Max Baron é um jovem bem sucedido, solitário e melancólico. Em sua bela e espaçosa casa, ele guarda porta-retratos de sua falecida esposa. O fantasma do amor está lá, atormentando-o a todo instante.
Max vai a uma despedida de solteiro. Seus amigos, igualmente bem sucedidos, perguntam sobre novas pretendentes, demonstrando uma preocupação artificial. Eles não estão interessados no estado emocional do protagonista, mas nas obrigações sociais que seguem cegamente. Os “amigos” citam nomes de mulheres solteiras, na esperança que Max caia na armadilha da conveniência; todavia, diferentemente de seus “semelhantes”, ele rejeita as convenções impostas por uma classe mesquinha e plastificada, respeitando as particularidades de seu coração.
Graças a situações bem estabelecidas pelo roteiro, Max se aproxima de Dora Baker, uma garçonete de meia idade. A atração é mútua. Max é um jovem educado, polido e travado; Dora é vulgar, extrovertida e sedutora. Sua roupa vermelha serve de prenúncio para o intenso relacionamento que eles estabelecerão. Dora, assim como o protagonista, perdeu alguém que amava: seu filho. Estamos falando de seres igualmente perdidos na escuridão; seres que precisam de atenção, cuidado e compaixão. A luxúria é o ponto de partida, mas é o entendimento de que algo importante bateu às suas portas que realmente os une. A trilha sonora, antes sofisticada e melancólica, investe numa felicidade quase ingênua. O romance invade a tela sem pedir permissão e o roteiro, adaptado do livro de mesmo nome, amarra bem o conflito central.
Max, por mais apaixonado que esteja, sente-se pressionado pelos amigos, que esperam que ele apareça com a garota apropriada para aquele círculo social específico – todos são judeus ricos. Essa preocupação existe mais na mente ansiosa do protagonista do que na realidade; entretanto, quando os diferentes universos finalmente colidem, percebemos que Max terá que escolher. Ele entrou em contato com seu lado mais verdadeiro e conheceu alguém que admira suas principais qualidades; do outro lado, estão pessoas se esforçando para manter uma imagem cristalina e que fazem questão que Max participe do jogo de máscaras. Na infância/adolescência, por instinto, queremos fazer parte de grupos, em busca de pertencimento. Na idade adulta, as coisas mudam: há de se reavaliar certas relações a fim de garantir a própria integridade e a sanidade mental. Não se trata de uma tarefa simples; afinal, nós, seres humanos, temos dificuldade em “dizer adeus”.
Dora é uma mulher de personalidade forte. Sua casa, suja e desarrumada, salienta seu caos cotidiano e a falta de perspectiva. Ela sabe que não pertence ao mesmo universo de Max, mas exige um compromisso com a verdade. A insegurança do protagonista em apresentar a namorada para os amigos não é decorrente de uma hipotética vergonha que sente de Dora, mas de um desconhecimento de si e de seus próprios valores. A questão da idade, apesar de ficar em segundo plano, não deixa de ser um outro elemento “complicador”. Max é um apreciador da simplicidade cotidiana. Para ele, dar aulas é muito mais excitante do que ser um executivo de publicidade. O filme termina numa nota que faz jus aos personagens e à breguice divertida comum ao início da década de 90.
O êxito de “White Palace” se deve inteiramente ao seu elenco. James Spader constrói um personagem magoado, que abraçou a solidão e que precisa ser abraçado por uma mulher “de verdade” para retornar à vida. A voz retraída, o olhar machucado e os gestos contidos são marcas de um homem que não está disposto a esquecer o passado e que foi corroído pela tristeza. Aos poucos, Max muda de postura – seu primeiro sorriso genuíno tem um impacto poderoso no espectador -, soltando-se na medida em que a felicidade se torna palpável. Spader, habituado a interpretar homens emocionalmente complexos, não abandona as características iniciais – educação e cordialidade continuam intactas; no entanto, agora, são contornadas por sentimentos que eram reprimidos.
Susan Sarandon é um poço de carisma e vitalidade. Dora confia em suas qualidades e, embora tenha “aderido” à simplicidade, não é uma mulher simples. Ela tem um ar de durona, mas é cheia de contradições e temores; não à toa, às vezes, exagera na bebida – é a sua forma de esconder ansiedades. Sua química com Spader vai além da atração sexual; ambos constroem seus personagens com a paixão necessária, fazendo com que o espectador admire o amor “redentor” que é construído.
“White Palace” é um belo e agradável filme.