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Em meio a pandemia do COVID, Trish, uma jornalista americana, está na Nicarágua escrevendo uma matéria sobre pessoas que foram enforcadas e sequestradas. As autoridades locais não gostam dela e seus únicos aliados são um policial que a usa sexualmente e o vice-ministro. A protagonista perambula em busca de necessidades básicas, tendo noção de que sua ambição profissional deixou de ser uma prioridade. Trish se habituou a correr riscos e tenta, de qualquer maneira, retornar aos Estados Unidos. Seu passaporte foi confiscado, ela não tem dólares suficientes para viajar e o contexto político é caótico.

Eis que surge Daniel, um inglês por quem a protagonista se apaixona. Ele diz trabalhar com petróleo, o que pouco importa, afinal, Claire Denis está interessada em desenvolver um romance na terra da desolação.

“Star At Noon” é uma decepção do início ao fim. O filme é tão mal escrito, que, em determinado momento, me vi torcendo contra o casal. Dito isso, a cineasta tem seus méritos. O uso de câmera na mão confere crueza e um teor quase documental que faz jus ao estado alarmante da Nicarágua. Ela cria uma intimidade natural entre os personagens ao fechar o quadro e explora as paisagens vazias e decadentes do país situado na América Central, formando um interessante paralelo com a situação da protagonista. A melhor sequência, aquela em que eles dançam numa boate mergulhada no roxo, é belíssima. Denis vai de um plano fechado para um aberto, expondo não só a bizarrice do lugar, mas a breve desconexão entre Trish e Daniel, após o britânico mencionar sua esposa.

Na maior parte do tempo, a diretora acompanha os personagens, o que não seria um problema caso o roteiro, escrito pela mesma, fosse minimamente coeso. Quando Daniel afirma estar apaixonado, eu quase ri. Tudo bem, Denis não está interessada numa trama, porém seus personagens não podem apenas existir. Deve haver algum tipo de componente em suas personalidades e na relação que desenvolvem capaz de atrair o espectador. Daniel é uma figura blasé, modorrenta e confusa (não confundam com complexa). A performance de Joe Alwyn só o torna mais intragável. O ator tem uma tremenda dificuldade em demonstrar emoções e não é minimamente cativante. A impressão é que ele não estava compreendendo as instruções da cineasta – esse é o único motivo plausível pela manutenção daquela expressão aborrecida.

Se esse cara arranjou uma esposa e fez com que uma jovem americana se apaixonasse por ele em poucos dias, não se preocupe, sua hora chegará.

Por outro lado, Margaret Qualley demonstra potencial para ser uma atriz de sucesso. A filha de Andie MacDowell é talentosa e não tem culpa de estar presa a uma personagem tão simplista, que se limita a andar, ser sexy e esbravejar. A química entre os dois é inexistente. Tudo que Claire Denis tenta capturar com sua câmera, é sabotado ou diminuído pelo péssimo roteiro e pela sua questionável direção de atores.

A direção de arte ajuda na fomentação de uma atmosfera suja e claustrofóbica; enquanto a trilha sonora jazzística cumpre, pelo menos, uma função cool – quem sabe, de salientar a desesperança local…

Tudo isso a serviço de que? De um grande vazio, de um filme que soa risível em suas pretensões românticas e sensuais, que é desastroso ao estabelecer uma atmosfera tensa e que é incapaz de fazer com que o espectador se importe com os personagens e com qualquer coisa que aconteça. Não, o desfecho não é especial, na verdade, é irritante. Pelo menos Trish se vê livre daquela figura insuportável – por que ela chorou?

Ainda temos Benny Safdie, numa ponta que poderia ser feita por qualquer pessoa e que, assim como a grande maioria aqui, é completamente esquecível.

Denis não tem controle sobre o ritmo da obra, que se alonga e piora no terceiro ato.

Em algum momento, mais cedo ou mais tarde, você implorará para que “Stars At Noon” termine.

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