Fucking Åmål (Amigas de Colégio)

Sentindo-se culpada, decide voltar para a casa de Agnes para se desculpar. Elin a convence a dar uma volta e, no ápice de um agradável diálogo, decidem pedir uma carona até Estocolmo. Elas se beijam e, a partir daí, a trama ganha os seus reais contornos.

Agnes é uma jovem solitária, melancólica e romântica – seus textos evidenciam isso. O excessivo carinho dos pais representa, simultaneamente, um alívio e uma angústia. Ela se sente péssima, é tratada como lixo na escola e ter na própria casa uma zona de conforto é ótimo, no entanto, a falta de embates e a afabilidade a impedem, de certa forma, de expor sua real faceta.

Se espera muito de Elin, afinal, ela é bonita, popular e pode conquistar qualquer um. A pressão por novos namorados, a manutenção de uma juventude “padrão” e um senso de superioridade perante as “menos importantes” são notáveis, chegando a ser aflitivo. Elin sabe que é fútil, que faz muitas coisas para agradar os demais e não sabe como se desvencilhar dessa teia pegajosa e tóxica. Seu único momento honesto e divertido foi com Agnes e percebam: nada demais aconteceu, elas apenas conversaram e riram. Os holofotes a afastam da amada e a obrigam a se relacionar com Johan, um sujeito tão interessante quanto uma aula de física quântica.

Nem mesmo Jessica é capaz de perceber o óbvio e perguntar se está tudo bem com a irmã. A verdade a machucaria profundamente, o que isola Elin em um universo de aparências, de uma falsa normalidade, que apenas a drena e a irrita. Ela não liga para Agnes, a ignora, mas nem pensem que há uma vilã na história, ambas sofrem de acordo com seus status.

Agnes tem impulsos suicidas, se masturba com uma foto de Elin e diz para o pai que quer ser feliz agora, não daqui a vinte e cinco anos.

O diretor acerta na caracterização dos jovens, que não têm a capacidade de enxergar nada além do óbvio, tratando a vida como uma matemática exata, na qual todos têm os mesmos interesses. Agnes e Elin não atacam ninguém, querem apenas ficar juntas. As coisas caminham para que isso não aconteça, no entanto, de uma forma madura, leve e satisfatória, Moodyson dá às suas protagonistas um final justo, sem soar brega. Por sinal, o último plano é de uma rara genialidade e talvez possa assustar o espectador desatento por ser tão imprevisível. Não precisamos ver mais nada, aquele simples momento de afeto e felicidade fecha o filme com perfeição.

A fotografia acompanha a frieza sueca, principalmente de Åmål, cidade pela qual as personagens nutrem um profundo ódio.

O estreante Lukas Moodyson adota uma abordagem crua e íntima, abusando de câmera na mão e close ups. Sua direção permite uma imersão absoluta na mente dessas garotas e impressiona pelo realismo, fugindo de qualquer glamourização. A rápida movimentação de câmera, somada aos cortes abruptos, criam uma atmosfera histérica e hiperativa, que conversa com a natureza jovial – desesperada e pouco empática.

A direção de arte acerta na escolha de colocar pôsteres nos quartos dos jovens, salientando a incerteza sobre suas próprias personalidades e o desejo de sair daquela cidade.

Agnes está quase sempre com uma camisa preta, que reflete exatamente o seu estado emocional, a não ser no desfecho, em que veste uma camisa colorida. Em contrapartida, Elin usa uma camisa vermelha, reafirmando não só o que os outros esperam e enxergam nela – fácil, sexo e outras coisas -, também o que se passa em seu interior – dor, medo e amor.

Rebecka Liljeberg faz de Agnes uma jovem melancólica e tímida. Enxergamos nela a humilhação, uma felicidade genuína e a tristeza por ser desconsiderada por todos. Ela se expressa quando sente a necessidade, mas passa boa parte do filme quieta, idealizando situações.

Alexandra Dahlsrtöm, por sua vez, oferece uma performance mais agitada, tendo que fingir que está tudo bem, que gosta das pessoas que a circundam. Esse misto de introspecção e exaltação é difícil de se alcançar e a atriz o atinge sem muito esforço. No momento no qual se declara para Agnes – o único em que é genuína -, Elin tem dificuldade em encontrar as palavras e muda a entonação, não por vergonha, por nunca ter sentido aquilo.

As duas apresentam uma química adorável e, sem querer ser clichê, se complementam.

“Fucking Åmål” é mais uma prima do cinema sueco.