“TÁR” é um estudo de personagem formidável. Um filme que entende a essência e as diferenças entre o artista e o ser humano.
Pouquíssimas pessoas fazem parte do seleto grupo chamado EGOT – vencedores dos prêmios Emmy, Grammy, Oscar e Tony – e Lydia Tár pode se considerar uma afortunada. O filme começa com uma entrevista que prova que ser alçado à condição de gênio é uma maldição.
A protagonista sabe disso e mantém uma postura extremamente profissional, racional e segura em todos os encontros, reuniões e almoços. Tár é sinônimo de perfeccionismo e a regente da filarmônica de Berlim mede cada reação, gesto e palavra. Suas aulas e ensaios provam o seu brilhantismo, misturando firmeza, delicadeza, intelectualidade e cultura em curtos espaços. Vê-la em cena é um prazer, é absolutamente fascinante e o seu entendimento sobre o poder da música me comoveu bastante. “É o que você sente quando escuta”. As notas refletem pedaços da alma do artista e ter que reinventar sinfonias como a quinta de Mahler não é uma tarefa simples. Você deve mergulhar nas profundezas de seu inconsciente, medir o tempo, sentir o espaço e o som de cada instrumento, que deve acompanhar o coração dos músicos.
Em determinada cena, um aluno diz que não gosta de Bach por suas condutas e controvérsias. Tár responde que um regente não pode ser tão narcisista e suscetível. Seu trabalho é decifrar o que se passa na mente do compositor, o que requer muita paixão, personalidade e desprendimento.
Não é sobre julgar uma pessoa, mas sobre compreender sua magnitude e inevitabilidade. O regente precisa, simultaneamente, se obliterar e estar presente. Não é nada fácil, assim como lidar com o status de gênio, que, além de catapultar sua carreira, muda a sua perspectiva em relação à vida e aos seres humanos que o circundam.
Tár é possivelmente a melhor no que faz, mas qual é o preço que se deve pagar para chegar a esse lugar?