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“Você canta? Depois de todo esse tempo em nosso quarto com aquela guitarra elétrica acústica. E agora você decidiu ser a porra de um cantor?”

Essa foi a reação de Noel Gallagher ao descobrir que seu irmão tinha uma banda. Ele era o músico da família; era quem passava os dias praticando, mexendo na vitrola e fumando maconha. Na infância, Liam era o encrenqueiro da escola. Até que, num incidente que poderia ter lhe custado a vida, um de seus “inimigos” bateu com um martelo em sua cabeça. Foi o clique que Liam precisava para se apaixonar por música. Noel ficou impressionado com o que viu; não esperava que o caçula da família fosse capaz de cantar. Se eu utilizasse o vocabulário dos biografados, acredito que o texto ficaria impublicável. Liam, então, trouxe o irmão para perto, que, rapidamente, demonstrou seu incrível talento para compor canções. O Oasis estava formado. “Eu quero a cabeça cortada de Phil Collins”, brinca o grupo, almejando o topo das paradas.

“Live Forever” foi a virada de chave; o momento em que Noel percebeu que poderia ir longe. Em seu primeiro show, após duas músicas, a banda conseguiu um contrato com uma gravadora. Eles tinham autoconfiança, acreditavam em destino e não tinham dúvidas de que, muito em breve, seriam o maior conjunto do planeta terra. Se Noel era o cérebro e o som, Liam era o frontman. Em suas palavras: “eu vou ser o fodão com todos lá fora”. Os irmãos falam da mãe com muito carinho e admiração. Em relação ao pai, que agredia a todos, notamos a dor reprimida na voz de ambos. A estreia na TV foi com “Supersonic”. “Eles estão cantando suas palavras sem sentido que você escreveu na merda das três da manhã”. No auge da juventude, o Oasis atingiu o estrelato e, nesse sentido, eu sou obrigado a concordar com os rapazes. “Você não pode pedir a um jovem de 21 anos de idade para ser profissional”.

Como todos os roqueiros autênticos, o grupo foi expulso de uma cadeia de hotéis por isolar os móveis pela janela. Drogas eram como o chá da tarde – incluam metanfetamina no banquete ilícito. O mundo sombrio da estrada é exposto. “Algumas pessoas podem aguentar o ritmo, algumas pessoas não podem”. Na turnê do álbum de estreia, “Definitely Maybe”, o Japão foi a prova de que a banda havia conquistado o mundo. Foi um baque maravilhoso; o tipo de febre sobre a qual eles haviam lido e assistido na televisão. Por outro lado, ao chegarem nos Estados Unidos, se depararam com a conhecida dificuldade dos britânicos penetrarem as paradas americanas.

“O problema com o Oasis é que você tinha duas pessoas competindo pelo posto de Primeiro-Ministro”. No início, Noel afirma que não entende o por que deles serem tão diferentes. As imagens não mentem, o senso de irmandade era real. Dito isso, havia também uma certa animosidade nas trocas de olhares, que revelavam uma intensa rivalidade entre seres que dividiam o mesmo espaço somente no ego; no palco, cada um brilhava em seu quadrado. Noel coloca a situação da seguinte forma: Liam é um cachorro carente que precisa de companhia e carinho constantes; ele é um gato, ou seja, naturalmente independente e (um pouco) babaca. Noel queria ter o cabelo, a altura e o andar do irmão, que, por sua vez, gostaria de ter a capacidade de compor canções. “Se você começar a cantar as músicas, o que eu farei? Farei a porra do chá?”

A verdade é que, se os Gallagher não fossem assim, não teria a menor graça; o Oasis seria uma banda de garotos castrados. O que os dois sentem faz parte da natureza humana e a relação não se resume a isso. Em determinada ocasião, o pai apareceu e Noel conteve Liam para que algo gravíssimo não acontecesse. A sensação contraditória é de que os irmãos não suportariam o fim da banda e que, a cada dia juntos, estavam mais perto de surtar. O pandeiro atirado por Liam durante um show foi a inspiração para Noel compor a bela “Talk Tonight” – uma das várias demonstrações de sua sensibilidade interior. Eles conheciam o modus operandi das brigas e agiam normalmente no dia seguinte, como se nada tivesse acontecido. Em 1993, o Oasis ensaiava numa garagem e aceitava qualquer oportunidade de apresentação. Em 1996, 4% da população inglesa buscou ingressos para o concerto em Knebworth. Falem o que quiserem, os caras eram isso tudo mesmo.

O filme não se estende à carreira inteira da banda, conversando com o título – a ascensão supersônica dos Gallagher. O diretor Mat Whitecross foge da estrutura “óbvia”, na qual os biografados e outras personalidades aparecem, focando numa narrativa calcada em voiceovers, fotos, imagens de arquivo inéditas e inserções lúdicas que combinam com o caráter jovial e rebelde da dupla – a montagem consegue ser dinâmica e didática. Os vídeos disponibilizados pelo cineasta, além de brilhantemente inseridos, conferem autenticidade e energia ao filme. Claro, com figuras tão carismáticas e engraçadas, o trabalho fica consideravelmente mais simples.

“Supersonic” é um grande documentário. Torço para que Noel e Liam não briguem antes do show em Novembro…

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