A quadra de tênis é registrada como um altar. Lucas fica hipnotizado pela beleza de Maggie, o que é ressaltado pela câmera lenta. Até então, era um dia normal, no qual ele mantinha sua rotina solitária de colecionar insetos. As coisas mudam inesperadamente, a vida é dinâmica em tempos de pacatez. O protagonista, que tem 14 anos, é inteligente e fiel aos seus pensamentos. É justamente a autenticidade de Lucas que chama a atenção de Maggie. O período das férias é mágico, marcado por situações delicadas e inocentes. Ele não quer que as aulas voltem, pois sabe que a amada, uma novata na cidade, ao se deparar com a realidade escolar, provavelmente vai se concentrar no seu grupo social.
A escola é um grande espaço de segregação. Cada um sabe a sua posição e qualquer passo adiante é mal visto. Maggie é doce e bonita, sabemos que na hierarquia juvenil, ela estará num patamar elevado. O verão e a natureza permitem que sonhos sejam vislumbrados e que os adolescentes possam se descolar do que é considerado “adequado” e interagir com pessoas genuinamente interessantes. A sequência que se passa num bueiro, ainda no início, sintetiza a obra. Sentados e com as costas coladas uma na outra, os dois escutam um concerto de música clássica. Lucas, apesar de não admitir vulnerabilidades, faz um esforço para se declarar; Maggie, em contrapartida, o agradece pelos ensinamentos e demonstra estar em outra sintonia.
Cappie, o líder do time de futebol americano, é gente boa e salva o protagonista das provocações dos colegas. Ele também o tratava daquela forma, todavia, num período de dificuldade, Lucas o ajudou com as lições de casa. Quando todos vão ao cinema, fica muito nítido o interesse de Maggie pelo jogador, cuja namorada é líder de torcida – algo que Lucas havia descrito como “superficial”. Em determinado momento, Cappie afirma que faz o que pode para evitar que o protagonista não se machuque, o que é, no mínimo, irônico, já que, enquanto diz isso, paquera Maggie.
Jovens como Lucas são levados a sério até certo ponto. Sua desilusão amorosa é “fofa” e seus sentimentos são desconsiderados. Existem aqueles que vivem o amor e aqueles que apenas observam o que gostariam que acontecesse com eles. Lucas se situa na segunda categoria e, mesmo que se esforce e abrace a ideia de Maggie se tornar líder de torcida, nada mudará isso. O diretor David Seltzer se mostra bastante hábil ao expor o cenário sem que palavras sejam ditas. Durante um ensaio do coral, sua câmera passeia pelos rostos, que expressam tudo o que precisamos saber. A fotografia também merece ser enaltecida. Na primeira vez em que Maggie e Cappie se beijam, uma luz vermelha invade seus rostos; por outro lado, Lucas, que observa a cena à distância, fica imerso às sombras. Romeu e Julieta se mataram por não poderem consumir um amor oriundo de mundos distintos. Talvez o protagonista esteja exagerando. As pessoas, de modo geral, tendem a diminuir romances juvenis. Como assumir a posição de mártir na sociedade contemporânea? Fácil, Lucas entra para o time de futebol americano, tendo em mente que se machucará da pior maneira possível.
Essa atitude ganha contornos mais interessantes quando descobrimos que ele mentiu em relação ao ofício dos pais e à sua residência. Na verdade, o protagonista vive num trailer abandonado, com o pai alcoólatra e agressivo – não existe segurança, afeto e diálogo nem na própria casa. É importante salientar que Maggie e Cappie não são antagonistas, pelo contrário. Claro, há uma considerável falta de tato ali (e de sorte), no entanto, Maggie, em nenhum momento, caçoa ou menospreza Lucas. Ela não poupa palavras para elogiá-lo e é honesta ao falar sobre a amizade. Esse é o problema, nesse caso, a palavra amizade tem o efeito de um tiro no peito…
Eu já esperava algo otimista, mas não posso negar o meu descontentamento com o desfecho que não faz jus ao que havia sido estabelecido pelo roteiro.
Corey Haim encarna o protagonista com uma veracidade impressionante. Os sentimentos, as angústias e o medo estão lá, mesmo que ele não os declame. O elenco ainda conta com Kerri Green, Charlie Sheen, no seu período de galã, e Winona Ryder.
“Lucas” é uma pequena joia oitentista sobre o primeiro amor e as eventuais desilusões. Filmes desse tipo costumam ter títulos genéricos. Este, por sua vez, é simples e empático.