Skip to main content

“The Last Boy Scout” pode ser definido em três palavras: Willis, Scott e Black. Graças a esse trio, um filme que, muito provavelmente, seria esquecível, tornou-se um clássico.

Tony Scott é um verdadeiro autor da ação, o que é evidenciado na primeira sequência, na qual uma simples partida de futebol americano é retratada como uma zona de guerra. Quando ele fecha o quadro nos olhos de um jogador, após dois cortes seguidos, sabemos que algo acontecerá. A chuva intensa e a soturnidade que toma conta daquele ambiente “justificam” a violência. 

Scott queria fazer um filme divertido e extravagante – e conseguiu. Seu uso de câmera lenta e o abuso de ângulos holandeses, que, a princípio, pareciam marcar os rastros dos vilões, vão ao encontro da estilização absoluta. A fotografia investe, durante a noite, na presença de fumaça e num intenso filtro azulado e, durante o dia, num calor sufocante – o filme é inegavelmente cool. As sequências de perseguição são eletrizantes, combinando uma montagem precisa com a visão de um cineasta que entende que a ação não precisa estar relacionada a uma lógica realista. Scott é o cara ideal para dirigir esse tipo de filme. Ele não tem medo de se manter fiel a si mesmo. 

A trama serve de pretexto para o que realmente importa; não à toa, quando tenta soar investigativo, “The Last Boys Scout” é fraco – por sorte, isso pouco acontece. Joe Hallenbeck é um detetive que, com a ajuda de Jimmy Dix, um ex-jogador de futebol americano, que testemunhou o assassinato de sua namorada, tenta desmascarar um sistema de brutalidade e corrupção. Interpretado por Bruce Willis, Joe é o clássico detetive abatido. Sua expressão, digna de alguém que está sempre de ressaca, indica que nada o surpreende. “Aquecendo-a para mim, Mike?”, ele pergunta ao melhor amigo, que transou com sua esposa. Essa cena prova que, apesar da aparente decadência, o protagonista é um profissional competente. Willis pega um arquétipo e o transforma em algo mais interessante. Seu sarcasmo é impagável e confere algum nível de profundidade a Joe, que deixou de acreditar no amor e nas pessoas. Willis assume sentimentos sem se levar demasiadamente a sério e domina a tela como um autêntico astro. Diferentemente de Stallone e Schwarzenegger, que encarnam suas próprias personas, Willis combina carisma, acidez cômica e dilemas pessoais. Se o filme pulsa, é por seu talento.

Shane Black, que já havia trabalhado no roteiro de “Máquina Mortífera”, é o responsável pelo texto, feito sob medida para Willis. Black capta as principais qualidades do ator, atestando ser, antes dos adorados “Kiss Kiss Bang Bang” e “The Nice Guys”, um especialista em escrever diálogos repletos de tiradas cômicas e em estabelecer uma dinâmica prazerosa entre os personagens – algo inerente ao “Buddy Cop”. Eu iria além: as sequências de ação só vigoram, pois são “infestadas” pelo tom sorrateiro de Black. Dito isso, a presença de Darian, filha de Joe, soa como um truque barato, o que é potencializado pela péssima interpretação de Danielle Harris. Damon Wayans tem uma boa química com Willis. Em suas cenas “solo”, suas limitações ficam nítidas. O desfecho é uma celebração aos finais felizes e, embora não faça muito sentido e soe apressado, funciona.

“The Last Boy Scout” é um divertido produto de sua época.

O que você achou deste conteúdo?

Média da classificação / 5. Número de votos:

Nenhum voto até agora. Seja o primeiro a avaliar!