“Party Girl” narra a trajetória de uma jovem que está disposta a amadurecer. Como o título diz, Mary é uma garota festeira, acostumada com a vida noturna nova-iorquina. Após maus bocados, ela decide provar seu valor trabalhando com Judy, sua madrinha, na biblioteca pública da cidade. Aos 24 anos, Mary percebe que as boates não preenchem seu vazio. Seus amigos, figuras pouco interessantes, marcam um cotidiano escapista. Nesse sentido, a presença de Mustafa, um imigrante libanês, é fundamental para reforçar seu desejo genuíno de mudar. No Líbano, Mustafa era professor, nos Estados Unidos, vende comida árabe numa barraquinha. Vale a pena trazer seus pais e irmãos? Mary entra em contato com a dura realidade de um homem socialmente desvalorizado e é exposta a pensamentos filosóficos – a cena em que ela fala sobre o mito de Sísifo para Leo é engraçadíssima.
A protagonista não quer ser como a mãe e Judy, a todo instante, faz questão de relembrar quão parecidas as duas são. Mary não nota o óbvio: se é capaz de atrair tanto a tribo da festa quanto Mustafa, é porque ela é uma jovem socialmente hábil e complexa. Aos poucos, ela se encanta pela profissão de bibliotecária e usa as “humilhações” intelectuais como combustível para progredir. Claro, o espírito noturno ainda está ali e seu arco é sobre balancear diferentes facetas, o que é salientado pela gradual mudança no figurino – roupas coloridas e sóbrias formam um armário abrangente. Não podemos julgar Judy por não confiar na afilhada, afinal, nem ela confia em si. “Porque não me conhece de verdade”, diz Mary para Mustafa, que, por incrível que pareça, talvez seja o único que a conheça em sua completude. Esse é o tempo do autoconhecimento e o roteiro não precisa ir longe para colocar empecilhos na jornada da protagonista – ela os constrói.
Após alguns equívocos, Mary tenta reconquistar Mustafa e, na sequência mais engraçada do filme, a montagem destaca sua determinação, pontuando diversas idas à barraquinha, nas quais faz o mesmo pedido. O desfecho encontra o equilíbrio perfeito entre a comédia e a realização pessoal, sendo coerente com o tom da obra. O roteiro, ao focar, por vezes, nos desinteressantes coadjuvantes, deixa o filme um pouco inchado. Há cenas que não influem na narrativa, o que interfere no ritmo. Na sua estreia, a diretora Daisy von Scherler Mayer, que, aparentemente, sumiu do mapa, confere uma intensidade que conversa com a personalidade de Mary. O Dolly Zoom e o quadro cada vez mais fechado, por exemplo, ressaltam sua inexperiência e falta de cultura. A direção de arte, os figurinos e a seleção musical carimbam o selo “indie” da produção, dão profundidade àquele universo e ditaram moda na década de 90. Não poderia deixar de citar a bela sacada do design de som, que, ao “confundir” a música da boate com as batidas do carimbo da biblioteca, nos insere na realidade de Mary.
Dito isso, o espetáculo é mesmo de Parker Posey, cujo carisma e energia elevam a obra em todos os sentidos. Ela parece ter nascido para este papel; sua presença em tela é realmente especial.
“Party Girl” é um agradável e inteligente produto de sua época.