“Top Gun: Maverick” é um filme sobre pessoas que precisam testar seus limites para sobreviver e é exatamente isso que Tom Cruise faz, filme após filme.
Os planos fechados nas cenas de ação provam que a equipe inteira foi contaminada por esse espírito. De certa forma, esta é uma bela celebração a um sujeito que não cansa de expandir seus horizontes e não teme algumas costelas quebradas.
À beira dos sessenta anos, Tom Cruise não precisava aprender a dirigir um avião de combate, nem pular de prédios, mas é isso que o faz feliz e que o torna o maior astro de Hollywood.
Há uma cena em que o ator contorna várias montanhas e a montagem permite que vejamos sua reação e a de sua equipe.
Ali está a alma desse filme – Cruise sorri com a adrenalina e os demais admiram seu talento e esforço.
Na trama, Maverick precisa retornar para Top Gun a fim treinar um grupo de pilotos super talentosos para uma missão de alto risco.
O inicio deixa algo muito claro: o protagonista envelheceu, segue solitário e apaixonado por aviões. Sua personalidade é forte e tem na teimosia o maior relapso da juventude. Regras nem sempre são obedecidas, o que lhe acarreta em uma fama ambígua: irresponsável e lendário.
As pessoas não confiam nele, mas sabem que se tratando de pilotagem não existe ninguém melhor.
O filme tem uma veia nostálgica muito forte. A montagem intercala, cuidadosamente, sequências do predecessor e o efeito é positivo. A trilha sonora é emotiva e respeita a grandiosidade do que estamos assistindo.
O roteiro é cuidadoso ao relembrar do passado, fomentar laços e arcos narrativos.
Maverick é carismático e veloz, porém nunca havia se colocado em uma posição de liderança. Seus métodos são pouco ortodoxos e diferem da maioria de seus superiores. Os pilotos, que, sim, são os melhores, vivem em uma perigosa zona de conforto, na qual suas condições são reafirmadas a todo instante e inflam os seus egos. O protagonista aparece para puxá-los para baixo, testar seus limites e formar uma unidade.
O desrespeito inicial se transforma em companheirismo, logo, eles se tornam pilotos ainda melhores.
O romance de Maverick com Penny vale pela química entre os atores e é importante para o arco do protagonista, apesar de não ser tão bem desenvolvido.
O laço mais interessante é, sem dúvida alguma, entre Maverick e Rooster – filho de seu antigo parceiro, “Goose”, que morreu em seus braços.
A tensão entre os dois é nítida e o jogo de olhares funciona. Ambos os sentimentos são palpáveis e justos – ninguém está errado, a história só não foi bem contada.
O protagonista chora pelo passado, sente que errou com Rooster, tenta ser a figura paterna e não toma medidas apressadas. O respeito e a confiança surgem com o tempo, de forma genuína, o que acaba sendo fundamental para o efeito da batalha final, em que eles lutam lado a lado.
Maverick é um sujeito solitário, tanto no avião, quanto na vida pessoal e o desfecho é otimista nesse sentido.
As cenas de ação são um espetáculo à parte. A intercalação entre planos abertos e fechados é maravilhosa, pois permite que o espectador perceba os extremos que os atores alcançaram e aprecie a magnitude das acrobacias. O perfeccionismo alcançado pela equipe é impressionante, poucos filmes têm sequências tão grandiosas como a última.
A fotografia é belíssima, assim como no predecessor, que valorizava cores quentes e naturais.
No entanto, o que mais chamou minha atenção foi o azul presente na cabine de comando na batalha final. A cor cobre o rosto dos generais, denotando o sentimento de impotência deles, que naquela situação, não poderiam fazer mais do que torcer.
O roteiro surpreende com boas tiradas cômicas, muito bem conduzidas pelos atores, que apresentam um excelente timing.
A presença de Val Kilmer é provavelmente o momento mais sensível do filme. O ator demonstra uma fragilidade tocante e subverte tudo que estávamos assistindo. Lógico que rapidamente voltamos para a ação, mas esse é um registro importante, diante do drama pessoal vivido por Kilmer.
Miles Teller convence dramaticamente, surpreende no humor e apresenta uma bela química com Tom Cruise, que segue com o mesmo carisma de sempre.
Sua performance tem peso em todos os aspectos. O protagonista envelheceu, mas continua rebelde. Ele precisa lidar com dilemas do passado, paixões, uma nova função e com os próprios instintos.
“Top Gun: Maverick” é um filme nostálgico, repleto de sequências memoráveis e arcos significativos.
De certa forma, este redime o original, que, embora tenha levado Cruise ao estrelato, não resistiu ao tempo e envelheceu com o jeitão dos videoclipes oitentistas.
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