Black Christmas

Não tenho certeza se “Black Christmas” é o tipo de filme que as pessoas querem assistir durante o Natal. A música inicial – uma versão sombria de “Noite Feliz”- nos antecipa que a jornada será enervante.

Em uma fraternidade de jovens mulheres, no período natalino, um sujeito se aloca em um cômodo “esquecido” e passa a matar uma por uma, sem que as sobreviventes percebam o que está acontecendo, nem de onde estão vindo as ligações do assassino, cuja voz é apavorante.

O que faz de “Black Christmas” um grande filme é a sua simplicidade. Os personagens não são lá tão interessantes e a trama é relativamente previsível – a não ser pelo excelente plot twist que ocorre nos créditos.

Spoiler Alert!

O trabalho do diretor Bob Clark é fascinante. O uso de câmera subjetiva cria um efeito macabro e é responsável por manter a identidade do assassino intacta. Ele entende as demandas do filme, variando entre a câmera na mão, travellings insinuantes que sempre revelam algo e planos fechados, cuja intensidade contribui para o senso de urgência e perigo.

Clark cadencia a sua obra, dando poucas respostas ao espectador, que se depara com uma ambientação claustrofóbica e mortes originais.

A montagem é sugestiva, criando contrastes e distrações que nos levam a ter reações extremas. Os cortes estão sempre indicando algo e são parte fundamental para a manutenção de uma tensão constante, mesmo que o filme não seja violento o tempo todo.

O design de som também é fundamental para a ambientação. Desde o início escutamos sons estranhos e uma respiração ofegante que não parece ser de um homem, mas de um animal ou de um monstro.

O filme nunca foge de uma paleta de cores escuras, que ressalta o horror e o sentimento de claustrofobia.

O roteiro trata a obra de forma gradativa, tanto na intensidade dos assassinatos, quanto no número de ligações, que se tornam cada vez mais frequentes e assombrosas. O anonimato do assassino é tratado com cuidado, o roteiro nos leva a crer que um determinado personagem está por trás de tudo e nos desmonta no final.

O roteirista sabe que o pavor leva as pessoas a terem reações incompatíveis com a realidade e as risadas descontroladas são um bom exemplo desse tipo de comportamento.

A trilha sonora é constituída por batidas tensas, capazes de manter essa atmosfera durante os noventa minutos de duração.

Na coleção de personagens, a única que se destaca é Jess, que, além de atender a maioria dos telefonemas, vive um dilema interno, envolvendo um bebê. Ela quer abortar e não demonstra carinho por Peter, seu namorado, que, por sua vez, quer ter o filho e se casar. O conflito fica ainda mais interessante se levarmos em conta que a protagonista carrega em seu peito uma enorme cruz, conferindo um aspecto contraditório à sua escolha.

Sem grandes interpretações e com uma trama que cresce com o tempo, “Black Christmas” é um excelente filme, elevado por sua competente equipe, que mantém o espectador hipnotizado e inquieto.