A escola cria patamares, pedestais invisíveis e molda o caráter dos jovens – pelos menos naquele período. Você não pode se aproximar de qualquer pessoa, pois isso vai contra o que foi pré-estabelecido. Existem grupos, alguns se misturam, mas a maioria sabe até onde pode ir. Dentro dessa divisão estão os estereótipos, que são muito bem preservados pelos alunos. Os cinco personagens de “The Breakfast Club” são figuras, à primeira vista, facilmente identificáveis.
Andrew é o atleta. Responsável, forte e intelectualmente limitado, ele não parece ter grandes empecilhos em sua vida.
Claire é a princesa, a que se veste melhor, se gaba pela popularidade, esbanja futilidade e se considera melhor que os outros.
Brian é o nerd, um pobre coitado que obedece as ordens de “seus superiores” e é visto como o filho que todo pai gostaria de ter.
Alisson é a esquisita que pouco fala e se escora em cantos.
Bender é o marginal, o mais provocador, engraçado, cínico e com tendências anárquicas.
Essas são as características que lhes foram impostas e lá estão eles, para mais um dia de detenção, mais um dia para manter as suas aparências intactas.
O filme começa dessa forma, cada um em seu canto, interpretando um papel, no entanto, quanto mais tempo se passa, mais eles percebem que têm muito em comum e que, por trás das máscaras, existem jovens verdadeiros, indivíduos com dores e dilemas próprios. No fim, todos dançam a mesma música, cada um no seu ritmo.
“The Breakfast Club” é brilhante, porque explora as mais diversas personalidades sem dar ênfase a nenhuma. É praticamente impossível não se relacionar, minimamente, com algum personagem.
Os figurinos dizem muito sobre as personas. Claire aparece de rosa, com o cabelo impecavelmente penteado; Andrew usa o seu uniforme de atleta, capaz de realçar os seus músculos; Brian veste um suéter verde, provavelmente uma exigência de sua mãe; Alisson está de preto, mal conseguimos enxergar o seu rosto; Bender se “fantasia” de punk e age como um. Até mesmo o que eles comem reflete em suas personalidades. É um pequeno detalhe, mas gosto da forma que Hughes conduz essa sequência do lanche, mantendo o silêncio, focando nas reações incrédulas dos personagens. Seu timing cômico é ótimo.
O tédio toma conta dos primeiros minutos na detenção, todavia, Bender é implacavelmente irritante. Ele provoca Claire e Andrew, o que não parece ser à toa.
Bender quer desnuda-los, tirá-los da zona de conforto e trazer suas fragilidades à tona. Por que? A verdade é que figuras assim dependem desse tipo de comportamento, afinal, sem isso, seriam completamente invisíveis e, mesmo com todo o seu desleixo, Bender não quer ser esquecido – ninguém quer. A marca da brasa de um cigarro em seu braço indica que seu cotidiano não é repleto de afeto, o que diz muito sobre o seu jeito de ser. Toda essa ofensividade e imprudência vem de algum lugar.
Andrew é o atleta exemplar, o orgulho do pai e, para manter esse status, precisa fazer coisas que não quer, como, por exemplo, grudar a bunda de um colega numa cadeira. “Às vezes gostaria de ter o joelho quebrado, assim ele se esqueceria de mim”. Andrew poderia ter todas as garotas da escola aos seus pés, mas é Alisson quem chama a sua atenção, provando que, acima de patamares, ainda está o coração. Ele não diz aquelas coisas sobre o garoto que se machucou da boca para fora, é um relato duro e honesto de um jovem que se vê obrigado a imitar o pai.
Brian nunca fala, apenas balbucia. Sua insegurança é tão palpável que chega a doer. O orgulho dos pais e a estabilidade existem apenas no papel. Ele tirou nota ruim em uma matéria. Isso talvez não incomode a maioria das pessoas, no entanto, para Brian significa o fim da única coisa que o torna socialmente aceitável. Qual o sentido da vida? Por que Brian tinha uma arma no escaninho?
Claire sabe que é fútil, admite parte dos erros e que a escola cria laços viciosos. Puritana ou vagabunda? Existe um meio termo? Por que a escola é tão cruel? Fácil, ela é constituída por adolescentes. Assumir a virgindade não deveria ser um tabu. Claire fica em estado catatônico quando é perguntada sobre sua vida sexual. Seria esse um assunto que a tiraria desse pedestal? Provavelmente, a sujaria um pouco, a tornaria mais humana.
Alisson mente compulsivamente. Sua insegurança é tão notável, que no momento em que “fica bonita”, precisa que Andrew e Brian repitam para ela algumas vezes até acreditar. Alisson tem uma mala pronta em sua mochila. A fuga é uma realidade ou apenas uma forma de manter sua pose? Existem dois universos, às vezes eles conversam, às vezes não.
O professor, que deveria ser um educador, é um sujeito que enxerga no aluno um incorrigível delinquente. Em vez de ajudar, ele parte para o embate.
As relações entre os personagens evoluem gradualmente, até que todos realmente se expõem e dizem o que nunca haviam falado para ninguém. Claire deixa claro para Brian que dificilmente conversaria com ele em um dia normal de aula, reforçando a honestidade do roteiro e que o meio, muitas vezes, consome o indivíduo.
A detenção acaba, eles voltam para suas vidas sabendo que dividiram suas histórias com outras pessoas e que aqueles que pareciam distantes, vivem dilemas bastante similares. Pode ser que na semana seguinte os cinco se reúnam e sigam como grandes amigos; pode ser que tudo volte ao normal. Não há como prever. A única certeza é que por dentro de estereótipos vazios e de impressões superficiais, sempre existirão pessoas verdadeiras.
A maior qualidade de “The Breakfast Club” é o seu roteiro, principalmente o entendimento que ele apresenta sobre o mundo dos jovens. Os diálogos são extremamente relacionáveis e o desenvolvimento, em nenhum momento, soa barato, sendo sempre coeso, inteligente e honesto. Além, claro, de ser engraçadíssimo por diversas vezes. As provocações do início se transformam em questionamentos igualmente incisivos.
John Hughes orquestra “clipes musicais” que dão frescor à narrativa e conversam com o período em que o filme se passa. O que mais chamou a minha atenção foi o fato do cineasta organizar os cinco num círculo, no mesmo quadro, apenas no fim, quando eles passam a se respeitar e a se enxergar além das máscaras.
A trilha sonora é icônica. “Don’t You (Forget About Me)” talvez seja a grande marca da obra.
O elenco é excelente. Os atores captam a essência de seus personagens com muita facilidade e transitam brilhantemente dentro da trama. Não conseguiria dar um destaque especial, os cinco funcionam como uma engrenagem, um conjunto.
“The Breakfast Club” é um dos grandes filmes sobre a juventude.
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