Sonny Steele é um pentacampeão mundial de rodeio. Hoje, ele passa os dias bêbado, fazendo propagandas de mingau e cereal. Em “The Electric Horseman”, Sydney Pollack narra a trajetória de um homem que busca se redimir consigo mesmo; um homem que precisa voltar às origens para vislumbrar algum tipo de brilho em sua vida. O início, de caráter nostálgico, com câmera lenta, freeze frames e uma trilha sonora delicada, salienta o carinho que Pollack nutre pelo protagonista.
Decadente, Steele tem até um dublê para “rodeios” promocionais, já que, em seu estado atual, dificilmente consegue ficar muito tempo em cima do cavalo. Seu figurino, roxo com luzes, é a marca de alguém que se submete a qualquer coisa para se manter relevante. Em Las Vegas, no famoso Caesars Palace, haverá uma espécie de evento performático. Durante o ensaio, Steele percebe que o cavalo foi drogado e, em meio ao espetáculo, decide fugir com ele. Um simples olhar é o bastante para captar a dor sentida pelo animal que, àquela altura, serve de espelho para sua situação. A polícia inicia a busca pelo caubói, intensificada pela empresa de cereal, que teme que os maus tratos ao cavalo venham à tona. Steele não está interessado em dinheiro; seu único objetivo é libertar o equino na natureza, ao lado de seus irmãos de sangue. Trata-se de uma jornada pessoal, que vai além do cuidado aos animais – estamos falando de um homem que também busca liberdade.
Ao introduzir Alice, uma jornalista, o roteiro confere traços ainda mais definidos à narrativa. “The Electric Horseman” é, também, uma comédia romântica à lá Frank Capra. Steele, de imediato, não se encaixa nos arquétipos de Capra; por outro lado, Alice vem da mesma família das personagens de Jean Arthur e Barbara Stanwyck em “Mr Deeds Goes To Town” e “Meet John Doe”, respectivamente. Alice é uma jornalista esperta e ambiciosa que está atrás de uma história impactante. Aos poucos, ela se apaixona pelo protagonista. Ambos personificam seus espaços. Steele é sereno e gentil como o campo; enquanto Alice incorpora a agitação urbana. O contraste de personalidades, somado aos fortes temperamentos, é fundamental para notarmos a evolução dos personagens ao longo da trama e para o charme cômico da obra.
Longe de seu habitat natural, Steele se rebela, provando que, numa sociedade que te molda às necessidade dela, esta é a única maneira de atingir metas pessoais. Alice, imersa na quietude idílica, reavalia suas prioridades, deixando de lado a ambição cega que a trouxe àquele lugar. Seu arco é sobre dar mais relevância ao coração, equiparando-o ao cérebro. Pollack acredita no retorno ao início da civilização, onde havia apenas um homem, uma mulher, a natureza e um animal. Esse retrocesso é, na verdade, uma oportunidade de enxergar o vazio cotidiano e de pretensões que nos direcionam ao caos. Os planos gerais são exuberantes, captando a beleza e o caráter transformador daquelas paisagens. É fascinante como o desfecho consegue unir a alegria de Capra e o realismo da Nova Hollywood. Dá tudo certo e os personagens ficam em contato com suas versões mais verdadeiras; todavia, as coisas não acontecem da forma esperada. Sem o figurino roxo e os comerciais, Steele caminha pela estrada, sem rumo.
Robert Redford e Jane Fonda carregam o filme nas costas, exibindo uma química raríssima. Pollack sabia que tinha dois diamantes nas mãos e “só” os guia para os melhores atalhos. O elenco ainda conta com a excelente participação de Willie Nelson. “The Electric Horseman” é um dos trabalhos mais subestimados das carreiras de Redford e Pollack.



