O ano de 2000 foi especialíssimo para Steven Soderbergh. Ele venceu o Oscar de direção por “Traffic”, concorreu contra si e ainda viu sua protagonista, Julia Roberts, levar o prêmio de melhor atriz, por “Erin Brockovich”.
Dois filmes completamente diferentes, mas que chamam atenção pela humanidade do realizador.
“Erin Brockovich” é uma obra feita sob medida. O desenvolvimento é satisfatório, o arco da protagonista é significativo e o roteiro não escapa de clichês.
A sua principal qualidade é a capacidade que Soderbergh tem em criar momentos simples e genuinamente tocantes, como aquele em que a protagonista chora ao saber que sua filha de nove meses falou a primeira palavra. Ela fica extremamente emocionada e triste, pois sabia que o trabalho a privou daquele momento e que isso provavelmente aconteceria mais vezes.
Erin não tem um diploma, mas possui qualidades raras. Tem três filhos, não sabe como irá sustentá-los e está sempre sujeita a novidades, em sua grande maioria, negativas.
Ela ama seus filhos e vice-versa. Alguns gestos e pequenas frases significam muito, o afeto é palpável.
O roteiro enfatiza a condição de batalhadora da protagonista e faz questão de dar uma forcinha. Seu vizinho, George, é um motoqueiro, a princípio estereotipado, que se mostra um sujeito compreensivo e sensível. Erin não confia em homens, suas experiências foram péssimas, porém George é diferente. Há uma cena em que os dois se divertem no quarto e ali vemos uma faceta desconhecida da protagonista.
Ela chega a um escritório de advocacia e chama atenção de todos. A composição de Erin é rica, sua presença é extravagante.
Suas roupas são vulgares, assim como seu vocabulário, que não muda nem diante de seus superiores. Essa é a história de uma mulher comum, que faz de tudo para sobreviver e dar um mínimo conforto para os filhos. Mulheres sem muitas oportunidades se identificam com Erin, não só pela falta de “classe”, principalmente pela força de vontade.
Eu não poderia deixar de falar sobre a fantástica atuação de Julia Roberts, que após alguns papéis basicamente idênticos, deu vida a uma personagem real, forte e cheia de energia. A atriz dosa perfeitamente o vigor de Erin em sua luta diária, com momentos sutis e sensíveis.
Sua química com Albert Finney, que interpreta seu chefe, Ed Masry, é sensacional.
Ela surge falando palavrões, usando vestidos curtos e ele é o oposto, a personificação do advogado. Porém, Erin trata seus clientes com carinho e demonstra empatia, algo raro no meio corporativo. Eles brigam, riem e se complementam.
Soderbergh coloca a protagonista em terreno desconhecido. Quando tudo parece óbvio, surge uma burocracia ou um escritório maior querendo controlar o caso.
Sua direção, aliada ao belo trabalho de montagem e do design de produção expõem esse domínio, através de planos que captam a magnitude de uma sala e a humildade da outra.
Não se trata apenas de energia e sentimento, Erin sofre baques, contudo, no final tudo dá certo.
O roteiro foca também na questão do respeito que a protagonista nunca havia recebido e agora era natural. Isso a anima, traz um novo sentido à sua vida, mas acaba a tirando de seus amores.
George, que era diferente dos demais, não é agressivo, mas se sente injustiçado e está certo. Não que Erin estivesse fazendo algo de errado, no entanto, o filme não se limita a ela, existem outros seres humanos ali e George não recebia a devida atenção.
A felicidade pelo reconhecimento e por ajudar os necessitados, é acompanhada por uma leve melancolia, que, obviamente é contornada no final.
A fotografia traz tons saturados de amarelo, que ressaltam a simplicidade do universo da protagonista e a sua vitalidade. Tirando a cena do escritório poderoso, não temos contato com nenhum tipo de luxo.
“Erin Brockovich” apela para alguns clichês, mas é um belo filme, carregado por uma grande atuação.
O que você achou deste conteúdo?
Média da classificação / 5. Número de votos:
Nenhum voto até agora. Seja o primeiro a avaliar!