Às vezes nem queremos gostar tanto de um filme, todavia, nos vemos completamente hipnotizados com cenas que não esperávamos ser tão eficazes. Este é “Point Break”, uma obra prima do gênero de ação.
Johnny Utah é um jovem agente do FBI que, com seu experiente parceiro, Angelo Pappas, precisa descobrir quem são os bandidos fantasiados de presidentes americanos que saqueiam bancos. As evidências os levam para as praias. Pappas acredita que eles são surfistas, então Johnny busca se infiltrar, se aproxima e, ao se envolver, percebe que sua missão não será tão fácil.
Keanu Reeves e Patrick Swayze nunca estiveram melhores. A dinâmica entre os personagens é interessantíssima. Os confrontos aparecem e as brigas são marcantes, pois, acima de qualquer inimizade, os protagonistas se identificam, reciprocamente. A briga final é o maior exemplo disso – os socos acabam sendo afetuosos. Johnny e Bodhi têm personalidades distintas e complementares. O primeiro se acostumou com uma vida tipicamente americana: ex-atleta, é inteligente, obstinado e pragmático no exercício das suas funções como agente federal. O segundo se alimenta de adrenalina e é um peculiar assaltante de bancos. Bodhi vive o presente e carrega uma genuína e sedutora espiritualidade. São facetas da mesma moeda que se atraem, se repelem e se admiram.
Ambos os atores são famosos por suas capacidades físicas e as sequências de ação idealizadas por Bigelow colocam suas habilidades à prova. Eles também se saem bem na parte dramática. Johnny está se arriscando e, caso seja pego, a chance de não sair vivo é enorme. Reeves transmite tranquilidade, controle e, ao entrar de vez no disfarce, nota que aquele estilo de vida talvez seja a sua “praia”. Ele nos confunde, pois é sincero. Swayze é uma presença reconfortante. Bodhi é o tipo de amigo que todos gostariam de ter – é impossível torcer pela sua derrocada. O surfista confronta os padrões de vida americanos e enxerga a beleza no imaginário, em algo que não se vê e um dia será naturalmente alcançado. Bigelow retrata o mar como um elemento pacificador e luminoso, movido por adrenalina e pelo desejo de fuga da monotonia. As ondas são enormes e provam que, diante da natureza, os seres humanos são meros espectadores.
Invariavelmente, esquecemos que este é um filme policial, afinal, o nosso ponto de vista é o de Johnny, que parece ter encontrado um lar, uma namorada e um grande amigo. As coisas ganham novos contornos quando o protagonista e Pappas descobrem que é mesmo a trupe de Bodhi que está por trás dos assaltos. As interações se tornam mais ríspidas e inconclusivas e os diálogo passam a ter conotações variadas, o que se deve ao excelente roteiro. O salto de paraquedas é icônico e talvez seja o momento de maior proximidade entre os dois, entretanto, os que precedem e sucedem a este geram tensão e dúvida.
O que começa como um teste de lealdade, se transforma em uma relação paradoxal de entendimento, respeito e carinho. Eles não são inimigos, só estão em lados opostos.
Bigelow confere agilidade nas cenas de assaltos, marcadas por cortes precisos e pelo carisma dos atores, que parecem estar se divertindo bastante. No entanto, o que mais chama a atenção é a variedade de espaços em que a ação se situa. Temos skydiving, perseguições a pé, de carro e invasões domiciliares, além, claro, das sequências impressionantes de surfe. A montagem também é brilhante, conseguindo acompanhar os planos de Bigelow de forma ágil e coesa, mantendo a lógica geográfica intacta. A violência é nítida e visceral. A diretora ainda nos brinda com sutilezas que elevam o suspense, como, por exemplo, o cortador de grama que é desligado no último segundo. Eu não sou muito fã de esportes radicais, mas a adrenalina desse filme é contagiante e isso se deve ao realismo atingido por Bigelow, que, sem dúvida alguma, estava à frente de seu tempo.
A fotografia opta por tons de amarelo e laranja, reforçando o “calor” da obra e dos personagens, sendo também um elemento estilístico. O mesmo pode ser dito sobre a músicas escolhidas pela diretora, que conversam diretamente com a época e o local em que o filme se passa. A trilha sonora potencializa a tensão em todas as cenas de ação.
Os diálogos são ótimos, misturando humor e sarcasmo, capazes de refletir a forma como “caras” se comunicam.
Entre os coadjuvantes, os destaques são Lori Petty, que dá vida a namorada temperamental de Johnny, e Gary Busey, cuja química com Reeves é notável.
“Point Break” é entretenimento do mais alto nível. Um filme divertido, inteligente, bonito e épico.
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