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“Like Father, Like Son” é um filme inegavelmente bem realizado, conduzido por um cineasta sensível e humano. Dito isso, eu não posso esconder a minha aversão a quase tudo que assisti. A trama gira em torno de duas famílias que descobrem que seus filhos foram trocados na maternidade. Não estamos falando de recém-nascidos, mas de garotos de seis anos que reconhecem em seus pais influências, modelos e o maior símbolo de proteção possível.

Ryota é um homem sério, que trabalha arduamente e nem sempre está disponível para casualidades cotidianas. Seu terno e o fato de estar em constante contato com tons frios e espaços fechados refletem sua personalidade introspectiva. Sua relação com seu pai não é das melhores, o que talvez justifique sua ambição no emprego – a vontade de oferecer algo a mais à sua família. De qualquer forma, os momentos mais bonitos e envolventes são aqueles em que o vemos ao lado de Keita, seu filho. O plano-detalhe de ambas as mãos tocando piano e a harmonia presente na residência são autoexplicativos. O garoto está acostumado com aquele ambiente, emula certos comportamentos do pai e compartilha do bom astral da mãe, que, na ausência do marido, mantém as arestas acertadas e unidas.

Yudai, em contrapartida, é um espírito livre. Humilde, ele cria os seus filhos com uma alegria contagiante, o que é salientado pelo seu figurino despojado e por ficar, invariavelmente, em contato com espaços abertos. Sua esposa segue a mesma conduta, irradiando bom humor e afeto. Eles tomam banhos juntos numa banheira e quando riem, não temem por julgamentos alheios.

Repentinamente, essas famílias são colocadas lado a lado, numa situação desconfortável e, de certa forma, trágica. Na medida em que percebemos que aquelas crianças são reflexos de seus progenitores, que agem de maneiras completamente diferentes e que se adaptaram a um determinado estilo de vida, chegamos a conclusão de que o mais coerente a se fazer é deixar as coisas como estão, afinal, a paternidade vai muito além do sangue. Cada um identifica o comportamento de seu filho às mais diversas adversidades.

Ryusei fala e age como Yudai, assim como Keita emula os maneirismos e demonstra uma adoração absoluta por Ryota. Uma troca não deveria ser cogitada, mas é exatamente o que acontece. O protagonista, que assume, sem cerimônia, o descaso perante o pai, confere uma incoerente relevância ao laço sanguíneo. Ele tinha algo especial com seu filho e estava disposto a abandoná-lo. Kore-Eda prova que o amor e o senso de pertencimento estão em detalhes sutis. A mordida de Ryusei no canudo é idêntica a de seu pai. Na primeira tarde em que Keita passa com sua família biológica, ainda em período de teste, se machuca. A princípio, isso não quer dizer nada, todavia, ao considerarmos a segurança que seus pais garantiam, deduzimos que a mudança de ambiente será imensamente desconfortável.

Decidido a prosseguir com a troca, Ryota passa a enxergar em Keita um estranho em casa, o que não se altera com a chegada de Ryusei, que vê na mansão um contraponto à pequena e acolhedora casa em que vivia. As crianças não entendem o que está acontecendo, são vítimas e não foram informadas. É possível se adaptar a uma nova realidade? O que é visto como justo não seria, na verdade, cruel?

Ryota não tem paciência com o seu novo filho e Midori, sua esposa, sofre silenciosamente, sentindo que não dá conta de Ryusei e que está traindo Keita. Na tentativa de ser melhor que seu pai, o protagonista se perde nas próprias emoções e prioridades. No fim, o roteiro opta por uma saída sentimental, confundindo realismo com artificialidade. Do nada, a harmonia reina novamente. Sei, é exatamente assim que as coisas funcionam…

A trilha sonora é belíssima, todavia, gradativamente, se torna intrusiva e desnecessária. O trabalho de direção de arte, que relaciona a simplicidade com o verdadeiro calor humano, é essencial para distinguir as famílias. Os cortes secos nos levam a realidades opostas, acentuando as consideráveis diferenças entre as residências e seus habitantes. Kore-Eda opta pelo silêncio e pela contemplação, deixando o julgamento do caso para o espectador, que se depara com olhares insinuantes e expressões poderosíssimas. O plano aberto em que vemos Ryota e Keita, de costas, sentados à beira do mar, é aterrador.

Masaharu Fukuyama está excelente na pele de um personagem frio, esnobe e ambicioso que, no fundo de sua alma, esconde uma empatia ainda não aflorada. Seus momentos mais emotivos são genuínos e isso se deve à grande performance do ator.

Lily Franky encarna uma figura leve e expansiva, funcionando como o contraponto ideal de Ryota.

“Like Father, Like Son” é um ótimo filme, porém, não posso dizer que gostei dele ou que pretendo reassisti-lo. 

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