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Em um país africano fictício, o caos se instaura após os rebeldes darem início a uma guerra civil.

Maria sente que fracassou enquanto mãe, detesta a ideia de retornar à França e trata a sua plantação de café com enorme afeto. As pessoas fazem o possível para fugir, inclusive seus empregados, e Maria segue lá, intacta, amarrada ao seu único ponto de estabilidade.

Um grupo de desabrigados se junta a ela, mas são os rostos desolados, sempre destacados por Claire Denis, que chamam a atenção. Um misto de medo e desesperança toma conta do povo. Eles não sabem de que lado estão, querem apenas sobreviver.

Em determinado momento, um personagem diz que sua filha está doente, que não se mexe mais, e que não sabe do que se trata.

“Estou velho demais para me acostumar fora daqui”. Esse é o clima em “White Material” e a cineasta, com seu olhar empático e cuidadoso, explora a dor a partir de uma abordagem quase documental.

Os planos fechados extraem as reações mais honestas possíveis, além de conferirem uma sensação de claustrofobia e perigo. A câmera na mão, artifício recorrente nos filmes de Denis, é essencial na fomentação de uma atmosfera crua e visceral. Os planos abertos apresentam paisagens destruídas e ratificam o potencial desperdiçado de terras belíssimas.

O silêncio é absoluto; alguns se escondem, outros não tem nada a dizer. O suspense também vem daí; a brutalidade acontece pelas costas, quando ninguém espera e não tem tempo de pedir ajuda – convenhamos, seria inútil.

A maioria dos assassinatos não são postos em tela. Por que? A guerra não faz sentido e, ao evitar a ação, Denis cria uma lógica similar. A brutalidade não lhe interessa, é irracional, e o choque ao nos depararmos com um personagem que estava bem minutos atrás, morto, é maior.

As crianças carregam fuzis e facões, perderam a inocência exclusiva a uma breve fase. Elas foram corrompidas, são fantoches de uma revolução que não entendem.

Maria anda em busca de soluções para sua plantação. Sua guerra é interna, é por encontrar sentido a uma existência que se esvazia diariamente. O café foi o que sobrou e ela luta por sua manutenção com unhas e dentes. Abandoná-lo seria como desistir da própria vida. Seu sócio (e ex-marido) está negociando a plantação com o prefeito local a fim de abater dívidas. Ou seja, durante o filme inteiro, Maria luta por algo que, em breve, não será seu.

A morte de seu filho, Manuel, reforça que, sim, a protagonista tinha outros amores e que sua situação poderia piorar. A guerra a afeta de todas as formas possíveis.

Manuel tem problemas psicológicos. Quando é atacado por jovens rebeldes, em vez de se apavorar, encontra um “eixo” para sua vida, até então, pacata.

A montagem paralela é brilhantemente utilizada nessa sequência, suscitando uma tensão crescente e orgânica.

O líder dos rebeldes, o “Boxeador”, é introduzido na trama já com os dias contados. O plano-detalhe de seu ferimento é a prova de que aquela é uma batalha perdida.

A direção de arte realiza um trabalho formidável nas casas – verdadeiros barracos – e nos ambientes internos em geral, responsáveis por potencializar a situação caótica do país.

A van é um símbolo importante. As pessoas se amontoam do lado de fora e no teto. Não cabe tanta gente ali, mas eles dão um jeito, pois estão com medo, precisam tentar, precisam seguir adiante.

Isabelle Huppert é uma atriz fenomenal, possivelmente a melhor de sua geração. Ela não precisa de muito para transmitir decepção, ansiedade e ódio. Maria e Manuel passam pouco tempo juntos, no entanto, a maneira vagarosa que Huppert abre a porta do filho é suficiente para captarmos seu carinho materno. Seu olhar é poderoso e sua capacidade de mergulhar nos mais diversos papéis, sem vaidade ou preconceito, é impressionante.

“White Material” é um excelente filme, um dos melhores de Claire Denis.

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