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O trem sai do túnel. Leo está tentando sair da escuridão. O que é um ser produtivo? Jogados na sociedade, os ex-detentos têm a missão de se adequar ao sistema. “The Yards” poderia ser um filme da década de 70, dirigido por Sidney Lumet ou Francis Ford Coppola. James Gray tem a categoria para lidar com esse tipo de história; é um cineasta que não tem pressa para estabelecer seus temas. 

Após cumprir sua pena na prisão, Leo conta com a ajuda de Willie, seu grande amigo, e Frank, seu tio, para voltar à ativa. Eles trabalham no metrô de Nova Iorque, lidando com licitações e grandes contratos. O rosto de Leo denota cansaço, melancolia e uma vontade de sair das curvas da ilegalidade. Willie é ambicioso, o que pode ser reparado em seu figurino e na maneira como aborda as pessoas. Diferentemente do protagonista, que quer apenas se endireitar, Willie acredita no sonho americano – ou seja, na possibilidade de prosperar sem escrúpulos. Como se enriquece nesse meio? Subornando os poderosos, eliminando a competição. Leo é seduzido pela ideia, mas, sem tardar, percebe que é apenas um homem pequeno preso a um sistema de tubarões. Em uma operação teoricamente simples, Willie mata alguém e Leo fere um policial. Gray retrata a jornada solitária do homem produtivo como um retorno à escuridão. O protagonista tem duas opções: ser devorado pelo sistema ou tornar-se maior do que ele. 

Em determinado momento, Gray utiliza um travelling lateral para registrar os rostos de diversos oficiais da lei e da justiça. Todos foram corrompidos pela ganância e pelo medo. A escória da sociedade veste belos uniformes, decide o futuro da nação e opera conforme seus próprios interesses. Frank sabe que, para seguir no topo da cadeia alimentar, deve eliminar os elos que exponham os crimes. Leo é um alvo fácil – e é o único que não vendeu sua alma. Na cena da confusão, o cineasta o enquadra a partir de um plongée, enfatizando sua fragilidade diante do contexto.

Gray cerca as figuras centrais de personagens secundários interessantes. Val, mãe de Leo, sonha em ver seu filho de terno. Solitária e afetuosa, ela sabe que dificilmente encontrará paz neste plano. Erica, prima do protagonista e noiva de Willie, é quem confere maior complexidade emocional à narrativa. Juntos, os três formam um triângulo amoroso simbólico. Erica fala em amor e na fomentação de uma família, expondo a falência moral de Willie, que, perdido em seus delírios de grandeza, demonstra ser um sujeito patético, capaz de colocar tudo a perder. A boate de luzes vermelhas define o seu caráter falho. Leo é atraído pela beleza da prima, o que fica evidente em seu olhar frustrado ao testemunhar o pedido de casamento de Willie. Frank é o chefe paternal que eleva a família até o momento em que ela interfere em seus negócios. A fotografia imerge os personagens na escuridão – seja pela desesperança, seja pela vulnerabilidade, seja pelo medo, seja imoralidade -, tratando as sombras como um símbolo fundamental. Gray investe numa tensão silenciosa, respeitando os meandros do universo concebido e provando ser um verdadeiro arquiteto da sétima arte – não é a adrenalina que chama a atenção, mas a paciência para fazer as escolhas certas. 

O sistema é maior que todos que se sujeitam a ele. A solução é desmascará-lo com a consciência de que não há salvação, apenas a esperança por dias melhores. O olhar de Leo, antes de dor e cansaço, exala repulsa e ódio pela corrupção. A trilha sonora, como costuma ser nos filmes de Gray, suscita um ar trágico e poderoso. O elenco é recheado de talentos notáveis: Joaquin Phoenix, Charlize Theron, James Caan, Ellen Burstyn e Faye Dunaway. Dito isso, o principal destaque é Mark Wahlberg, que encarna o protagonista com a humanidade requerida. “The Yards” foi a primeira obra prima de James Gray.

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