“American History X” não é um filme sobre o nazismo. É sobre o poder que o ódio tem perante as pessoas e como esse sentimento não traz nada, além de um ódio cada vez maior até se tornar irreversível – o buraco absoluto.
Esse é propositalmente um filme difícil de se assistir. Há várias cenas fortíssimas de violência, que não estão ali por capricho. Sim, o diretor quer chocar o espectador, mas existe uma mensagem por trás, nada aqui é gratuito.
Derek Vinyard é o líder de um jovem grupo de nazistas. Ele acaba sendo preso, após matar dois homens negros e retorna com a cabeça diferente.
Seu irmão, Danny, foi contaminado pelo seu passado e segue os mesmos passos.
A premissa é excelente e o roteiro permite que seus personagens tenham arcos significativos.
O diretor, Tony Kaye, trabalha bem os espaços e a marginalidade com planos estilosos, contudo, é a partir de close-ups, que ele expõe o ódio intrínseco na sociedade.
Kaye também assina a direção de fotografia.
O passado violento e rebelde de Derek é representado pelo preto e branco. Os flashbacks não trazem momentos de leveza, nem carinho, apenas discursos de ódio e preconceito. As cores refletem os sentimentos do protagonista, que não valoriza os verdadeiros pilares de sua vida.
No presente, Kaye dá ênfase a cores vivas. Após a experiência na prisão, Derek passa a enxergar as coisas com mais clareza e finalmente a entender a repugnância de seus atos. Ele se torna um homem razoável, que ainda tenta encontrar seu espaço na sociedade.
A montagem é fundamental para o desenvolvimento dos personagens. Os flashbacks são esclarecedores e sempre aparecem em um momento oportuno. Eles justificam o presente, tanto de Derek, quanto de Danny.
Em contrapartida, o uso excessivo da câmera lenta torna o filme um pouco pretensioso. O artifício gera um efeito satisfatório em algumas sequências; em contrapartida, em outras é extremamente desnecessário.
A trilha sonora é grandiosa e, assim como a câmera lenta, às vezes nos cansa.
Derek Vinyard é um jovem perdido. Ele não tem um propósito, assim como os seus amigos, que se reúnem para dizer que estão fazendo algo significativo, quando na verdade, vivem em um estado crônico de insatisfação consigo mesmos. São jovens amargos, que olham para os lados e, ao invés de empatia, sentem ódio. Eles têm um texto decorado e o repetem com uma segurança assustadora. Derek é o líder, porém, o mais triste é notar, através do já citado belo trabalho de montagem, que o protagonista sofreu um gradativo processo de lavagem cerebral. Cameron Alexander, presidente do grupo nazista, é parte fundamental, mas o principal culpado foi o seu pai. Em uma determinada cena, vemos Derek antes da transformação – ele era normal.
E logo no início, há outra em que sua cabeça está completamente tomada pelo ódio imposto pelo próprio pai.
Dentro da cadeia, Derek sofre um choque de realidade. O que era tão real e palpável, deixa de fazer sentido e se torna uma grande farsa.
O movimento nazista se move por interesses, o único sujeito amigável é negro e a sua cara enfezada não assusta mais ninguém.
Kaye controla muito bem o tom aqui, há cenas violentas e outras extremamente simpáticas. Derek sente a dor que propagava e chora. Seu único ponto de segurança é Lamont, um jovem negro, condenado a seis anos por ter roubado uma televisão. O roteiro desconstrói o protagonista através de diálogos simples e piadas bobas. Ele sorri e vê a sua frente uma boa pessoa.
Aqui entra o principal destaque do filme: Edward Norton.
Sua atuação é simplesmente fenomenal. O ator com certeza estudou sobre neonazistas, porque o nível de detalhamento é impressionante. Através do olhar, Norton demonstra todo o seu ódio e nos convence como líder. No entanto, o que mais me chamou atenção foi o seu trabalho vocal. Sua retórica não é apenas inflamada, Derek realmente acredita naquelas palavras e Norton as diz com uma honestidade assustadora.
Por outro lado, o ator consegue comover o espectador com a sua transformação. Seu choro é genuíno e a cena final é poderosíssima.
Outro ponto importante em seu desenvolvimento é o cuidado com a família. O ator transmite um senso de proteção a partir de gestos e reações sutis: um olhar de reprovação ou um toque mais carinhoso.
Norton interpreta um personagem trágico, que não lida apenas consigo, mas com o futuro do irmão, que em sua ausência, seguiu os seus passos.
Assim como Derek, Danny usa mal a inteligência que tem. Entretanto, diferente dele, não sentimos uma genuinidade em seu discurso. Danny quer agradar o irmão mais velho e quando percebe que não está, finalmente entra em contato com a realidade. O filme caminha para um final feliz, mas o roteiro é cruel e enfatiza que o ódio e a violência nunca sairão impunes.
Mesmo com excessos, “American History X” é uma obra importante, que sobe de nível graças a performance sensacional de Edward Norton.
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