“Rounders” é um filme sobre Poker. Eu não gosto muito desse tipo de jogo e a minha leiguice sempre me inclinou a vê-lo como algo baseado estritamente em sorte e azar.
Bem, não diria que a partir de agora me considero um fã de Poker e que tenho Las Vegas como um destino prioritário, porém, hei de admitir que o jogo é bem mais complexo e interessante do que julgava.
Obviamente existem certas técnicas e falcatruas, mas assim que as pessoas se sentam, o Poker se transforma em um jogo extremamente “humano”. Os mais experientes não olham para as cartas, eles estão atentos às reações de seus adversários, que através de mínimos detalhes demonstram o que tem em mãos.
“Rounders” nos prova que mesmo tentando esconder as emoções, as pessoas não conseguem fugir da genuinidade. E é exatamente aí que a multidão se difere – quem se blinda e observa minuciosamente, vence.
Mike é o protagonista. Boa parte do filme é conduzida por sua narração, que destrincha o mundo do Poker com uma riqueza impressionante. Ele é talentoso, mas sofreu uma virada desmoralizante e decidiu parar.
Sua namorada, Jo, não tolera a jogatina e tenta colocá-lo na linha. Porém, quando o seu melhor amigo, Worm, sai da cadeia, a primeira coisa que fazem é retomar a antiga parceria, desencadeando uma série de conflitos e aventuras.
Vale ressaltar que Mike está na faculdade de Direito e desde o princípio notamos que aquele não é o seu lugar.
Worm é imaturo e impulsivo. Diferentemente do protagonista, ele acredita que Poker se baseia na trapaça e que correr de mafiosos enfurecidos faz parte do pacote. Sua presença eleva o filme em todos os sentidos: a trilha sonora passa a evocar a malandragem do jogo, a trama ganha momentos mais descontraídos e explora o lado mais sombrio do Poker.
Worm tem vários defeitos, porém o respeito pela amizade não é um deles. Mesmo que em determinados momentos ele puxe Mike para o ralo, nunca é deliberado ou por maldade. Worm simplesmente não consegue se controlar.
O roteiro oferece excelentes diálogos, mas o grande mérito está na performance de Edward Norton, que, com o seu carisma, transforma um personagem, que em mãos erradas seria insuportável, em um jovem simpático, engraçado e perdido.
Já Matt Damon, se sai muito bem quando demonstra a frieza necessária para ganhar. Contudo, fora das mesas, seu personagem não é tão interessante. Suas reações a situações delicadas denotam uma insuportável indiferença. Em momentos específicos isso funciona – Mike não quer se expor, mas na grande maioria soa estranho e implausível.
De qualquer forma, há de se elogiar a química entre Norton e Damon, que de fato parecem grandes amigos com temperamentos distintos.
Ambos se protegem e demonstram um forte carinho.
Jo é uma personagem nula. Sua presença não diz nada e seu romance com o protagonista é insosso. O espectador tende a vê-la com uma certa antipatia, por conta de sua oposição ao Poker.
John Turturro está ótimo, como sempre. Knish é um apostador seguro, que só se senta em mesas em que sua vitória é praticamente garantida. O ator transmite essa pacacidade através da feição abatida.
O outro grande destaque é John Malkovich, que interpreta um mafioso russo, considerado o sujeito mais perigoso das redondezas. Ao longo dos anos, Hollywood produziu uma série de caricaturas ambulantes e Malkovich conseguiu fugir delas com maestria. O ator utiliza uma série de trejeitos que enriquecem o personagem, entres eles: um sotaque que poderia facilmente ser motivo de piada, mas não é.
O roteiro não para nas mesas e prova que o Poker pode se tornar algo extremamente danoso. Nesse sentido, os tons de vermelho do escritório do coletor de dinheiro evidenciam o perigo que Mike e Worm correm.
A montagem é ótima, de modo geral, mas merece um destaque especial nas cenas de Poker, nas quais os cortes rápidos e os planos fechados expõem a atenção e o medo dos jogadores.
“Rounders” é um ótimo filme e merece a fama que tem.
O que você achou deste conteúdo?
Média da classificação / 5. Número de votos:
Nenhum voto até agora. Seja o primeiro a avaliar!