Dan é um escritor fracassado que trabalha na coluna de obituários e que, por um acaso do destino, se depara com a jovem Alice, por quem rapidamente se apaixona. Um tempo se passa, ele escreveu um livro sobre ela e está em uma sessão de fotos com Anna, uma mulher que enfrenta as dificuldades da separação e que também mexe com o coração de Dan. Alice e os princípios da fotógrafa os afastam, então o escritor decide fazer uma pegadinha, se passando por Anna em um site de relacionamento, marcando um encontro com um dermatologista chamado Larry. O que era uma piada, se torna real e os dois acabam se casando.
Esses são os personagens que permeiam a trama de “Closer”.
Todos são absolutamente frágeis e complexos de formas distintas.
Dan confunde honestidade com bondade, mostrando-se um homem excessivamente inseguro, que é capaz de admitir para Alice que não a quer mais, pois está apaixonado por Anna e, ainda assim, se remoer de ciúmes por imaginá-la com outro sujeito. Existem certas verdades que não possuem sentido algum, são completamente vazias, trazendo apenas dor e Dan é especialmente vidrado por esse tipo de diálogo. Quando as coisas parecem calmas, ele precisa achar um erro e pergunta para Alice: “Por que eu?” Sua insistência doentia por essa “falsa honestidade” o torna indefensável e irritantemente desconfiado. As pessoas erram, se arrependem de certas coisas e Dan não é lá a melhor pessoa para julgar alguém, afinal, sexo e traição estão por todos os lados, sendo quase que uma obrigação na vida dessas pessoas.
Seu grande rival, Larry, é um verdadeiro porco, que personifica todos os trejeitos da “masculinidade tóxica”. Ele surge como um médico tarado e se mostra, ao longo do filme, um sujeito obcecado por machucar seu “adversário” e surpreendentemente frágil, a ponto de não saber dizer quando está feliz, quem o ama verdadeiramente e que chora na frente de uma stripper. Larry é um predador, um homem egoísta e que aparentemente nunca se envolveu profundamente com ninguém. Quando Anna o abandona para ficar com Dan, não é o fim do casamento que o aborrece, mas a insistência em saber quem transa melhor, onde e quando os dois fizeram sexo. Larry deseja Anna, porém não a ama e sabe exatamente como “conquistá-la” novamente. Sua condição para assinar o papel do divórcio é a maior prova de sua canalhice.
Larry também abusa da honestidade e, nesse sentido, é bem parecido com o seu rival. Mesmo dividindo personalidades diferentes, podemos afirmar que os dois homens da trama são extremamente frágeis e agressivos. Nenhum deles encontra o amor verdadeiro, Dan chega até a indicar que terá um final feliz – seja com Anna ou Alice -, mas suas inseguranças e toxicidades o afastam de qualquer envolvimento profundo.
Em contrapartida, as mulheres, ainda que desleais em determinadas situações, querem apenas encontrar alguém que as ame e as tranquilize.
Anna não gostaria de entrar nos jogos de Larry e Dan, no entanto, se vê hipnotizada pelos dois e, logo depois, repelida, sem que tenha muitas chances para se afastar e recomeçar sua vida. A fotógrafa é de longe a personagem mais sofrida, solitária e melancólica do filme. Anna se encanta pela firmeza de Larry e pela delicadeza de Dan, mas percebe que estas não são as suas principais características, contudo, está tão imersa nesse triângulo, que não encontra forças para sair dele. Ela faz coisas das quais sente nojo, as diz com vergonha e é obrigada a contar para Larry os detalhes íntimos de sua relação com Dan. Anna não é essa pessoa e isso a magoa profundamente. No fim, seu rosto demonstra uma apatia aparentemente irremediável.
Alice é uma stripper que não faz muita ideia de quem é, nem de que objetivos quer alcançar na vida. Ela chega em Londres sem grandes pretensões e se apaixona por Dan. Diferentemente de Anna, Alice, apesar de chorar e expor sua dor, é uma mulher forte e madura, que toma atitudes por conta própria, não se vê presa a qualquer tipo de amarra e é capaz de fazer um turrão como Larry se desnudar e chorar, ainda que a única pessoa pelada na sala seja ela. Alice transa com o dermatologista não para magoar Dan, apenas porque quis. Um desejo vazio não quer dizer nada e ela volta para o escritor com o coração cheio de amor, entretanto, não se sente capaz de suportar suas inseguranças e “sinceridades”, então desaparece, buscando uma nova aparência, um novo nome e uma nova personalidade.
A direção de arte e a fotografia combinam, optando por ambientes e tons frios, que conversam com o relacionamento entre os personagens e a cor vermelha, cuja conotação envolve luxúria e vingança.
O filme contém diversos saltos temporais e a montagem os torna, simultaneamente, invisíveis e coesos. Certos cortes mantêm um nível interessante de tensão entre os “casais”.
Mike Nichols trabalha muito bem sua mise en scéne, criando barreiras invisíveis e posicionando seus atores de uma forma capaz de expor sentimentos presos dentro dos personagens – poder, tristeza, mágoa, arrependimento e ódio.
Seus close ups são expressivos, cheios de intenção, vigor e uma potência vulgar e melancólica.
O uso de câmera lenta, tanto no início, quanto no final, é preciso, principalmente pela diferença entre os dois momentos. O primeiro nos indica algo que não se concretiza, enquanto o segundo representa uma nova tentativa.
O plano-detalhe nos olhos de Larry ao observar Alice nua fortifica a sua presença animalesca e predatória em tela.
Jude Law está excelente como Dan, um escritor cujo fracasso não advém da falta de talento, mas de confiança. O ator faz do personagem um sujeito, simultaneamente, bondoso, vitimista, agressivo e insuportável. Sentimos pena dele e não queremos o seu mal, mas não conseguimos ser empáticos com um homem tão neurótico, inseguro e hipócrita.
Julia Roberts oferece uma performance calcada na introspecção, no sofrimento e no arrependimento por ter se envolvido com pessoas tão invasivas.
Natalie Portman já esteve mais bonita, porém nunca tão sexy e determinada. Alice é jovem, mas é a personagem mais madura e forte da trama, esbanjando emoções verdadeiras, controle perante os homens e atitudes certeiras.
Clive Owen está sensacional como esse homem detestável, sarcástico, vingativo e, de certa forma, engraçado. Sua atuação talvez seja a mais marcante, não à toa, ele foi lembrado pela Academia na cerimônia de 2005.
Repleto de diálogos brilhantes, “Closer” é um filme sobre relações adultas e não envolve nenhuma cena “quente”, provando ser um estudo sobre o sexo como o nosso elo mais primitivo, o que causa mais mágoas e cicatrizes.
Ninguém está certo em “Closer”, na verdade, todos estão errados e o grande mérito do roteiro é conseguir fazer com que o espectador se espante com esses personagens e se identifique com os seus dilemas. Ao subir dos créditos, talvez repensemos certas atitudes, quem somos e para onde queremos levar nossas vidas amorosas.
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