Skip to main content

“Passei seis anos na cadeia. Queria me sentir livre, ver as luzes, dar uma volta…”

Max Dembo está sob liberdade condicional e sonha com uma vida normal, em ser um sujeito comum. Não subestimamos sua reputação, notamos o autocontrole do protagonista e a sua intenção de ser reintegrado à sociedade.

Earl, seu agente da condicional, em contrapartida, faz o possível para medir seus passos e lembrá-lo de que as ruas podem até não ter grades, todavia, ele segue sendo observado.

O clima hostil entre os dois é quebrado quando fazem um acordo e o diretor Ulu Grosbard os enquadra juntos novamente – claro, com Earl em primeiro plano. Seu novo quarto é pequeno, decadente e tomado por tons pastéis. Max não reclama, está ansioso com a nova chance e estabelece metas. Ele se interessa por Jenny, que trabalha na agência de empregos e, assim que recebe seu primeiro salário numa fábrica de latas, a convida para sair. Ela é empática, não julga o protagonista, nem o trata como um pobre coitado. Talvez seja um sintoma de sua solidão. Na prisão, o que conta é o caráter e a resistência; nas ruas, as posses delimitam seu espaço.

Ele acredita que está no caminho certo e tem noção do quão tênue é a corda pela qual caminha. A mulher de Willy, seu antigo parceiro, pede ao protagonista para esquecê-lo, não quer influências negativas na sua casa. Todavia, quem deveria tomar cuidado é Max, que retorna à cadeia após um descuido do amigo. Sua expressão muda, não denota mais fragilidade e remorso, apenas ódio e contentamento.

Certas coisas não têm conserto. Certas pessoas não têm para onde fugir. Ele tentou, no entanto, até quando o esforço é genuíno, o passado e o azar fazem questão de colocá-lo em seu devido lugar. Max acredita nisso, promete a si mesmo que não abandonará sua vocação. A tragédia é anunciada e reforçada com o apoio de Jenny, que vira o combustível para o protagonista voltar ao crime.

O homem de prazeres simples não existia, foi o mais perto que ele chegou de ser socialmente aceito. A presença do vermelho é recorrente, tanto na direção de arte, quanto na fotografia, seja na rua, no bar, no restaurante ou no banco. Em determinado momento, a cor assume uma conotação amorosa, entretanto, na maioria das vezes, salienta a violência que circunda sua existência.

Ao lado de Jerry, Max retorna à ação, que, como tudo nesse filme, é retratada cruamente, evitando a glamourização. Quando o protagonista invade uma loja a fim de pegar uma espingarda, não sentimos nada além de cansaço. Max está ligado às sombras, à escuridão, sua pele arde. Ao movimentar a câmera e fechar o quadro, Grosbard gera tensão, todavia, sua abordagem nas cenas de assalto preza pelo realismo e pela expressividade dos personagens, que parecem estar à beira de um colapso nervoso.

Em meio aos crimes, Max faz o possível para provar a Jenny que é capaz de sustentá-la e fazê-la feliz. O protagonista, imerso na lama, não percebe que, a cada passo que dá, fica mais próximo do penhasco. A fuga é uma ilusão, uma ideia bonita. Os roubos podem não sair como o planejado. E aí?

“O que você vai fazer”? O silêncio é autoexplicativo. Max não está em um videogame, no fundo, sempre soube que acabaria preso novamente. As celas, as beliches, a humilhação, a intimidação… por mais triste que seja, essa sempre foi a sua casa.

Em determinado momento, ele se olha no espelho, como se buscasse um reflexo que lhe agradasse. No mesmo ambiente, Willy se droga – é a maldição que o persegue.

Dustin Hoffman oferece uma das melhores performances da década de setenta. No início, seu olhar e as falas pausadas transmitem vulnerabilidade e solidão. Aos poucos, ele incorpora agitação e imprevisibilidade nos seus gestos. A aceitação está em seu rosto que, numa das sequências definitivas, passa um ar de psicopatia. Hoffman está alinhado com Grosbard. Não há excessos em sua interpretação, é tudo muito honesto e visceral.

A trilha sonora complementa brilhantemente a narrativa, mantendo o tom pessimista sem se intrometer demais.

“Straight Time” é uma obra muito característica da Nova Hollywood, em sua abordagem, tema e protagonista. 

 

 

 

 

 

 

 

O que você achou deste conteúdo?

Média da classificação / 5. Número de votos:

Nenhum voto até agora. Seja o primeiro a avaliar!