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“A eternidade começa em 45 minutos”, diz o Padre Flanagan a um detento no corredor da morte. Ele acredita que não existem garotos maus, apenas jovens que não tiveram a oportunidade de exercitar a bondade inerente aos seres humanos. Saindo da prisão, Flanagan decide que precisa ir além dos sermões.

Os jornais e as autoridades analisam o cenário com uma objetividade míope, tratando crianças abandonadas como delinquentes que precisam ser punidos. Flanagan, então, pede um voto de confiança e abre um lar capaz de acolher jovens à margem da sociedade. 

Boys Town não é somente um lar, mas um microcosmo do mundo; um lugar no qual as crianças aprendem valores importantes sem imposição. Não existem grades; quem quiser, pode ir embora. Há prefeito, conselho e tribunal. A votação é aberta a todos e os candidatos podem optar por artimanhas sujas. E, se o clima ficar pesado entre dois colegas, a situação é resolvida no ringue, com um juiz. É como uma escola que prepara seus alunos para aquilo que realmente importa. O protagonista interfere pouco no convívio diário, garantindo a liberdade dos garotos para que eles aprendam, sozinhos, a viver em comunidade e a discernir o bem e o mal. 

Tudo caminha bem, até que Whitey Marsh, irmão de um bandido que não se gaba de seus feitos, é levado a Boys Town. Whitey testa as convicções de Flanagan, impedindo que sua alma seja tocada por boas ações. Avesso à ideia de integrar tal ambiente, Whitey mantém a casca que construiu nas ruas, o que é ressaltado por seu figurino à lá gângster. Não é difícil de perceber as intenções do roteiro. Sabemos que haverá alguma redenção e que Flanagan terá que se esforçar para guiar Whitey. O diretor Norman Taurog usa o melodrama como motor narrativo e, por vezes, exagera. Em determinados momentos, dá para sentir a sua vontade de arrancar lágrimas do espectador; em outros, ele acerta na dose, trazendo à tona o caráter inspirador da obra. 

A performance de Mickey Rooney, que dá vida a Whitey, exemplifica a diferença entre melodrama e sentimentalismo excessivo. Em suas participações, Rooney faz um esforço quase caricatural para demonstrar emoções cortantes. Em contrapartida, Spencer Tracy surge, como de costume, sereno e imponente. Seu personagem é uma figura simpática e Tracy faz questão de tirá-lo do posto da unidimensionalidade. Flanagan carrega o peso de suas obrigações em seu rosto, assim como a empatia que o move e ingenuidade ao lidar com questões financeiras. A presença de Whitey serve para mostrar que o protagonista também pode ser durão quando necessário. Tracy carrega o filme nas costas, emitindo luz em cada gesto – não à toa, ele venceu seu segundo Oscar por este papel. 

A coleção de personagens é interessante e tem o seu ponto alto de carisma no pequeno Pee Wee, que, sempre que se comporta bem, pega um doce na sala de Flanagan. A mudança no figurino de Whitey, na última cena, é um detalhe que ressalta o cuidado dos realizadores – seu arco foi fechado. “Boys Town”, embora irregular, é um filme de ideias muito bonitas e relevantes.

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