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Após o plano porcamente executado para capturar Eddie Quist, um serial killer, Karen, a jornalista usada como isca, fica traumatizada e começa a ter alucinações constantes. Ela e Bill, seu marido, são convidados a passarem um tempo na “Colônia”, uma espécie de centro terapêutico isolado do meio urbano. A trama é apenas um veículo para o que realmente importa. A escuridão e o plano-detalhe da boca de Eddie já servem de aperitivo para a fomentação da atmosfera aterrorizante idealizada por Joe Dante. Sabemos que este não é um drama psicológico e, assim como o cineasta, não ligamos para a recuperação da protagonista. Em algum momento, o sangue será jorrado e criaturas bizarras aparecerão. A narrativa é cuidadosa a ponto de nos prender e de construir, a todo instante, a sensação de que há algo estranho naquele local.

A floresta esfumaçada, os pacientes peculiares, a câmera que tenta localizar o uivo e os close ups constituem o arsenal de um diretor que sabe mexer com as emoções do espectador. O plano subjetivo e o dolly zoom não podem ser utilizados sem propósito. A tensão é gradual e deixa de ser sugestiva quando Bill é atacado por um animal. Ele é vegetariano, todavia, após o incidente, devora um belo pedaço de carne. Dante tem noção da magnitude do que tem a apresentar e não se apressa. O filme não precisa dos lobisomens para ser assustador. A montagem e a direção dialogam com nossos instintos primitivos, alongando o suspense a ponto de desejarmos que o monstro apareça logo. Karen não está sozinha, afinal, Chris e Terry, seus amigos, estão a caminho da “Colônia”.

O roteiro aposta numa metalinguagem inteligente e respeita a própria mitologia. “Isso é bobagem de Hollywood. O lobisomem clássico pode se transformar na hora que quiser, seja dia ou noite”. E, claro, as balas de prata, citadas nesta cena, serão importantes no fim. Todos ali estão mancomunados; todos fazem parte da mesma tribo. Não que isso seja uma surpresa, no entanto, é inegável que, aos poucos, as coisas se tornam mais desesperadoras. A transformação de Eddie, que, pelo aspecto cadavérico já gerava arrepios, está na galeria de sequências mais impressionantes e angustiantes postas num filme de terror. Os efeitos práticos e a maquiagem são tão espetaculares, que Dante faz questão de usar planos-detalhe para mostrar partes específicas do corpo deformado e peludo. Nesse aspecto, “The Howling” não deve nada a “A Mosca”, “O Exorcista” e “Um Lobisomem Americano em Londres”, por exemplo.

A superioridade numérica num espaço pequeno é suficiente para apavorar e estabelecer claustrofobia. A fotografia, através da escuridão, das sombras e de feixes vermelhos, também evoca tal sensação, colocando os humanos numa posição de vulnerabilidade. Dante opta por um desfecho corajoso e irônico, que quebra certas convenções e critica o sensacionalismo nos programas televisivos. “Cada coisa que fazem com efeitos especiais hoje em dia!”

Os atores funcionam como engrenagens competentes para que o show de horror funcione. As interpretações beiram o esquecível, o que não é um demérito. “The Howling” é simples em suas ideias e irretocável em sua execução. Ao lado de “Um Lobisomem Americano em Londres” – o fato dos dois terem sido lançados em 1981 é curioso -, é o filme definitivo sobre lobisomens.

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