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O primeiro chinês a ganhar o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes não poderia ser outro. 

Wong Kar-wai não é o tipo de gênio que acerta sempre. Sua filmografia está longe de ser perfeita, no entanto, ele dirigiu pelo menos cinco obras primas que marcaram as décadas de 90 e 2000. 

Alguns termos se tornam banais na medida em que os usamos demasiadamente – algo comum entre os críticos. Contudo, não há como negar que Kar-wai é um poeta, um cineasta dotado de um raro talento para criar quadros estonteantes. O uso recorrente do Step Printing – artifício minuciosamente explicado nas críticas da semana – dá aos seus filmes um visual inconfundível, melancólico e cool. 

Como um bom poeta, o amor não poderia deixar de ser o mote de suas obras e a sua interpretação sobre esse “sentimento” conversa diretamente com a minha. 

Kar-wai não acredita em romances por dois motivos que rondam os seus melhores filmes: falta de reciprocidade e de timing. 

Desejos e idealizações existem e fazem os seus personagens se moverem em direção a algo que nunca aparece. O ápice, o amor em seu estado pleno está num milésimo de segundo ou em pouco minutos de conforto. Seus filmes são preenchidos por um enorme vazio, seja lá qual for o seu protagonista – um policial, um matador de aluguel ou um jornalista. 

Nesse sentido, é interessante notar que o verde e o vermelho são as suas cores favoritas. O contraste é estético e temático. Enquanto a primeira cor representa a melancolia e a solidão, a segunda simboliza a paixão, um desejo intenso. 

Outro aspecto fundamental em sua carreira é a trilha sonora. Partindo dos conceitos de repetição e diferença, Kar-wai cria significados distintos utilizando as mesmas canções. “California Dreamin” – “Chungking Express – e “Yumeji’s Theme – “In The Mood For Love” – são os melhores exemplos da importância de músicas em sua obras. 

Não há como negar que observar, através das lentes de Kar-wai, almas solitárias vagando sem rumo, é algo especialmente belo e fascinante. Entretanto, se engana quem pensa que seu foco é apenas estético. Muito pelo contrário, seus filmes não seriam maravilhosos se suas ideias não fossem genuínas. O amor é, de fato, para a maioria, algo sofrido e Kar-wai não está interessado em analisar os “sortudos”. 

Além das duas obras já citadas, destaco a importância de “Fallen Angels”, “2046” e “Happy Together” para o cinema contemporâneo. Não tenho a menor dúvida de que Wong Kar-wai é um dos diretores mais influentes da atualidade, não á toa, cineastas como Martin Scorsese e Quentin Tarantino já o elogiaram profundamente. 

Gostaria também de ressaltar o valor de “In The Mood For Love”, possivelmente o filme mais belo realizado do ano 2000 em diante e que rendeu uma continuação igualmente sensacional. 

Um autor, um poeta que entende a dor alheia e a transforma na arte mais refinada possível. Este é Wong Kar-wai.

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