Skip to main content

Em 1958, a equipe da força aérea americana treinada para ir à lua foi substituída por um macaco.

No presente, Bob Gerson, ainda líder da NASA, comanda uma reunião acerca de um satélite soviético deteriorado, orbitando pelo espaço. Caso nada seja feito, o IKON chegará à terra, o que, segundo um General russo, não pode acontecer em hipótese alguma. Por questões políticas, envolvendo a parceria na central espacial, Gerson decide agir. No entanto, o sistema de orientação embutido no satélite foi projetado por Frank Corvin, um dos quatro integrantes da equipe rejeitada décadas atrás.

Nenhum engenheiro é capaz de entender aquela tecnologia obsoleta e Gerson se vê obrigado a pedir ajuda ao antigo rival.

O protagonista impõe uma condição a fim de aceitar a proposta: ele e seus antigos colegas irão ao espaço recuperar o satélite. Frank é um bom chantageador.

Um dos principais méritos do roteiro de “Space Cowboys” é não se alongar na reunião da equipe. O clássico personagem que se opõe e deve ser convencido não existe aqui. Astronautas são como crianças, no melhor sentido possível. Eles já são senhores de idade, têm vidas estáveis e não precisam se expor a um possível perigo. A paixão do grupo pela aviação é refletida em seus atuais empregos.

Tank Sullivan é um pastor. A reza dita o seu cotidiano e suas preces foram ouvidas; o grande dia chegou.

Jerry O’Neill trabalha num parque de diversões, construindo montanhas russas, o que é autoexplicativo.

Hawk Hawkins oferece aos seus clientes passeios radicais, com direito a acrobacias e manobras arriscadas. Ele é quem guarda maiores ressentimentos em relação a Frank, entretanto, o que parecia uma convenção do roteiro, se transforma numa piada.

O sonho da vida desses homens foi adiado e a idade não é um impeditivo para saltos maiores. Os desejos não diminuem com o tempo, a velhice não é uma cadeira de balanço e conversas pacatas. Outra coisa que não muda é o amor que os amigos nutrem.

A principal, e melhor parte do filme, é movida pelas interações entre os quatro, que esbanjam carisma e bom-humor. Jerry é uma figura, o mesmo mulherengo de sempre. Quando a médica chega na sala do exame físico, todos, envergonhados, tampam as partes íntimas, menos ele, que se sente mais à vontade na presença de uma dama.

“Depende totalmente da mulher, de ela querer descobrir seu estoque infinito de orgasmo”.

As “rusgas” carregadas por Hawk e Frank não são usadas para o drama, sendo traduzidas em sequências engraçadíssimas, como, por exemplo, na briga no bar. “Também escorregou no chuveiro?”

O protagonista, apesar da posição de liderança, não é uma figura sisuda. O contraste de personalidades é um dos grandes baratos do filme. Por maior que sejam, não duvidamos, por um instante sequer, que aqueles são amigos de verdade. Hawk, o rebelde do grupo, é um brincalhão, leva a vida tranquilamente e sem maiores reclamações desde que sua esposa faleceu. Suas identidades foram preservadas e a maturidade as tornou mais atraentes.

Situações pequenas, como a reação de Hawk ao ver uma agulha, e as dos colegas, que conhecem sua fobia, e a ajuda que Jerry recebe no teste de visão, fomentam uma atmosfera acolhedora e prazerosa. Os jovens astronautas, a princípio, riem e desconsideram os “recrutas”. As corridas, as sessões na academia, algumas piadas e a apreciação do talento dos experientes muda essa relação. No fim, são os “mais preparados” que recebem papinha em suas mesas, numa provocação sadia.

Certos comportamentos e trejeitos só são compreendidos com tempo, respeito e empatia, e o filme é recheado de momentos nos quais a longa amizade é ratificada, chegando a encantar.

Um risco? Uma loucura? Os cowboys do espaço rapidamente ganham a simpatia de todos ao seu redor, além de um reconhecimento nacional, com direito a participação em programas de auditório.

Gerson achava que sua bateria de testes e exercícios acabaria com as pretensões da equipe. Pois bem, estava enganado.

A morte está por aí, rondando seus dias. A maioria das pessoas pelas quais perguntam já se foram, o que traz uma perspectiva diferente à missão. De certa forma, trata-se de uma despedida, o que lhes faltava para alcançarem a paz eterna.

Na hora da decolagem, milhares de americanos estão com eles – os rostos apreensivos são significativos, foram conquistados gradualmente.

O satélite pouco importa, é a segurança dos nossos amigos que interessa – essa é a força do roteiro.

Os efeitos visuais são impecáveis, funcionam perfeitamente até hoje. Clint Eastwood compreende a lógica espacial, desde a lentidão dos movimentos até o contraste entre a escura vastidão e a “pequena” nave. Os planos gerais são deslumbrantes, conversam com o brilho nos olhos dos astronautas. A gravidade é utilizada também para gerar tensão, assim como a montagem paralela, que nos deixa na ponta da cadeira.

Eles descobrem que a missão era mais complexa. O IKON era uma relíquia da Guerra Fria e tinha, em seu interior, seis ogivas. Ou seja, se o satélite não fosse despachado para a lua, o estrago seria irreparável. A nave claustrofóbica e o espaço desconhecido são elementos fundamentais para o suspense, todavia, é o vínculo que formamos com os personagens que segura a obra. Eles só têm uma chance. As pontas são amarradas bem no início, na construção das personalidades. Se fosse qualquer outro personagem, não faria sentido.

O clímax não é exatamente original ou marcante, porém não deixa de ser eficiente. A ação não é o ápice de “Space Cowboys”, mas a humanidade do roteiro e as interpretações de um quarteto experiente.

Clint Eastwood, Tommy Lee Jones, Donald Sutherland e James Garner estão fantásticos, não tenho dúvidas de que se divertiram muito na realização desse projeto.

A última cena é de um raro bom gosto. Poderia ser melancólica, mas não, é bela e poética.

“Space Cowboys” é genuinamente divertido e comovente. Um dos filmes mais subestimados de Clint Eastwood. 

O que você achou deste conteúdo?

Média da classificação / 5. Número de votos:

Nenhum voto até agora. Seja o primeiro a avaliar!