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A montagem paralela apresenta “universos distintos”: a colônia de garimpeiros tranquilos e os capangas da gananciosa empresa de mineração que quer dominar o território inteiro. A sequência da emboscada é engenhosa e impressiona pelo caos e pelo desespero que Clint Eastwood imprime. Megan Wheeler, filha de uma das trabalhadoras, enterra a sua cadela e clama pela ajuda divina. Eis que, sobreposto à sua imagem, surge o protagonista, cuja primeira frase é: “Não deveria brincar com fósforos”. O cineasta faz questão de ressaltar sua condição de cavaleiro solitário e misterioso a partir de planos em que o vemos a uma certa distância, montado em seu cavalo. Ele espanca os responsáveis pela crueldade inicial e é convidado por Hull Barrett, aspirante à líder dos garimpeiros, a ficar na colônia.

Por que um homem à deriva, cavalgando sem destino, decide ajudar um grupo de desafortunados a impedir os avanços de uma poderosa empresa? Quem é esse sujeito que se olha no espelho e mal enxerga o próprio reflexo? Assim como em “Hight Plains Drifter”, Eastwood aposta num mito, uma presença (provavelmente) sobrenatural que está à frente dos demais e é capaz de derrotar as injustiças do universo. O contra-plongée ressalta sua imponência, que, a princípio, assusta os novos colegas. Quando ele anuncia ser um pastor, a situação ganha outros contornos – as preces de Megan foram escutadas. Presos ao medo e à dúvida, os garimpeiros se enchem de esperança, o que é reforçado pelo céu aberto e pela pepita de ouro. A fé é o combustível para lutar e resistir.

“Pale Rider” não é um Western árido e dominado por corredores de areia. Os tons frios e as montanhas de neve refletem a melancolia de um povo desesperançoso. Revoltado com as novidades, Coy LaHood, dono da empresa de mineração, convida o Pastor para conversar. A hostilidade do patrão se estende à sala escura e à presença numerosa de seus capangas, colocando o protagonista numa situação que deixaria qualquer outro ser humano assustado. LaHood tenta suborná-lo e recebe uma contraproposta: se ele pagar mil dólares por cabeça, os garimpeiros deixarão a colônia.

Hull quer se casar com Sarah Wheeler, que, após ter sido abandonada pelo marido, tem incertezas em relação a um novo matrimônio. O Pastor traz à tona o melhor em cada um e Hull, antes inseguro, assume um importante papel de liderança, que o ajuda a convencer a amada de que o casamento é uma boa opção. “Se nos vendermos agora, que preço poremos na nossa dignidade na próxima vez?”, diz ele, recusando o dinheiro sujo de LaHood. O fogo reflete no rosto dos trabalhadores; não é mais o medo que dita seus passos, mas a coragem. Sarah e Megan – mãe e filha – se apaixonam pelo protagonista, que acredita em outro tipo de amor, aquele que acabará com a maldade no mundo. Sem opções, LaHood recorre a Stockburn, um xerife canalha, e seus seis assistentes.

Sabemos que haverá um embate final e Eastwood é brilhante na introdução do novo personagem. Conway, um dos garimpeiros, após achar uma pedra cheia de ouro, vai à cidade tirar sarro dos vilões. Alinhados, os sete assassinos de aluguel provam que não facilitarão as coisas para o cavaleiro solitário. O plongée, com a câmera posicionada entre os ombros dos recém-chegados, expõe a vulnerabilidade de Conway, que é bombardeado. “Somente unidos vocês podem vencer os LaHood’s do mundo”, afirma o Pastor, que tem contas a acertar com Stockburn, um antigo rival. O roteiro se mostra atento às sutilezas que estabelece. Conway foi uma presa fácil, pois estava sozinho e o protagonista adota a mesma estratégia, dispersando os assistentes, matando-os um a um. Clint Eastwood interpretou uma série de personagens incríveis e este é, sem dúvida, um dos mais cool. O sobretudo vermelho, o sarcasmo, a sabedoria e o minimalismo são marcas de uma figura infalível.

Sua missão foi bem-sucedida; os gananciosos se foram, os trabalhadores prosperam e a paz reina num ambiente conhecido pela brutalidade. O cavaleiro, adorado por todos, enfim, retorna ao seu incerto e desconhecido caminho, à espera de novas preces. No elenco, ainda temos Chris Penn, irmão de Sean Penn, que está excelente como o filho de Coy LaHood.

“Pale Rider” é um dos melhores Westerns realizados na década de oitenta.

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