Skip to main content

Melinda e Dan buscam ajuda profissional para salvar seu casamento. O “Sr. Feliz” de Calvin não tem levantado, o que tem deixado Melinda deprimida, principalmente após descobrir que ele a traiu com uma garçonete. Emily Paige é uma terapeuta de casais, mesmo tendo se divorciado três vezes. Ao captar o estado de Melinda, ela a recomenda a Roger Klink, um “especialista em depressão”.

Roger parece uma bomba relógio; eu não me recordo de outro personagem tão nervoso e inquieto. Ele acabou de abandonar sua esposa, com quem se casou por um equívoco gramatical, e está com os hormônios à flor da pele. Roger não tem a intenção de atender novos pacientes e, de imediato, trata Melinda como uma mulher que conhecera, redundando o encontro numa cena de sexo selvagem no elevador do edifício empresarial. A relação terapêutica/pessoal continua, até que Melinda, no auge de sua ingenuidade, relata tudo, com detalhes, para Dan e Emily, que, por algum motivo velado, resolve processar Roger, com a intenção de cassar sua licença. 

“Speaking of Sex” é uma Screwball Comedy, ou seja, uma comédia maluca. O grande mérito do diretor John McNaughton é compreender a natureza caótica deste subgênero. As transições, movidas por cortinas, o timing cômico dos cortes, os rápidos movimentos de câmera, o uso pontual de ângulos holandeses e aceleração da imagem são artifícios que transformam a narrativa numa engrenagem que caminha, exponencialmente, para uma insanidade luxuriosa. Todos os personagens, em menor ou maior grau, querem transar, seja no elevador, seja no consultório, seja na sala de depoimento, que, por sinal, é marcada pela cor vermelha. McNaughton também é capaz de sutilezas, como, por exemplo, mudar o posicionamento de Melinda na sala de Emily, após “curar” sua depressão com a ajuda de Roger. Esse é o tipo de filme em que a trama pouco importa, sendo, na verdade, uma desculpa para acompanharmos o potencial da equipe envolvida e dos atores, cujo comprometimento com a loucura é absoluto. Sabemos que o desfecho será satisfatório e que, em determinados momentos, pouca coisa fará sentido – e essa é uma graças do projeto. 

Melinda se vê bombardeada por pessoas vingativas e gananciosas, optando pelo processo sem a menor convicção, descrevendo as relações sexuais como o auge de sua experiência enquanto ser humano. Para se proteger e evitar a perda da licença, Roger se escora em Ezri Stovall, um advogado que não aceita acordos e que só se refere a si na terceira pessoa. Interpretado por Bill Murray, Stovall é uma figura ímpar. A tensão sexual entre ele e Connie Baker, vivida pela excelente Catherine O’Hara, advogada de Melinda, é estabelecida através de suas reações enquanto escutam os relatos picantes e detalhados da aventura no elevador – aquela sala está prestes a explodir em orgasmos. Melora Walters está impecável no papel de Melinda, uma mulher cuja inocência exagerada serve ao contexto caricato da obra. Lara Flynn Boyle também está ótima, mas o show é de James Spader. Todos sabem que Spader brilhou em diversos filmes de cunho erótico; no entanto, o que torna sua performance tão especial é justamente o fato dele se afastar dessa persona galanteadora. Em “Speaking of Sex”, ele não poderia surgir menos atraente, contaminando a tela com uma ansiedade notável em trejeitos bizarros, na voz claudicante e nas expressões de incredulidade. Roger está quase sempre à beira de explodir e as suas tentativas de se acalmar são engraçadíssimas. Além disso, Spader traz ao protagonista um apetite sexual que surge nos momentos mais inapropriados – ele é uma máquina de gags. 

A estrutura do filme, calcada num longo flashback, é apropriada. De imediato, logo na primeira cena, somos introduzidos a um cenário amalucado. Roger invade um quarto de motel, onde Melinda e Dan estão retomando às atividades. “Você? Meu Deus, está transando com o seu marido?”, pergunta o protagonista, como se estivesse diante de algum crime ou algo do tipo. Outro momento que reforça a inventividade da narrativa, é aquele em que uma Split Screen é utilizada para expor a inusitada situação na qual um casal de coadjuvantes se encontra. A trilha sonora acrescenta na construção cômica e “safada”. As reviravoltas no último ato fazem jus aos clássicos da Screwball Comedy.

“Speaking of Sex” precisa ganhar um status “cult”. É bom demais para cair no esquecimento.

O que você achou deste conteúdo?

Média da classificação / 5. Número de votos:

Nenhum voto até agora. Seja o primeiro a avaliar!