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Max e Annie são viciados em jogos de adivinhação e tabuleiro. É assim que eles se conhecem e se apaixonam. A narrativa ágil não perde tempo, sendo o dinamismo da montagem o principal elemento para determinar o laço e um clima descontraído.

Max é competitivo, não perde para ninguém, apenas para Brooks, seu irmão, visto pelo protagonista como um exemplo “inalcançável” a ser seguido. Mesmo sem se verem há um tempo, Max sente sua presença intimidadora, o que é reforçado em seu teste de esperma. O problema é psicológico e o casal sabe de onde vem tal insegurança.

Brooks retorna e é convidado para a famosa noite do jogo. Kevin e Michelle, casados desde os dezenove anos, e Ryan, cujas acompanhantes impressionam pela estupidez e pela futilidade, completam a diversão. O protagonista perde todas as habilidades ao lado do irmão que, por sua vez, ganha sem muito esforço.

O carro vermelho e a luxuosa casa alugada reforçam seu egocentrismo e sua ganância. Brooks decide, então, realizar a maior noite de jogos já vista. Um dos participantes será sequestrado por atores e os demais deverão achá-lo. No entanto, bandidos reais invadem a residência e raptam o anfitrião.

Os diretores John Francis Daley e Jonathan Goldstein brincam com gêneros. A rápida panorâmica em direção à porta e a trilha sonora suscitam tensão, já a intensa briga, somada à mudança de perspectiva e o corte para a sala, onde os outros personagens desfrutam de um belo queijo e acreditam que aquilo faz parte da encenação, provocam risos e elevam a adrenalina. Nas cenas de luta, os cineastas encontram um balanço perfeito entre a homenagem aos clássicos de ação e movimentos improvisados.

Enquanto isso, Kevin descobre que sua esposa transou com uma celebridade no curto período no qual não estavam juntos. Surpreso, ele pressiona Michelle por uma resposta e a piada, por mais repetida que seja, não perde a graça. A situação pode estar um caos e Kevin prefere adivinhar quem foi o felizardo. “Tommy Lee Jones?” “Billy Bob Thornton?” Decidido a mudar sua reputação, Ryan leva Sarah, que não faz o seu estilo, não apenas por ser inteligente, mas por ter uma aparência “cotidiana”. A química entre os dois é inexistente e a falta de interesse é mútua.

Dessa forma, com núcleos e dilemas concretos, os personagens vão à procura de Brooks. A princípio, todos trapaceiam, salientando a fome consensual pelo prêmio – o tal carro vermelho. Max sente o esperma voltando, todavia, se depara com a verdade. Seu irmão é, na verdade, um contrabandista do mercado negro e está sendo perseguido por um criminoso apelidado de “O Búlgaro”. Rapidamente, o jogo vira uma aventura noturna, igualmente perigosa e engraçada.

Os dilemas estabelecidos quebram o frenesi, obrigando os “casais” a confrontarem crises. Kevin e Michelle precisavam de uma pequena turbulência para seguir adiante; a falta de química entre Ryan e Sarah, eventualmente, é subvertida.

O uso de tilt-shift, técnica que gera uma ilusão óptica, “transformando” os espaços urbanos em maquetes, é brilhante – os personagens são peças do jogo, estão inseridos em algo muito maior do que pensam. A velha premissa de “pessoas normais em uma situação extraordinária” é utilizada, com uma diferença significativa: eles são jogadores, podem até correr riscos, mas também se divertem bastante.

Na elaborada sequência, filmada sem cortes, em que todos entram na casa de um milionário a fim de pegar o ovo solicitado pelo “Búlgaro” para soltar Brooks, os seis tocam no objeto, numa clara demonstração de espírito de equipe, enquanto correm de capangas enormes.

O arco de Max é por aceitação própria e, ao descobrir que seu irmão era um fracassado e admirava sua estabilidade, as velhas inseguranças são finalmente desatadas. Claro, não é tão simples assim, ele precisa concluir o jogo, ou seja, salvar Brooks.

Dito isso, mesmo com relações bem amarradas e figuras cativantes, o grande destaque não faz parte do grupo. Interpretado por Jesse Plemons, Gary é o vizinho de Max e Annie. Policial, ele nunca anda desfardado e, desde que sua esposa o abandonou, é rigorosamente ignorado pelo casal principal. Não podemos culpá-los, afinal, ainda que esteja sempre com seu cachorrinho no colo, Gary é um sujeito bizarro, que, por não manifestar bem suas emoções, parece um psicopata.

Plemons controla sua pouca expressividade com maestria, fazendo dele um personagem, simultaneamente, frágil, imprevisível e assustador. Gary influi diretamente na trama, sendo responsável por um plot twist que faz jus à sua personalidade.

No desfecho, a ação ganha contornos ainda mais inusitados, com direito a um capanga destroçado pela turbina de um avião. A reação de Annie, vivida por Rachel McAdams em seu auge cômico, é impagável. Ela não sabe se comemora ou sente pena do criminoso, então esboça as duas coisas timidamente. Sua química com Jason Bateman, que interpreta o protagonista, é um dos grandes baratos do filme e é essencial por nos importarmos com o casal para além do jogo.

Sombrio em sua fotografia e eclético em seu humor, “Game Night” seria o resultado de um projeto comandado por Edgar Wright e David Fincher. Uma das melhores comédias produzidas neste século.

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