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A representatividade LGBTQIA+ no cinema nem sempre foi assim

Hoje é tão comum ver personagens LGBTQIA+ em seriados, novelas e filmes que até esquecemos que não foi sempre assim.

A representatividade tem um longo caminho – desde os tempos em que nem se falava em representatividade. E é claro que o cinema norte-americano teve um grande papel na inclusão de personagens gays, lésbicas e transgêneros na nossa cultura, com filmes que foram revolucionários em suas épocas.

Rope, lançado em 1948 e conhecido no Brasil com o nome de Festim diabólico, é o maior clássico do gênero pois é o primeiro filme comercial da história do cinema com personagens gays como protagonistas.

Alfred Hitchcock foi o primeiro cineasta a tornar-se uma celebridade conhecida do grande público e o primeiro do mundo a ser considerado como diretor autoral – e foi essa autoridade artística que o permitiu a façanha de criar Rope no auge da vigência do Código Hays, um conjunto de regras autoimpostas pelos estúdios de cinema dos Estados Unidos que vigorou entre 1934 e 1960 para censurar cenas que tratavam de relacionamentos sexuais e amorosos em suas produções. Se nesta época os filmes só podiam mostrar marido e mulher dormindo em camas separadas, imagine as proporções das proibições impostas a menções de homossexualidade.

Mas de alguma forma Alfred Hitchcock sempre conseguiu manter a ambiguidade sexual como tema frequente de seus filmes, seja mostrando situações veladas de homoerotismo ou personagens femininas que, sem qualquer explicação aparente, vestem-se com paletó e gravata e comportam-se como homens.

Rope, porém, é a sua obra que trata da homossexualidade com maior clareza – tanto que Cary Grant e Montgomery Clift, os maiores galãs da época (que eram gays), recusaram papéis no filme por receio de especulações sobre sua sexualidade real.

Quase 30 anos depois surge outro clássico – e desta vez abordando a transexualidade: Dog day afternoon, de Sidney Lumet, lançado em 1975 e conhecido no Brasil como Um dia de cão. O filme foi indicado ao Oscar em seis categorias (inclusive na de melhor filme), levou o prêmio de melhor roteiro e quebrou barreiras na cena em que o anti-herói protagonista refere-se “à minha mulher Leon, a quem eu amo mais que um homem jamais amou outro homem em toda a eternidade.”

Apenas cinco dias depois da estreia de Dog day afternoon, outro filme polêmico e ousado chegou às salas norte-americanas: The Rocky Horror picture show – que está em cartaz até hoje e é portanto o filme com mais tempo de exibição em toda a história do cinema. A participação do público também faz de The Rocky Horror picture show um fenômeno cult único no mundo: na Europa, nos Estados Unidos e no Japão os fãs vão ao cinema fantasiados de seus personagens favoritos e seguem certos rituais em cenas específicas, cantando e dançando usando guarda-chuvas, jornais e luvas de borracha entre outros objetos.

Trinta anos depois chegamos a mais um grande marco, a partir do qual a representatividade LGBTQIA+ só evoluiu: Brokeback Mountain, de Ang Lee. Lançado em 2005, tornou-se o filme com personagens gays mais premiado da história do cinema.

Foi uma surpresa geral quando Jack Nicholson anunciou Crash, de Paul Haggis, como vencedor do Oscar de melhor filme de 2006 (ele mesmo admitiu ter votado em Brokeback Mountain e ter ficado chocado com o resultado). Porém Brokeback Mountain levou as estatuetas de melhor diretor, melhor roteiro e melhor trilha sonora, além de ter sido indicado em mais cinco categorias. Entre todos os concorrentes, Brokeback Mountain foi a produção mais indicada do ano – algo até então inédito para um romance gay.

Brokeback Mountain confirma a regra de que quanto mais específica é uma obra de arte, mais universal ela é. Segundo Annie Proulx, autora do conto que originou o filme, “Esta obra é um romance, e todo mundo ama, não é? As únicas pessoas que terão problemas com ela serão as pessoas que têm problemas com a própria sexualidade”.

Muitos outros grandes filmes do mundo todo (inclusive do Brasil) foram importantes ao longo das décadas para a visibilidade LGBTQIA+ e não haveria espaço para citar a todos neste texto. Mas se hoje nosso arco-íris brilha cada vez mais é devido a esses 4 filmes que foram os maiores marcos de suas épocas e proporcionaram que outros pudessem existir e contribuir para a representatividade.

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