“Clockwatchers” é sobre mulheres que aguardam a vida inteira por uma chance de trabalho; mulheres que são exploradas por superiores incapazes de decorarem seus nomes. Tomado por cubículos e pela falta de cores, o escritório é um ambiente naturalmente tedioso e a trilha sonora, que remete a algo que escutamos em salas de espera, acentua tal característica. “O único verdadeiro desafio neste trabalho é tentar parecer ocupada quando não há nada para se fazer”. As temporárias (ou “temps”) não têm benefícios nem nada do tipo. Elas passam o dia digitando, preparando cafezinhos e olhando o relógio. A esperança de ser contratada permanentemente, aos poucos, se esvai, dando espaço à sensação de serem coadjuvantes de suas próprias vidas. As eternas temporárias não deveriam existir, mas…
Iris é tímida e espera por duas horas até ser direcionada à sua mesa. Margaret faz questão de apresentá-la às outras colegas. Paula é uma otimista inabalável; tem certeza de que será descoberta como uma atriz de talento e que encontrará o amor de sua vida. A princípio, acreditamos na sua ingenuidade, todavia, quanto mais a conhecemos, mais nítido fica que esta é uma maneira de fingir que está tudo bem, que a esperança não morreu – não à toa, ela mente sobre audições e uma possível gravidez. Jane está prestes a se casar com um homem que nunca vemos. Talvez Jill Sprecher, diretora e roteirista, esteja nos dizendo que nem vale a pena conhecê-lo – a ilusão do ar de alegria e estabilidade é melhor do que a decepção. O banheiro e o refeitório são salvações em meio a pacatez absoluta, lugares nos quais elas extravasam e deixam claro o desprezo que sentem por tudo aquilo.
Fora do escritório, a solidão é ratificada. Estamos falando de mulheres que podem sumir sem que ninguém note. A opção da montagem por alguns fades salienta o vazio cotidiano, alimentando a ideia de que os dias passam sem um grande propósito. Iris é uma protagonista intrigante. Ela pouco fala, está sempre observando e aprendendo sobre o ambiente de trabalho. Toni Collette merece elogios por conferir profundidade a uma personagem que dificilmente expõe seus sentimentos – nesse sentido, o uso de voice-over é importante. As pequenas mudanças na sua expressão facial indicam felicidade, resignação, melancolia e uma certa rebeldia. Dito isso, a personagem mais fascinante é Margaret. Seu jeito enérgico e sarcástico evita que o filme seja quadrado ou excessivamente dramático. Ela canta as pedras e parece ser a mais forte do grupo, quando, na verdade, é a mais vulnerável. É estranho ver Parker Posey presa num escritório; seu carisma e charme não cabem em espaços reduzidos.“Como vocês podem me demitir? Vocês nem sabem o meu nome!”
Clockwatchers é, para todos os efeitos, uma comédia “crítica”, o que não o impede de ser melancólico. A situação das temporárias é tão absurda, que o roteiro não perde a oportunidade de inserir uma deliciosa acidez, além de criar um poderoso vínculo entre as personagens. Eis que, uma onda de roubos se inicia no escritório. O discurso picareta do chefe sobre eles serem uma “grande família” não funciona e as investigações também não são bem sucedidas. Quem seria capaz de enganar a todos? Não importa, já que as suspeitas foram pré definidas. Sem os cubículos, somente com as mesas, as temporárias ficam expostas e parecem que estão numa espécie de tribunal. Invisíveis até o momento em que dedos precisam ser apontados. A tática é baixa, conhecida e trazida à tona com a ironia necessária. Os demais intérpretes adotam uma postura quase caricata, enfatizando o distanciamento entre eles e as quatro amigas – sintonias e mundos diferentes.
“Clockwatchers” é um duro e divertido exercício de observação da condição humana no mundo contemporâneo.