Skip to main content

Baseado no livro homônimo de Giuliano da Empoli, “The Wizard of the Kremlin” narra a trajetória de Vadim Baranov – personagem inspirado em Vladislav Surkov -, até se tornar o conselheiro/mentor de Vladimir Putin. Durante a década de 90, em meio a um período de transformações culturais na Rússia, Baranov, ainda jovem, estabeleceu-se como um jovem à frente de seu tempo.

Ele iniciou no teatro, produzindo peças; no entanto, tomado pela ambição, migrou para a televisão, onde fomentou o sucesso de reality shows. Baranov é volátil, o tipo de pessoa que não faz concessões para alterar a realidade e que está sempre atento às tendências. 

Após o fim da União Soviética, o sentimento era, em todos os sentidos, de libertação. As roupas extravagantes, os “experimentos” sexuais, a música punk, as boates e as ideias capitalistas começaram a ganhar corpo num lugar antes conhecido como uma prisão mascarada de país. Bem-sucedido, Baranov é convidado para trabalhar na campanha do novo líder russo, um homem jovem e atlético, contrapondo o perfil de seu antecessor. Na Rússia, o poder é mais importante que o dinheiro. A fim de retornar a um estilo de governo vertical, Baranov implementa seus ideais na política, iniciando algo tão danoso (ou mais) que a União Soviética. 

Putin, a princípio, comedido, prova ser um sujeito insaciável, como um cachorro que nunca se cansa de comer. Seus atos, sem a ajuda do “mago”, soariam juvenis e seriam vencidos pelo seu próprio ímpeto. Baranov criou o “Tsar” e transformou a Rússia no centro do caos e da desesperança. A formação de oposições, os bombardeios, o controle da internet a partir de cliques, não de argumentos, e a anexação da Crimeia são movimentos estratégicos num jogo de perpetuação. Baranov não pensa num partido ou em planos de governo, mas na concentração absoluta do povo, que, rodeado pela desordem, enxerga em Putin a figura do líder forte, o salvador da pátria – o medo e a impotência são os principais combustíveis.

O que fazer com os verdadeiros opositores? Fácil, prendê-los. De certa forma, não deixa de ser fascinante ver a mente de Baranov acesa, pensando em meios de esconder o “Tsar” na escuridão do poder. Nas reuniões, ele fala como um Deus diante de crianças; um fantasma que sabe a hora certa de apertar os botões vermelhos. A potência de “The Wizard of the Kremlin” se deve, quase exclusivamente, à performance assombrosa de Paul Dano. O ator mais subestimado da atualidade surge tão frio e cínico, que seu inglês, por vezes, soa como russo. Antes de entrar em contato com a política, Baranov, apesar de já impressionar pelo intelecto, aparenta ser um jovem adepto das tendências da época. Os espaços em que transita e seu figurino, neste período inicial, também conversam com tais características. Quando Baranov percebe que Ksenia, sua namorada, está prestes a lhe abandonar, ele não contesta ou tenta se defender, apenas sai. São essas sutilezas que compõem o personagem e que tornam o seu arco crível.

Em sua versão de “mago”, Baranov passa a vestir ternos e a habitar espaços que, por mais luxuosos que sejam, exalam frieza. Em um primeiro momento, Putin é a figura de destaque, com o protagonista agindo mais na surdina, como um bom ouvinte. Cada vez mais imerso no jogo estratégico e no labiríntico mundo político, Baranov toma o posto principal. Ele não ri à toa, mas porque sabe que é mais esperto que todos ali; ele nunca se exalta, nem mesmo em medidas emergenciais. Baranov transmite serenidade a ponto de ser assustador; todavia, Dano consegue desassociá-lo da imagem de monstro absoluto. A pausa ao saber que vai ser pai, o grito em busca de Ksenia e o trato com a filha são demonstrações de carinho de um homem cuja alma apodrecida não destruiu inteiramente sua humanidade – não é simples dizer isso, mas Dano atinge tal proeza. 

No papel de Putin, Jude Law está apenas ok – perto de seu parceiro de cena, ele parece um iniciante. O cineasta Olivier Assayas acredita muito no potencial de Dano; afinal, seu filme é extremamente dependente da performance central. Sua direção é burocrática; não existem sequências marcantes e Assayas não faz esforço para dizer algo com seus enquadramentos e movimentos de câmera. A estrutura é um tanto pragmática e exagera na fragmentação – ao menos, os fades servem como um símbolo narrativo; quando eles aparecem, temos ideia do que nos aguarda. 

“The Wizard of the Kremlin” não é tão poderoso quanto sugere, mas não deixa de ser um ótimo filme.

O que você achou deste conteúdo?

Média da classificação / 5. Número de votos:

Nenhum voto até agora. Seja o primeiro a avaliar!