Nas críticas de “The Phantom Menace” e “Attack Of The Clones” deixei as tramas de lado, pois elas eram apenas veículos para a propagação de batalhas e a apreciação de um universo riquíssimo.
Também me lembro de ter dito que “Revenge Of The Sith” era o melhor filme da trilogia. Pois bem, é o melhor da saga Star Wars.
Um desfecho envolvendo uma guerra pode não significar nada, caso o espectador não se importe com os personagens. Mesmo com roteiros duvidosos, George Lucas conseguiu desenvolvê-los, e, principalmente, conectá-los.
De um ponto de vista épico, não me lembro de nada tão poderoso quanto a última hora desse filme. Absolutamente todas as sequências são impactantes e fazem o espectador reagir de uma forma diferente.
A trama política finalmente faz sentido. Palpatine mexeu seus pauzinhos, chegou ao topo da República e está prestes a resgatar os Sith – só precisa de um novo aprendiz. Conde Dookan, Darth Maul e Grievous eram apenas distrações. Os Jedi tinham certeza de que a situação estava sob controle, mas era Palpatine quem comandava o jogo.
Ian McDiarmid está perfeito. Sua caracterização é riquíssima, chegando a tal ponto em que até o espectador se sente seduzido pela retórica de Darth Sidious.
O ator trabalha muito bem a entonação, conseguindo ser um idoso vulnerável e o lorde das trevas. A grande verdade é que ambas as personas têm um poder de convencimento impressionante. Palpatine conta historinhas para Anakin como se nada quisesse, mas no fundo sabe que se trata de uma importante semente que germinará na cabeça do protagonista. Ele cria o caos e ninguém percebe, nem os Jedi, que duvidam de sua índole, mas não chegam a uma conclusão. McDiarmid cria contrastes interessantes em sua voz, indo da finura de um velho indefeso até a risada maligna de Darth Sidious.
Nós já sabíamos qual seria o desfecho de Anakin e ficamos, ainda assim, arrepiados, pois não conhecíamos os detalhes de sua transformação.
No filme anterior, ficou nítido que ele era um jovem poderoso e confuso. Seus sentimentos eram genuínos, no entanto, não pertenciam aos Jedi. Se preocupar excessivamente com um indivíduo não é algo aceitável, pois o levará para o lado sombrio. Anakin passa a ser assombrado por sonhos em que Padmé morre ao dar à luz, e Darth Sidious utiliza esse fator para convertê-lo. O protagonista não é uma má pessoa, seu maior problema é ser humano demais. Seus sentimentos são comuns a todos nós: amor, raiva, ódio e medo.
Porém, dentro de uma sociedade em que os bonzinhos são os altruístas, Anakin é o vilão.
O roteiro sempre indicou o seu caminho, sem transformá-lo em um monstro odiável. O protagonista é um jovem mergulhado em sentimentos conflitantes. Anakin queria ser o melhor Jedi, mas o conselho não confia nele.
Seu amor sofre um perigo iminente e sua única oportunidade está do outro lado.
Por fim, o protagonista se perde no poder, se desumaniza no processo e termina sozinho.
Obviamente, não torcemos por ele, mas em nenhum momento desprezamos o personagem; ficamos tristes e sentimos pena.
A interpretação de Hayden Christensen tem seus defeitos, mas é eficiente. A dúvida está em seu rosto, o ator transmite a dificuldade de sua escolha de forma genuína, contudo, seu lado Sith se resume a uma inclinação facial e um olhar para baixo – que sim, é impactante, porém é pouco.
Se no filme anterior Obi-Wan já era um mestre Jedi, aqui ele surge ainda mais maduro e generoso. Sabiamente, o roteiro cria uma dinâmica cômica entre Obi-Wan e Anakin, que além de Jedi, eram praticamente irmãos. Esse envolvimento inicial é fundamental para o tamanho da batalha final.
Ewan McGregor é um ator extremamente carismático e faz de Obi-Wan um personagem adorável, que ganha o carinho do espectador. Ele está mais leve nesse filme, suas tiradas cômicas funcionam, entretanto, seu ápice é o final. A frase: “eu falhei com você, Anakin!” dói em quem está assistindo, porque Ewan a diz com uma honestidade arrebatadora. Ver o seu aprendiz e melhor amigo se tornar um Sith é insuportável.
Natalie Portman tem ainda mais espaço, mas não apresenta nada além da doçura habitual. Ela até que se sai bem nas partes dramáticas, o problema é que os diálogos são um tanto bregas.
Sobre os Jedi, fiquei admirado pelo belíssimo trabalho do roteiro, que sutilmente desconstrói a essência tão exaltada por todos.
As reuniões do conselho são cercadas por uma soberba. Eles sabem que Anakin está pronto para as missões, então por que o travavam tanto? Sem notar, os Jedi entregaram “o escolhido” para os Sith.
Talvez o exemplo mais nítido da falta de princípio, seja a cena em que Mace Windu desarma Palpatine e se prepara para matá-lo.
A montagem é fenomenal, principalmente no final, em que ela é primordial para o efeito das sequências de ação. No momento em que Palpatine declara a sua intenção de formar um império, observamos Anakin dizimando vidas.
A montagem permite que entendamos o avanço dos Sith e a força que Darth Sidious alcançou ao longo da trilogia.
Há uma porção de cenas eletrizantes, contudo, as últimas batalhas merecem um destaque maior.
A luta entre Yoda e Sidious é sensacional pelo poder dos personagens, mas também pela movimentação deles, que param no Senado, deixando a situação ainda mais interessante.
Em contrapartida, Anakin e Obi-Wan proporcionam uma batalha extremamente emocional, que atinge níveis impressionantes e nos deixa sem palavras. A coreografia, assim como em toda a trilogia, é fantástica.
A sequência mais impactante, sem dúvida alguma, é a que registra a derrocada dos Jedi. É o momento de maior desesperança em toda a saga e John Williams faz questão de enfatizar isso.
Ainda temos o surgimento de Darth Vader, que coincide com o nascimento de seus filhos, o que acaba sendo irônico, já que eles são as esperanças dos Jedi.
Não falarei sobre as partes técnicas, pois isso já foi feito nos textos dos filmes anteriores. O trabalho segue irretocável em todas as partes. Gostaria apenas de citar um plano extremamente simbólico e meticuloso, no qual Palpatine leva Anakin para conversar em um canto e quanto mais eles andam, mais adentram as sombras.
“Revenge Of The Sith” é a obra mais complexa, bela, divertida, dramática e emocionante da saga Star Wars. Para os fãs inveterados, diria que esta é uma experiência religiosa.
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