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“Mother’s Baby” começa com um casal numa montanha-russa. Os planos-detalhe das mãos entrelaçadas e o abraço reforçam o afeto e o companheirismo presentes na relação. Eles querem ter um filho, irradiam felicidade e vão a um médico para se certificar que as coisas caminhem bem. Julia é uma regente; está acostumada a ter tudo sob controle. Na cena do parto, a câmera atravessa a sala, ressaltando a dor e a agonia sentidas pela mãe, que, vulnerável, não pode fazer nada além de torcer para que seus esforços homéricos deem certo. Eis que algo acontece e os médicos precisam levar o bebê para um procedimento emergencial. Apesar da apreensão, o doutor retorna com boas notícias. A partir daí, o filme, que inicia com a inocência de um casal apaixonado, ganha em incerteza e tensão.

A montanha-russa invade a vida de Julia na medida em que ela começa a suspeitar de qualquer coisa e tem dificuldades em acreditar que aquele bebê é realmente seu. A princípio, parece ser um caso de exaustão pós-parto, todavia, em vez de se recuperar, a protagonista soa mais preocupada. Ela começa a testar o filho, colocando a música no volume máximo, beliscando sua barriga e checando seu sono. O que Julia sabe acerca do comportamento normal de um bebê? A busca pela estabilidade passa pela catastrofização absoluta; é um sinal da ansiedade crescente de uma mulher que aceita o seu “papel na sociedade” – a mãe não tem o direito de falhar. Um problema mínimo é motivo de pânico. A passividade dos médicos a irrita; ela quer escutar o pior e ser compreendida. Seus nervos estão fora do lugar, o que fica evidente na sequência em que não sabe se recorre à polícia para “salvar” o bebê ou se simplesmente o abandona no hospital e volta à sua antiga vida. O espectador é quem pode realizar o diagnóstico mais preciso. Tudo, incluindo as reações dos demais personagens, nos leva a crer num caso de insanidade e esse é o principal motivo pelo qual uma reavaliação geral torna-se necessária. Seria esse um drama psicológico sobre o peso da maternidade ou um suspense igualmente sombrio?

Não é estranho o silêncio profundo do recém-nascido diante de música altíssima? Ao ter caído no chão, ele não deveria ter se machucado? Qual o motivo do mistério envolvendo a ficha do bebê? O passado do tal doutor é, de fato, nebuloso. Por que Georg, o marido, toma atitudes extremas? Ele está preocupado ou quer isolá-la até comprar a ideia de que não há nada de errado? O “instinto materno” realmente existe?

Moder opta por uma abordagem sóbria, calcada na observação constante da protagonista. O isolamento é salientado pela predileção constante por uma baixa profundidade de campo – presa em seu universo tortuoso – e pela fotografia, que mergulha Julia em ambientes cada vez mais frios e escuros. A trilha sonora suscita tensão e garante que o espectador saia da sessão atordoado com o que acabou de assistir. Há um animal que desempenha uma importante função narrativa, despertando, inclusive, em determinada cena, risadas inesperadas.

Marie Leuenberger oferece uma performance enervante e precisa, obrigando-nos a recalcular rotas. Seu rosto é tão abundante em sentimentos destrutivos, que, eventualmente, fica difícil de encará-lo. A atriz carrega o peso da obra nas costas sem precisar chamar a atenção para si.

“Mother’s Baby” é um filme duro, instigante e surpreendente. 

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