John Ford introduz o capitão Nathan Brittles a partir de um plano-detalhe da placa com seu nome e de fotos de sua falecida família, caracterizando-o, de imediato, como um homem imponente e ferido. Faltam seis dias para sua aposentadoria; no entanto, indígenas de diferentes tribos se unem, organizando uma guerra que precisa ser controlada – os de uniforme azul x os de roupa vermelha. “She Wore a Yellow Ribbon” é um dos filmes mais vistosos realizados por Ford. O crepúsculo vermelho que acompanha Brittles no cemitério é inacreditavelmente lindo, simbolizando o sangue que tem atingido as terras norte-americanas e o amor inegociável que ele nutre por sua família. Na mesma sequência, a sombra de Olivia Dandridge, que, posteriormente, se casa com Cohill, uma espécie de aprendiz do protagonista, reflete na lápide de sua esposa: “Ela me lembra você”. Ford tinha um domínio especial da mise en scéne; seus quadros merecem ser apreciados em diferentes níveis.
O céu escuro, o frio relatado pelos personagens e o caminho de névoas refletem a desesperança e o luto dos oficiais, que se deparam com colegas mortos e brutalmente feridos. Ford também tinha sorte. Em determinando momento, a cavalaria é surpreendida por raios e trovões assombrosos. Eles não estavam nos planos e Ford, atento a cada minúcia, por mais perigosa que seja, entendeu que os fenômenos naturais serviriam perfeitamente à sua narrativa. O roteiro é de uma perspicácia especial, desenvolvendo, além da trama central, as relações entre os personagens e as questões internas que assolam a alma do protagonista. No exército desde que se conhece por gente, Brittles não está preparado para seguir adiante; o esquecimento, a solidão e a sensação de inutilidade o assustam. O triângulo amoroso envolvendo Cohill, Dandridge e Pennell tem o seu próprio arco, começando com a animosidade de jovens com mentalidades distintas e que lutam pelo mesmo coração. Futuros substitutos de Brittles, Cohill e Pennel, eventualmente, captam o espírito do exército, respeitando a individualidade da amada e abrindo mão de qualquer birra em prol dos Estados Unidos. No fim, ao enquadrá-los juntos, em pé de igualdade, Ford evidencia o poder do exército e da maturidade.
Os toques de humor são muito bem vindos e dão vitalidade a uma narrativa de tons e gostos distintos. John Wayne, que interpreta Brittles, nos brinda com o seu sarcasmo e timing cômico peculiares. “O único imposto que você paga é sobre o uísque”. O sargento Quincannon tenta esconder sua paixão incondicional pelo álcool e, Brittles, a par de tudo, brinca com o subordinado. Quincannon, por sinal, é responsável pela sequência mais engraçada do filme, na qual espanca parte da cavalaria. Ford costura gags elaboradas, demonstrando ser, de fato, “o grande cineasta” de sua época – talvez da história. O protagonista, por mais durão que seja, a ponto de ter como mantra: “Nunca peça desculpas. É um sinal de fraqueza”, se emociona com gestos carinhosos e não é imune aos baques da vida. Wayne tem espaço para trabalhar diferentes vertentes, moldando um personagem inspirador e amável.
Ford dominava as paisagens norte-americanas como ninguém; há algo misterioso e atraente naqueles vastos espaços e rochedos, explorados através de planos gerais estonteantes. Sua principal assinatura e que, até hoje, nunca foi equiparada, é a capacidade de orquestrar longas sequências de ação, em ambientes extensos e lotados de personagens. Seu caos é nítido; sua escala épica, de tão fluida, soa simples. O nível de sincronia dos movimentos e da montagem, que organiza as imagens para o espectador ao mesmo tempo em que mantém o impacto do embate, é de outro mundo. O desfecho é otimista e “heroico” sem soar bobo ou de mal gosto – o ufanismo está lá, mas não incomoda.
“She Wore a Yellow Ribbon” é mais um clássico dos John ‘s – Ford e Wayne.