“O Massacre da Serra Elétrica” é um dos filmes mais perturbadores e degenerados já feitos. Sua premissa é simples e conhecida, no entanto, sua condução é original e extremamente efetiva. Poucas vezes vi olhos tão assustados na minha vida. Se “O Massacre da Serra Elétrica” tem algum “tema”, é o pavor, um dos sentimentos mais primitivos e desesperadores.
Na trama, cinco adolescentes ingênuos e inocentes decidem passar um final de semana em uma casa abandonada numa pequena cidade no Texas. É lá que a carnificina e o festival de perversidades acontecem.
Considerando que o gênero “Slasher” é um dos mais reciclados, o que torna “O Massacre da Serra Elétrica” tão especial?
Diria que a ambientação, a coleção de personagens marcantes e os trabalhos brilhantes de direção e montagem são os principais motivos por torná-lo um verdadeiro marco para o cinema de horror.
O filme começa como um documentário, invadido por uma narração que informa o ocorrido. Depois, através de rápidos flashes, vemos cadáveres, enquanto escutamos ao boletim policial e uma trilha enervante.
Dentro do grupo, estão dois casais e um paraplégico nervoso – irmão de uma das garotas.
No caminho, um sujeito esquisitíssimo pede carona, mostra fotos de animais que abateu, demonstra um incoerente ânimo, corta a sua mão, põe fogo em uma foto e é expulso da van. É com esse tipo de personagem que lidamos, são eles que dominam essa pequena cidade, onde a lei e a ordem são completamente ignoradas.
A casa abandonada é bizarra, cheia de mofo, paredes descascadas e quartos inabitáveis. Um dos casais decide passear e se depara com uma residência mais bonitinha, aparentemente sem dono. Até que ele aparece, com sua máscara de pele humana, terno e uma altura desproporcional. Poucas figuras são tão assustadoras quanto Leatherface, um maníaco que não fala, apenas grita e corre atrás de vítimas com uma barulhenta serra elétrica.
Um dos pontos altos do filme é a direção de arte, que transforma a casa do vilão em um antro da perversidade e da psicopatia. Temos bichos engaiolados, restos humanos, ossos, peles de animais, crânios, penas, paredes vermelhas e móveis desfigurados. Adentramos o território mais perturbador possível e assistimos todo o horror. O diretor Tobe Hooper não economiza na violência gráfica, nem nos gritos por socorro, que são contrapostos por planos gerais que expõem a total inutilidade deles, afinal, nenhuma ajuda apareceria. Rapidamente, todos morrem, sendo o fim mais memorável o de Franklin, serrado ao meio em sua cadeira de rodas, sem ter o que fazer.
Sobra apenas Sally. O espectador não se simpatiza pelos personagens ou por suas caracterizações, mas por perceber que ninguém merece o mal que Leatherface dedica às suas vítimas.
A protagonista até encontra um homem e acredita que conseguirá informar a polícia o ocorrido, contudo, ela não esperava que aquele era nada mais nada menos que o pai do antagonista e do caroneiro do início. Se o filme já era perturbador e sangrento, ele se transforma numa experiência mórbida, desesperadora, angustiante e imprevisível. Em casa, o temido Leatherface é apenas uma criança desobediente, assim como o seu irmão. O patriarca da família é o avô, uma espécie de zumbi, que se mexe, mas não fala. A cena do jantar é praticamente impossível de se assistir e isso se deve ao trabalho brilhante do diretor e da montagem.
“O Massacre da Serra Elétrica” é, em suma, um filme B. A textura da imagem, a cidade na qual a história se situa e o baixo orçamento deixam isso nítido. No entanto, se engana quem pensa que esta é uma obra porca e feita de qualquer forma, muito pelo contrário. A fotografia varia entre uma iluminação saturada e a escuridão absoluta, tirando o espectador de sua zona de conforto visual; a montagem é dinâmica e a intensidade dos cortes aumenta no decorrer dos acontecimentos e da gradativa tensão; a trilha sonora aparece em momentos oportunos, potencializando o horror; a direção é meticulosa, apostando em uma abordagem visceral e realista. A câmera na mão permite uma crueza maior ao filme e facilita os sustos que Hooper quer dar no espectador. Na sequência principal, o diretor usa ângulos distorcidos, close ups e planos-detalhe capazes de transportar o pavor de Sally para o espectador. A montagem é essencial para instaurar o caos, cortando sem parar, dividindo a atenção entre o medo e o prazer dos pervertidos.
Os últimos cinco minutos são, simultaneamente, os mais tensos e prazerosos que tive assistindo a um filme desse gênero. Não direi exatamente o que acontece, mas… que alívio. A risada desconcertante e aquele monstro enorme gritando ficarão eternamente em minha memória.
Marilyn Burns merece elogios por expressar suas emoções de forma tão genuína. Seu pavor ao ser raptada, agredida e perseguida é extremamente palpável.
“O Massacre da Serra Elétrica” é uma obra prima engenhosa. Não à toa, mesmo tendo sido lançado há quarenta e oito anos, continua sendo considerado um dos filmes mais influentes de todos os tempos.
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