Em tempos de pandemia, “Kimi” é um filme relevante, que trata a saúde mental com inteligência e ainda cria um suspense instigante.
Angela não consegue ir para a rua. Ela recebe chamadas e convites, mas sempre os recusa. Ao longo da trama, o roteiro cria situações específicas que enfatizam a incapacidade de ação da protagonista, que se vê aprisionada a uma fobia.
Soderbergh compõe o ambiente e a atmosfera com várias sutilezas, como a quantidade excessiva de remédios na estante do banheiro, a casa cuja única iluminação vem do lado de fora e a montagem acelerada nos momentos em que Angela ameaça sair. A protagonista está sempre na sombra, ela se acostumou com a escuridão e sente um mix de medo e saudade quando se debruça na janela.
Vale ressaltar também, que a casa é toda tecnológica e claramente foi preparada por alguém que não estava disposto a sair.
Zoë Kravitz surge como uma figura cansada e angustiada, que, obviamente não gostaria de estar naquela situação, porém não encontra outra alternativa. A rispidez em sua fala, assim como sua corporalidade, também são elementos importantes na caracterização da personagem.
Há um clima meio “Janela Indiscreta” aqui, as pessoas se observam e tentam captar algo. São olhares que denotam uma certa solidão, principalmente daqueles que não deixaram suas casas.
Angela trabalha ouvindo gravações de uma assistente artificial, chamada Kimi. Em um determinado dia, ela escuta alguns gritos e acredita que possa ser uma agressão sexual. Posteriormente, a protagonista descobre que se trata de um homicídio e decide entrar em contato com seus superiores.
Além da questão pandêmica, o roteiro faz de Angela uma vítima de estupro, o que potencializa ainda mais a sua insegurança perante as pessoas. Um áudio simples e óbvio, acaba se tornando um caso de corrupção dentro da empresa de inteligência artificial. Um dos líderes era o responsável pelo homicídio e Angela, que estava apenas cumprindo o seu papel, se torna o alvo de um grupo de espiões.
Soderbergh mostra todo o seu talento nas cenas de perseguição. Ele utiliza a ansiedade de Angela para potencializar o suspense. A protagonista fica exausta, ninguém que cruza o seu caminho é realmente o que parece. O diretor ainda merece todos os créditos por conseguir nos surpreender. Quando achamos que Angela foi capturada, um elemento específico aparece e a tira dali e quando relaxamos, um personagem periférico interfere diretamente na trama, com um simples movimento.
A sequência final foge um pouco do tom e mesmo assim tem confrontos interessantes.
No fim, Angela consegue sair de casa, sua mudança pode ser evidenciada na cor do cabelo. Anteriormente azul, que remetia a segurança e agora rosa, que remete ao romance com o vizinho.
“Kimi” é mais um experimento na carreira de Steven Soderbergh. Um filme capaz de aliar temas atualíssimos, através de uma trama simples e bem desenvolvida.
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