Out Of Time

Apesar de alguns tropeços, não posso negar que “Out Of Time” foi uma grande surpresa, um filme que sabe exatamente o que é e funciona perfeitamente dentro dessa linha.

Matthias Whtilock é um policial exemplar. Ele é perfeccionista e durão, mas tem um coração mole, então decide pegar o dinheiro apreendido de um traficante de drogas para pagar o tratamento de sua “amante”, diagnosticada com câncer em estágio avançado. O roteiro prega peças no espectador. Os primeiros trinta minutos apresentam um triângulo amoroso e a história caminha para um romance sobre superação.

A situação muda quando Ann e seu marido abusivo morrem em um incêndio. Tendo roubado dinheiro para ela e sendo o beneficiário do seguro de Ann, Whitlock se vê em uma posição de total desespero e precisa fazer de tudo para limpar o seu nome.

Spoiler Alert!

Na verdade, ninguém havia morrido e tudo se tratava de um plano para conseguir o tal dinheiro apreendido.

Pode parecer que eu tenha estragado a experiência de quem está lendo esse texto, mas a verdade é que nada disso importa. As reviravoltas não são lá tão originais, o que faz de “Out Of Time” um grande filme é a direção de Carl Franklin – responsável pelo excelente “Devil In A Blue Dress – e a atuação de Denzel Washington.

O protagonista não mede esforços para realizar fantasias sexuais e contar piadas. Ele é um exemplo a ser seguido e vive uma vida amorosamente confusa, porém tranquila. Repentinamente, Whitlock se vê obrigado a adulterar um fax, desligar o seu celular, evitar certas pessoas e correr – muito por sinal.

É a história de um homem em uma situação extrema e como ele se desvencilha dela.

Denzel Washington utiliza todo o seu carisma para que o espectador se importe genuinamente com a vida do protagonista. O primeiro ato é praticamente um veículo para o ator destilar todo o seu charme. Sim, a primeira cena é espetacular, existe uma tensão palpável entre Whitlock e o marido de Ann e há alguns momentos engraçados, contudo, é a partir do segundo ato que as coisas esquentam, o filme mostra a sua verdadeira face e Carl Franklin prova que é um diretor subvalorizado.

Seus travellings elegantes e movimentações de câmera inesperadas são ainda mais presentes aqui. Os close ups são recorrentes e fundamentais para salientar a situação delicada em que o protagonista se encontra. O encurralamento chega a tal nível que o diretor é obrigado a usar planos-detalhe para ressaltar o sentimento de claustrofobia. A montagem segue a mesma proposta, os cortes são tão frenéticos quanto a trajetória de Whitlock e elevam, por exemplo, a sequência no hotel.

As cenas de ação são bem coreografadas. Em uma delas, o protagonista fica pendurado num parapeito.

Carl Franklin estabelece uma dinâmica de planos coerente e nítida, que dá ritmo e vitalidade ao filme, que, apesar de deslizes em seu roteiro, nunca perde o fôlego.

“Out Of Time” não é perfeito e não será lembrado por sua trama, mas pelos incontáveis momentos de pura tensão. Existem pelos menos umas cinco cenas em que só conseguia reagir dizendo palavrões e isso se deve ao trabalho de um diretor competente e de um ator acostumado a elevar materiais.

O desespero está nos olhos de Denzel, na sua fala acelerada e na sua expressão de temor. No final, ele ainda nos surpreende com excelentes tiradas cômicas.

Eva Mendes não chega aos pés de seu parceiro, entretanto, a química entre os dois é inegável e o romance mal resolvido, felizmente, é algo positivo, que serve para quebrar o tom em momentos oportunos.

Esse tipo de filme normalmente se passa em metrópoles, nas quais as pessoas usam ternos e é, no mínimo interessante a escolha de Franklin por uma pequena cidade, onde as pessoas deixam as portas de suas casas abertas e usam camisas floridas e bermudas. A fotografia enaltece o calor da Flórida, afinal, o clima combina com o fervor da situação em que o protagonista se encontra.

O final é bem óbvio, mas aceitável na medida em que admitimos que Denzel Washington é um dos atores mais simpáticos de todos os tempos.

“Out Of Time” é entretenimento de alto nível.