas situações, que, com o tempo, se tornaram desgastantes. Na mesma estação de trem, os corpos se separam, a ponto de desaparecerem. Os gritos de Francine, que o animavam – fizessem eles sentido ou não -, passaram a ser apenas gritos. As idas ao cinema perderam o sentido e os exames, a princípio, deixados de lado, ocuparam sua mente por inteiro.

“O tempo passou sem razão”.

Em seis minutos Tykwer apresenta o amor em seu êxtase e decadência; a felicidade e a solidão. A simplicidade pode ser bela e cansativa. Alguns romances são como as estações do ano – transitórios.

Se eles iam ao cinema, no fim, Thomas usa o singular e, ironicamente, a assiste em tela.

A montagem encapsula brilhantemente essa sensação. Vamos de um extremo ao outro em pouquíssimos minutos. Além de ágeis, os cortes expõem a mudança de perspectiva – repetição e nova conotação.

O mesmo pode ser dito sobre o uso de time lapse – o relacionamento corre entre os dedos dos personagens.

O travelling de Tykwer em direção ao rosto de Thomas indica que algo importante está prestes a acontecer. A profundidade de campo diminui drasticamente, ressaltando que, inesperadamente, ele se vê diante da situação que tanto temia e tudo o que precisamos ver é o seu rosto.

“True” já seria brilhante se limitasse sua discussão ao fim de um relacionamento. No entanto, nos segundos finais Tykwer puxa o tapete e muda a perspectiva da história. Não direi o que acontece, apenas que nossas mentes podem pregar peças e montar cenários imaginários, passíveis de torturas emocionais, arrependimentos precoces e reflexões exageradas.

A ironia do cineasta é um verdadeiro tapa na cara – pode ser visto de maneira otimista ou pessimista.

Melchior Beslon é bastante expressivo e narra a trajetória com uma honestidade palpável.

Natalie Portman foi a escolha perfeita para o papel, simplesmente por ser a atriz mais encantadora de sua geração.

Em sete minutos, “True” triunfa lindamente.

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