John Garnett é um dançarino que está prestes a abandonar a carreira para se tornar um apostador profissional e se casar. Seu agente e seus colegas, sabendo que essa decisão interferiria diretamente em seus futuros, dão um jeito de enrolá-lo, fazendo-o chegar atrasado na própria cerimônia matrimonial.
O pai de Margaret, que já não era um fã de Garnett, passa a odiá-lo com força. No entanto, parece disposto a esquecer o rancor quando o protagonista promete ganhar vinte e cinco mil dólares em troca de uma nova chance. Ali mesmo, na frente de Margaret, os dois a negociam como um objeto valioso.
John parte para Nova Iorque com o seu agente trambiqueiro e acaba esbarrando em Penny, que já cria uma certa antipatia pelos dois. Por acaso, ela dá aula de dança e como um bom cavalheiro, o protagonista vai ao Studio para se desculpar pelo pequeno incidente e também, é claro, para irritá-la. Ele exige que suas aulas sejam com Penny e demonstra uma tremenda dificuldade para mexer os seus pés. O mal humor da professora leva a sua demissão, que só é impedida graças a John, que expõe o que ela o “ensinou” nesse curto período, provando para Penny que era um grande dançarino e que juntos, poderiam formar uma dupla de sucesso.
Fred Astaire e Ginger Rogers fizeram alguns filmes juntos que contêm uma série de qualidades similares: um timing cômico excelente, ótimos coadjuvantes, uma trama romântica repleta de mal-entendidos, uma química inigualável e números musicais envolvendo danças absolutamente fascinantes.
Os dois atuam com seus corpos, tão delicados e expressivos quanto um poema.
A trama não depende das coreografias, o roteiro é inteligente, envolve seus coadjuvantes de uma maneira interessante, nunca esconde o que acontecerá no final e apresenta reviravoltas que engrandecem o tom da obra.
John e Penny se apaixonam, mas não podem ficar juntos, afinal, o protagonista estava comprometido.
Pop, o já citado agente, é o responsável por manter uma certa distância entre os dois, enquanto Mabel, amiga de Penny, faz de tudo para deixá-los a sós. Esse embate silencioso é engraçadíssimo, graças ao carisma de Victor Moore e de Helen Broderick, que dão vida aos coadjuvantes.
Astaire controla suas emoções com muito charme. Em um dos melhores números musicais, Rogers canta a música “A Fine Romance”, em que pergunta que tipo de amor é esse, sem beijos e abraços.
John tenta ser frio, porém não consegue, essa não é a sua personalidade e Penny era, sem dúvida alguma, mais especial que Margaret.
Conquistas e reconquistas permeiam o Swing Time, que chega a um estado de tranquilidade plena apenas no fim. Quando o protagonista decide que esquecerá sua noiva, Pop acaba se precipitando e conta toda a história para Penny, que se machuca.
O regente do salão em que os dois dançam é apaixonado por ela e se opõe a tocar uma música para seu “inimigo”. John, viciado em apostas – algo que aborrece profundamente Penny -, compra o salão e obriga Ricardo a reger sua orquestra. “Swing Time” é movido por esse tipo de charme e sarcasmo. Astaire, em tese, nunca seria um galã, pelos padrões estéticos mais rígidos, mas suas qualidades eram tantas que acabaram o alçando a esse status.
Os empecilhos surgem e desaparecem, dando um ritmo frenético ao filme, que varia entre o drama e a comédia. Quando Penny parece disposta a esquecer a noiva de John e admitir que o ama, ela até o beija – percebam que não vemos a cena, que é guardada para o público apenas em seu desfecho -, entretanto, pouco tempo depois se depara com Margaret e volta a enfrentar as mesmas desconfianças.
Ela decide, então, se casar com Ricardo, não por amor, mas por ódio e falta de opção. Contudo, o roteiro encaixa uma série de situações factíveis e engraçadas, que funcionam como uma rima com o início e que dão aos protagonistas o tão esperado final.
“Swing Time” não é um filme dependente de grandes invenções por parte da direção ou da montagem, o espetáculo está nas interpretações, na capacidade do roteiro de criar humor, complicações e momentos genuinamente doces e na química entre Rogers e Astaire.
A primeira dança, “A Fine Romance”, a valsa e “Bojangles Of Harlem” já valem o ingresso e são provas concretas de que, enquanto dançarinos e artistas que atuavam com seus corpos, Astaire e Rogers serão eternamente inalcançáveis.
No entanto, a versão do protagonista de “The Way You Look Tonight”, que exala sentimentos e termina com um toque sutil de humor, e, principalmente, “Never Gonna Dance” são as verdadeiras pérolas dentro dessa deliciosa obra prima. Os dois se movimentam de acordo com a orquestra, parecem flutuar e transitam perfeitamente entre o minimalismo e o grandioso. Poucas sequências de dança são tão perfeitas, emocionalmente ricas e belas.
Astaire e Rogers se saem muito bem na parte cômica, mas seria injusto se não destacasse o talento de Victor Moore, que engana a todos com os seus truques de cartas e faz caras e bocas impagáveis. A dinâmica entre ele e o protagonista, como amigos e parceiros merece elogios.
George Stevens sabe quem são as estrelas de seu filme. Seus longos planos permitem que o espectador aprecie de fato os passos de Astaire e Rogers; sua mise en scéne, principalmente na sequência inicial em que John é espremido por seus colegas e em “Never Gonna Dance”, é fascinante. Tudo se encaixa milimetricamente, os protagonistas começam e terminam no ponto certo do palco. Eles sempre estão perfeitamente posicionados dentro do quadro. A cena em que John vê Penny e Ricardo juntos é interessante, pois vislumbramos o casal pelo reflexo do espelho e depois pelo olhar melancólico de Astaire.
O design de produção tem a cara da antiga Hollywood. Os cenários são elegantes, magníficos e imponentes, assim como o figurino dos personagens.
“Swing Time” é uma aula de como realizar um musical. Os novos diretores podem até tentar reinventar o gênero, mas nada se compara aos realizados nesse período.
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