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“An Officer and a Gentleman” não usa o romance para emocionar jovens apaixonadas por Richard Gere ou fãs de filmes “água com açúcar”. O romance é inserido na narrativa da forma mais orgânica possível e é retratado com absoluta honestidade. Sim, há um casal carismático e, sim, há uma cena final em que os dois triunfam magnificamente. Dito isso, o roteiro tem outras prioridades, o que acaba elevando o romance ao patamar de “união transformadora”. Os personagens, os ambientes e as situações são trabalhados a ponto de conhecermos cada aresta daquele universo. Zack Mayo quer ser um piloto da marinha americana. Na verdade, ele quer se afastar de seu pai abusivo e alcoólatra e do fantasma da morte de sua mãe. A casa bagunçada e escura é um retrato daquilo que o protagonista deseja se livrar.

Foley, o sargento, é apresentado através de planos-detalhe, ressaltando a força da farda – a pele que cobre o homem. Zack é um tanto rebelde, individualista e fatura ilegalmente, vendendo produtos e adereços da farda. Quando Foley acaba com a farra, Zack passa por uma bateria de treinos desumanos. Em meio ao castigo, notamos que a relação entre os dois tem um caráter quase paternal. O protagonista não foi devidamente educado e nunca teve alguém que lhe desse atenção. A resiliência parte de um lugar obscuro de sua alma e o grito de desespero apenas confirma o que já sabíamos: a marinha é a única casa que tem, é a chance de ser diferente do pai. Foley, por sua vez, percebe que não está diante de um simples cadete, mas de um jovem cujo forte temperamento conversa com sua vontade de ser a melhor versão de si. Eles não se abraçam nem dão risadas juntos, todavia, sabemos, pelas trocas de olhares e intensidade das palavras, que se respeitam.

Nos bailes, as mulheres, em busca de uma vida confortável, tentam se ancorar aos cadetes. Casar-se com um piloto é o melhor que podem – ou seja, não podem nada além de seduzir por interesse. A fábrica onde elas trabalham é um espaço de resignação e melancolia. A maioria fala em engravidar e “obrigar” o parceiro a encarar o compromisso. Paula não é como suas colegas e, ao se deparar com Zack, se apaixona. O diretor Taylor Hackford investe em sequências simples e sensíveis que fomentam a intimidade e deixam claro que existe algo de importante ali. O protagonista, imerso a um mundo seco e pouco caloroso, desconhece o termo “amor”. É justamente no fim, quando Zack se forma e não tem ninguém a quem abraçar, que sente falta da única pessoa que o ama genuinamente. Zack tem novas prioridades, pode ter uma família e ser feliz; seu arco é sobre se enxergar como um ser humano feito de carne e osso.

Sid, melhor amigo do protagonista, é um cadete exemplar. Sua família tem uma tradição na marinha e ele carrega o fardo do falecido irmão, que teria trilhado o mesmo caminho. Aos poucos, fica evidente que Sid segue um rígido código de conduta. Aquele não é o seu sonho; aquela não é a sua verdade. Manter um legado é um eufemismo para o suicídio. Diferentemente de Paula, Lynette busca o símbolo de conforto e poder. Sid até se dá conta de que não pode continuar vivendo uma mentira, no entanto, descobre que as juras de amor que escutava também eram mentiras. Hackford sabe que está lidando com um universo sombrio e não alivia para o espectador, que é surpreendido com uma cena especialmente trágica. Nesse sentido, a fotografia é essencial na concepção de uma atmosfera fria.

Tudo serve ao amadurecimento de Zack, que aceita o amor. O tema principal “Up Where we Belong”, cantado por Joe Cocker e Jennifer Warnes, vai ao encontro do tom e da proposta do filme. Richard Gere, ainda no início de carreira, combina introspecção, vulnerabilidade e explosão com bastante destreza.

“An Officer and a Gentleman” foi aclamado na época de seu lançamento e merece ser redescoberto por novas gerações. 

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