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A trilha sonora que evoca tensão, a explosão e os créditos em cor de fogo servem de prenúncio para o que irá acontecer. Após a impactante introdução, vemos Harper em primeiro plano e, ao fundo, o banco que ele e seus comparsas planejam assaltar. O terno, o chapéu, o charme na retórica e a perspicácia observadora envolvem o espectador numa atmosfera Noir.

Harper é o líder do grupo, o que é ressaltado por suas falas e por sua centralização nos enquadramentos. Dill, interpretado pelo icônico Lee Marvin, aparenta ser inexperiente e bruto. Chapman é o mais cerebral e astuto, fechando um trio de personalidades distintas. O assalto parece simples; não existem pontas soltas; tudo foi pensado e decorado. 

O roteiro, ao mesmo tempo em que apresenta os criminosos, introduz outros personagens, ainda mais interessantes, e desenvolve seus conflitos. Shelley Martin é um pai de família feliz, com um emprego estável. Ele vive numa bela casa e ama sua esposa; todavia, Steve, seu filho mais velho, se envolveu numa briga com um amigo da escola. O motivo: o pai do amigo foi um “herói de guerra” mais condecorado. A escuridão azulada do quarto do primogênito reflete a impotência de Martin, que, num processo de amadurecimento, admite: “Todo pai quer ser um herói para seu filho. Alguns de nós simplesmente não conseguem, isso é tudo”. Steve, ainda pequeno e preso a conceitos embrionários, é incapaz de perceber a bravura do pai. 

Boyd Fairchild é um homem rico cujo cotidiano se baseia em tentar entrar em contato com Emily, sua esposa, que está sempre sumida ou indisponível. Infeliz, Boyd encontra no álcool o seu companheiro leal e inseparável. 

Emily aderiu a uma vida de deslumbramentos, passando os dias em clubes de golfe, mesmo não sendo fã do esporte; e traindo o marido, mesmo sem saber o porquê. A mansão transmite a ideia de perfeição, contrastando com a realidade. Algo aconteceu, o trem descarrilou, mas o velho amor segue intacto. Em um diálogo poderoso, que visa a reconciliação, o casal inicia distante, de costas; depois, eles se abraçam, concordando com uma nova chance e uma viagem transformadora – ao longo da narrativa, Fleischer prova ser um cineasta perfeccionista em relação a mise en scène e este é um belo exemplo de como a força dos enquadramentos e a disposição dos personagens valem mais do que as próprias palavras. 

Ainda temos Harry Reeves, gerente do banco, um sujeito enigmático que esconde alguns segredos. À noite, quando passeia com seu cachorro, ele espia Linda Sherman, por quem é atraído. Essa situação se repete ao longo dos dias, o que serve para salientar sua insegurança e timidez. É como se seu corpo inteiro fosse dominado por cãibras, impedindo-o de tomar uma ação ou dizer algo. O sábado violento, enfim, chega. A essa altura, já conhecemos e nos importamos com todos os personagens, que, de alguma forma, serão influenciados pelo assalto. A câmera de Fleischer destaca a minúcia dos criminosos e a carpintaria do plano. Como previsto, não há grandes empecilhos para o trio; no entanto, eles não esperavam que Harry, num lapso de coragem, tomasse uma atitude drástica. A câmera não provoca suspense, até, suavemente, nos levar a uma arma escondida na gaveta. A partir daí, a violência, em diferentes ambientes, começa. A opção por colocar o dia da semana no título é inteligente, pois, no fim, podemos afirmar que aquele sábado foi definitivo para os envolvidos. O roteiro não teme a tragédia e a controla com uma bela dose de “redenção” – podem ficar tranquilos, não entrarei em terreno de spoilers. O mais fascinante em “Violent Saturday” é a coragem de Fleischer e do roteirista em mesclar o Noir/filme de assalto com um melodrama cheio de vitalidade e delicadeza. Antes do clímax, Fleischer, invariavelmente, coloca os bandidos nos mesmos espaços dos demais personagens, o que, de certa forma, ajuda a construir o terreno. 

Victor Mature está fantástico, mas o principal destaque é Richard Egan, que oferece uma performance repleta de vulnerabilidade, autodesprezo e uma elegância decadente. 

“Violent Saturday” é um filmaço e me causa espanto o fato dele não ser considerado um clássico.

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