“Mishima” foi um dos poucos filmes que me deixou sem palavras. Bem, primeiro gostaria de dizer que entrei completamente cego, não sabia quem era Yukio Mishima e demorei um pouco a compreender a lógica narrativa idealizada por Schrader. A montagem pode parecer desconexa, flutuando constantemente entre o presente, o passado e o fictício, mas não, ela é absolutamente impecável, combinando perfeitamente as linhas temporais e realizando cortes que, além de significativos, esbanjam sensibilidade.
“Mishima” é um filme essencialmente japonês, mesmo tendo sido dirigido por Paul Schrader e produzido por Francis Ford Coppola e George Lucas. Digo isso, não só pelos aspectos tradicionais e culturais, mas, principalmente, pelo tom poético e melancólico da obra. A fotografia diferencia os espaços, mostrando que, para Mishima, suas obras eram sua salvação, o que dava cor e sentido à sua vida. Ele surge primeiro ainda criança, morando na casa da avó, que o havia tirado dos braços de sua mãe, alegando debilidade e apelando para chantagens emocionais. Em determinada cena, os dois vão ao teatro. O protagonista fica encantado com a natureza camaleonica do palco e ressalta: “homens se transformam em mulheres”.