Fã de Elvis, Dani, de 14 anos, está quase sempre frustrada, esperando por algo que julga ser impossível. Maureen, sua irmã, representa tudo aquilo que ela gostaria de ser: é mais velha e chama a atenção de todos os garotos que a encontram. A família Trant vive em Louisiana, numa área rural. Seus novos vizinhos são velhos amigos. Marie, após ter perdido o marido, busca novos ares e um emprego. Court, seu filho, gosta de mergulhar no mesmo rio de Dani, o que, ocasionalmente, acarreta a fomentação de uma amizade intensa e genuína. A protagonista, apesar do pessimismo, não precisa de muito para abrir um sorriso. Em casa, ela pergunta, timidamente, à irmã como se beija um rapaz. As mentes adolescentes funcionam numa rotação particular e a pressa, decorrente da inexperiência, pode ser um doloroso aprendizado. Os tons quentes, os espaços abertos e o caráter singelo das interações conferem uma atmosfera nostálgica e doce ao filme. Dani leva água a Court, que trabalha dirigindo um trator, e os dois pulam no rio de mãos dadas, como amigos inseparáveis (talvez algo a mais). A diferença etária é um empecilho para Court, que, mesmo alertando a protagonista, também se entrega a desejos que não consegue controlar.
Maureen é vista como um artigo de luxo pelos jovens. No baile, seu par está mais interessado em se dar bem do que num possível clima romântico ou sensível. “Maureen, já gostou tanto de alguém, que se sentiu doente?”, pergunta Dani, que àquela altura, conhecia um sentimento que a primogênita tinha apenas lido sobre. O roteiro adiciona temperos variados, deixando o espectador preocupado com o acidente sofrido pela mãe das garotas, que está grávida. O pai, interpretado pelo subestimado Sam Waterston, é rígido e tem dificuldade de demonstrar afeto e de se desculpar, o que é sintetizado numa linda cena na qual é possível sentir sua angústia por ser incapaz de se expressar da melhor forma, até que, finalmente, abraça Dani. Quando a protagonista beija Court, acreditamos estar a par do que acontecerá dali em diante. O vestida rosa traz a paixão à tona e denota pureza; todavia, ao se deparar com Maureen, Court fica hipnotizado – repentinamente, é como se Dani fosse um obstáculo que não permitisse que as almas gêmeas pudessem ficar a sós.
Perceptiva e inteligente, Dani entende o que está acontecendo, mas fica quieta, admitindo sua impotência – o que é ressaltado por Mulligan, que a posiciona, por vezes, em cantos escuros do quadro. Egoístas? Talvez. Certos em consumar o amor? Acredito que sim. A vida é escrita em linhas tortas, repleta de crueldades que, à primeira vista, não fazem o menor sentido. Dani volta a ser a criança solitária e ignorada, levando-nos a reavaliar, a todo instante, o novo casal. Eles não querem magoar a pobre coitada e tomam cuidado para não serem vistos, mas os sentimentos estão lá, evidentes ao mais tapado de todos. Maureen enfim conheceu o sentimento descrito por Dani – que ironia.
O roteiro promove uma reviravolta trágica no fim, enfatizando o poder do primeiro amor e a importância da relação entre irmãs. A opção é arriscada e pode soar forçada ou melodramática para alguns; no entanto, é inegavelmente eficiente no que se refere ao fechamento dos arcos – início e fim são brilhantemente amarrados.
Reese Witherspoon, em seu primeiro papel, demonstra uma maturidade notável, compondo uma personagem de fácil identificação e que expõe suas emoções sem gritá-las por aí.
Em seu último projeto, Robert Mulligan realizou uma pequena e esquecida joia.