“Red Rock West” inicia com planos abertos de uma vasta paisagem, que deixam nítidos que esta é uma história protagonizada por um homem solitário.
Michael se alonga, a fotografia ressalta sua esperança por dias melhores e ele vai em busca de um emprego. As coisas acabam não acontecendo e a atmosfera passa a ser soturna.
Michael para em um posto e não encontra ninguém, apenas um bolo de dinheiro. Os planos fechados e detalhes, intercalados pela montagem ágil, enfatizam a necessidade do protagonista. Existe uma tentação, porém, acima dela está um homem disposto a fazer as escolhas corretas.
Ele chega em um bar, onde é abordado por Wayne, xerife da cidade e dono do recinto, que o confunde com um assassino de aluguel e lhe oferece cinco mil dólares pelo assassinato de sua esposa.
Michael vai até Suzanne, que dobra a proposta do marido e o convence a ir embora.
O protagonista, cheio de dinheiro, decide partir, mas se depara com uma série de coincidências e encontros inesperados.
“Red Rock West” é um filme riquíssimo, que a todo instante está sugerindo algo para o espectador e para o protagonista.
A fumaça, que surge quando Michael entra no bar pela primeira vez indica que há algo estranho e misterioso naquele lugar.
Os planos fechados são fundamentais para a compreensão psicológica dos personagens e para o desenvolvimento da trama. O dinheiro simboliza uma desmedida ganância. O protagonista entrou em uma furada e só se vê inteiramente livre, quando o descarta. Os três coadjuvantes, ao contrário, colocam o dinheiro à frente de absolutamente tudo.
O vermelho está por toda a parte, tanto na fotografia, que opta pela cor na iluminação do bar, quanto na direção de arte, que a utiliza nas paredes da casa de Suzanne.
A cor representa não só a violência, mas também o caráter dos coadjuvantes. Em determinado momento, a câmera se aproxima da lanterna traseira de um carro, praticamente avisando ao espectador de que algo de ruim irá acontecer.
De modo geral, o que temos é um universo cinzento, que reflete o vazio dos personagens e a sujeira presente naquela cidade.
Nesse sentido, a fotografia azulada é muito específica, como se não houvesse vida ali.
O design de som também é primordial para a ambientação. O trovão indica algo e a cochichada dos policiais cria um clima de incerteza.
A tensão é cultivada através da montagem, que intercala planos de forma ágil e intensifica as perseguições, e da direção, que utiliza travellings milimétricos para seguir os personagens e manter o espectador tenso. Os corredores parecem maiores e o tempo corre em outro ritmo – assim que se faz bom suspense.
A trilha sonora concilia elementos westerns e Noir. Ela dita a trajetória do protagonista e raramente varia.
A linguagem do filme é sofisticada, esses elementos podem passar desapercebidos, porém estão lá, milimetricamente calculados, sem nenhum tipo de histeria.
O roteiro proporciona boas surpresas, uma trama instigante e personagens interessantes.
Não sabemos exatamente quem é Michael, apenas que ele se machucou na Marinha e vive uma vida miserável.
A maravilhosa performance de Nicolas Cage acrescenta camadas interessantes. “Red Rock West” é um filme minimalista e o ator não foge da proposta.
Michael pouco fala, suas rápidas transições faciais bastam para expor os seus conflitos internos, assim como sua voz retraída, que denota solidão e rigidez.
O protagonista se acostumou com esse vazio e vaga por cidades sem grandes expectativas.
Os lapsos de alegria, assim como os gritos, são impactantes, porque Cage os esconde muito bem. Sentimos genuinidade em sua fala, que logo depois retorna ao estado catatônico normal.
Michael se meteu com pessoas que não deveria. Algumas mexeram com a sua segurança, outras com o seu coração.
J. T. Walsh está ótimo como Wayne, um homem corrupto, que, gradativamente, se torna ainda mais sujo. Há uma cena específica em que ele demonstra um mínimo de empatia, mas, de modo geral, ninguém pode estar à sua frente.
Dennis Hopper faz o que mais gosta: bancar o psicopata alucinado. Ninguém faz isso melhor do que ele, principalmente nas cenas de interrogação. Lyle é uma figura ímpar, sua roupa transmite isso, contudo, é o carisma de Hopper que o eleva.
Lara Flynn Boyle faz um belo papel, ludibriando o espectador. Acreditamos no seu sofrimento e no seu carinho por Michael, no entanto, Suzanne é tão cega quanto os outros dois e mostra as suas garras apenas no fim.
Eu já havia adorado “Rounders” e com essa outra obra, John Dahl prova que é um diretor cuja filmografia deveria ser melhor observada.
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