A Profecia é um clássico do gênero, um filme cuja condução é extremamente efetiva e que nos leva, gradativamente, a entender que o único “final feliz” depende da morte de uma criança.
Não é algo simples de se fazer, ainda mais quando o diretor opta por começar o filme com uma colagem de fotos dos pais com o filho – o retrato máximo da família perfeita. Kathy e Robert passeiam por paisagens belíssimas e se desesperam ao, de repente, não localizarem o pequeno Damien. Que alívio, ele estava apenas escondido atrás de uma árvore.
Kathy perdeu seu bebê no parto e Robert, sabendo do desejo da esposa, adotou um órfão como substituto. Damien é a luz que ilumina a mansão dos Thorn, a razão pela felicidade contagiante de Kathy.
As coisas começam a ficar esquisitas no aniversário da criança, quando a babá se suicida. Nota-se também a presença de um cachorro mal-encarado – recorrente durante o filme e essencial para compreender a real natureza de Damien.
Há um Padre que sabe de algo tenebroso e quer conversar com Robert, que é um político importante. O outro coadjuvante é um fotógrafo que tira fotos premonitórias, contendo, bem no fundo das suas imagens informações visuais sobre como e onde determinados personagens vão morrer. E há também uma babá misteriosa, cujo passado é desconhecido.
Kathy e Robert levam Damien a um casamento e o garotinho começa a gritar e espernear ao se aproximar da igreja. São detalhes assim que ajudam a montar o quebra cabeça e a provar que Damien é uma presença maligna.
Após avisar para Robert sobre a verdadeira natureza de seu filho, O Padre tem um final infeliz e perturbador. O fotógrafo já suspeitava, afinal, uma de suas fotos sugeria a sombra de uma viga no pescoço do coitado. E em outra de suas fotografias, há a desconcertante imagem de sua própria cabeça cortada.
No zoológico, os animais fogem de Damien. Kathy percebe algo esquisito e passa a ter medo do próprio filho, que a ataca em uma das cenas mais tensas do filme. Ela não morre, mas perde o outro bebê que esperava e se lesiona gravemente.
“The Omen” é claramente um filme de terror, contudo, também é um drama pesado sobre pais que sonhavam com uma família, um lindo bebê e, repentinamente, se veem diante do desconhecido e na iminência de um trágico destino. A alegria de Kathy é sugada por um pavor tão palpável que chega a doer. Em contrapartida, Robert tenta manter o equilíbrio, entender o que se passa com Damien e resolver a situação. Eles ainda o amam? Ou o medo passou a frente? Esse arco é bem explorado e nada fácil de se definir, pelo menos não para Robert, que precisa de evidências para admitir o que o Padre lhe disse e o que as imagens do fotógrafo expõem.
O espectador, sem nenhum tipo de laço afetivo com Damien, percebe que seus olhos são expressivos demais para uma criança de cinco anos, que aquela mulher ao lado não é apenas uma babá e que o cachorro é muito mais do que um cão de guarda.
As provas se tornam cada vez mais concretas. Damien nasceu no dia seis de junho, às seis da manhã – 666, a santíssima trindade diabólica. Além disso, Robert descobre que o hospital em que ele nasceu pegou fogo exatamente no ano de sua natividade e que o Padre responsável pela adoção de Damien vive em estado catatônico, pagando penitência por ter abandonado Deus em um momento de fraqueza.
A serenidade e tranquilidade de Robert se transformam, gradativamente, em medo e desespero. Em um cemitério, o protagonista encontra seu verdadeiro filho, morto, constatando que Damien era, na verdade, o anticristo e que a sua entrega, em adoção, visava a cumprir a profecia, pela qual, o filho do Diabo surgiria do mundo da política, a partir de onde dominaria o universo.
Robert dissipa qualquer dúvida e apego por Damien quando descobre que sua mulher foi arremessada da janela do hospital. O protagonista não tinha outra opção a não ser matar o garotinho, não só para evitar o apocalipse, mas também por vingança.
No fim, a criança não representava a união e o início de uma família, sendo, ao contrário, o agente da destruição de tudo aquilo que era sagrado e intocável – o amor entre Robert e Kathy.
Os últimos minutos são incríveis e provam que Richard Donner é um diretor coerente, que adota uma certa linguagem e não a abandona, apenas a potencializa nos momentos mais impactantes.
A direção de arte é discreta, o que é um elogio, já que ela aparece de forma mais acintosa apenas quando é necessário. As portas do quarto de Damien são pretas e a lareira está sempre acesa – o fogo do inferno. O cemitério visitado por Robert e a cidade de Megiddo são particularmente bizarras, graças aos cenários muito bem construídos e à falta de cores vivas.
A fotografia segue um padrão interessante, indo de uma forte iluminação no início para a escuridão absoluta no desfecho. A transição é lenta e ocorre nas situações mais oportunas.
Donner tinha algo muito claro em sua mente quando idealizou este filme. Quatro elementos fundamentais: planos fechadíssimos, mortes memoráveis, uma montagem dinâmica e uma trilha sonora diabólica, que não tem pudor algum em invadir e tomar conta das cenas.
Dessa forma, ele constrói tensão, sugestão e eleva o arco do protagonista. Há uma série de momentos arrepiantes e todos seguem esse mesmo padrão, o que poderia ser ruim, caso o diretor e sua equipe não fossem talentosos. Os cachorros também potencializam o horror, com seus latidos e rosnadas.
O silêncio, por sua vez, se torna um elemento importante na parte final do filme, criando uma atmosfera de incerteza e preparando o terreno para o último estrondo. A falta de som também pode ser vista como uma extensão da mente de Robert, que, após tantas dúvidas, adquire a certeza do que deve fazer.
Gregory Peck é uma lenda do cinema norte-americano. Sua interpretação faz jus à sua reputação. Seu arco é complexo e exige que o ator flutue entre extremos, indo do pai amoroso a um homem emocionalmente destroçado.
Mesmo com pouco tempo de tela, o pequeno Harvey Stephens oferece uma performance arrepiante, calcada, basicamente, nas expressões faciais.
“The Omen” talvez não seja um “O Exorcista”, mas é um grande filme que merece a sua fama.
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