Os créditos apresentam nomes em vermelho. Ao fundo, escutamos a conversa de dois jovens sobre sexo e amor. Um diz que a mulher não precisa ser bonita, apenas interessante e o outro enumera as qualidades que a “escolhida” deve ter, sendo as mais marcantes os seios enormes e um belo par de pernas.
Jonathan quer apenas uma garota que o deixe colocar a mão em seus peitos e que não complique os seus anseios sexuais. Sandy parece diferente, diz coisas sensíveis, mas suas pretensões são exatamente iguais às do amigo. Ambos fantasiam bastante e se assustam quando se deparam com a realidade. Eles não conseguem associar sexo e amor, são jovens, imaturos e não entendem o significado da palavra relacionamento.
Sandy começa a sair com Susan e memoriza o número de beijos que deu na semana passada para poder cobrar mais na seguinte. Os protagonistas não sentem prazer em dividir intimidades. Ter uma garota significa a grande chance de se vangloriar e contar para o amigo o que aconteceu no último encontro. Sandy quer se aventurar, tentar movimentos arriscados e se divertir. Quando Jonathan descobre que Susan deixou o amigo fazer o que queria, não pensa duas vezes e liga para a ela, na esperança de se dar bem.
Os dois passam a sair com a mesma garota, o que apenas Jonathan sabe. Susan é um experimento, um objeto descartável, desejado, pode-se assim dizer, por uma dupla de pervertidos que não pensa em nada além de peitos e bundas.
Jonathan é bem enfático e fácil de ler, em contrapartida, Sandy, mesmo tendo pensamentos similares aos do amigo, é mais complexo e difícil de descrever. Não sabemos se sua sensibilidade é honesta ou apenas um meio de se chegar às garotas. Sabemos como Jonathan reagirá a basicamente todas as situações do filme, Sandy é afável e frágil, talvez isso o torne um alvo preferível aos olhos femininos.
O tempo passa e eles se tornam adultos com carreiras respeitadas. Sandy se casou com Susan e fala do matrimônio querendo expor satisfação, porém não consegue esconder o desânimo com o pacato cotidiano. Ele entende que o homem passa por fases e precisa amadurecer e, mesmo que não tenha chegado a esse ponto, tenta caminhar em direção a estabilidade.
Jonathan continua analisando o corpo feminino como um jovem de vinte anos e reclama por não ter encontrado a mulher ideal. A verdade é que tudo que ele não quer é se juntar a alguém. Para Jonathan, intimidade significa agressividade e compromisso, estresse.
Jonathan encontra em Bobbie o sonho. Ela tem todos os atributos físicos por ele idealizados e o início é maravilhoso. Seu pênis representa o seu ego e, após tempos complicados, Bobbie havia restabelecido o seu orgulho. Jonathan não se casa e, a cada vez que escuta propostas da “amada”, fecha a porta em sua cara. Ele gosta de usar o termo “castradora” e não demonstra o menor carinho quando Bobbie admite estar passando por um período difícil. Jonathan precisa de espaço e de carne nova a todo instante, essa é a sua natureza. A casa fica cada vez mais desorganizada e os planos-conjunto dos dois na cama expõem que tudo aquilo que o protagonista rejeitava, com ojeriza, havia se concretizado. Tudo se torna motivo para brigas e Jonathan não mede esforços para desprezá-la e agredi-la.
Sandy acredita que talvez sexo com a pessoa que ama não deva ser prazeroso, o que denota, simultaneamente, imaturidade e uma vontade genuína de amadurecer. Ele troca de mulher, se esforça, mas quando escuta uma proposta completamente bizarra e incabível do amigo, ri e concorda.
Mais tempo se passa. Os protagonistas estão ainda mais ricos e estabelecidos. Aos quarenta anos, Jonathan apenas reforça o que era óbvio. Ele não faz a menor ideia de como as coisas funcionam na realidade e não tem interesse nenhum em descobrir. Para Jonathan, as boas mulheres ainda são as que o obedecem e que esbanjam curvas exuberantes. Personalidade, companheirismo e inteligência podem até ser qualidades destacáveis no período da sedução, entretanto, são rapidamente descartadas quando as coisas esquentam. Suas conquistas são inegáveis, seu apartamento nos mostra isso, todavia, é triste perceber que após vinte anos seu jeito e sua visão sobre as mulheres não mudaram. O mesmo não pode ser dito sobre Sandy, que viu no tempo o seu maior aliado. Ele é um homem completamente diferente no terceiro ato, um que valoriza o amor e estar perto de alguém.
Mike Nichols entende a riqueza de pequenas situações, seu filme está repleto delas. Um jantar na cama, o segundo antes da paquera, um olhar, uma conversa entre amigos e assim por diante. As brigas, discussões e confissões partem daí. O cineasta, invariavelmente, utiliza planos fechados, colocando o espectador como confidente dos personagens, nos aproximando deles.
Às vezes, nem vemos o rosto de quem está conversando, Nichols foca em reações específicas, as mais significativas e fundamentais para cada momento. Seus planos longos são elegantes e dão fluidez ao filme, que nunca deixa de ser íntimo.
A montagem cria um ritmo interessante, principalmente na primeira parte, na qual Jonathan utiliza os relatos de Sandy para se aproximar de Susan. Os cortes são precisos e chegam a conferir um certo humor ao filme.
As sombras são recorrentes, tendo a conotação de opressão e vazio. Nesse sentido, a cena em que Susan é obrigada por Jonathan a escolher um dos dois é marcante.
A direção de arte aparece na transição entre os segmentos para ressaltar a mudança na vida dos protagonistas e para expor a confusão que era o relacionamento entre Jonathan e Bobbie.
Art Garfunkel prova que, além de grande cantor, é também um ator talentoso. Sua timidez mascara o seu machismo e seu arco permite uma grande transformação. Ainda assim, não conseguimos decifrar Sandy inteiramente, o que se deve ao belo trabalho de Garfunkel.
Jack Nicholson dá um show sem grande esforço. Ele consegue “amadurecer” o personagem, deixando-o, a cada segmento, mais detestável. O ator alterna perfeitamente entre momentos de fúria e de puro sarcasmo. Essa é uma de suas melhores performances.
Ann-Margret também merece destaque por fazer de Bobbie uma mulher, gradativamente, frágil e instável. Sua felicidade do início se desmancha com a presença de Jonathan.
“Carnal Knowledge” é uma obra prima sobre homens que têm dificuldade em aceitar que mulheres são seres humanos com sentimentos e desejos. Homens secretamente inseguros e dominadores que passam a vida se perguntado o porquê do fracasso de todos os seus relacionamentos.
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